Solidariedade mecânica e orgânica

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação

O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) define como solidariedade o fator que garante a coesão social em um período específico. É o que faz os indivíduos sentirem-se parte de um grupo social.

Essa proposta é uma tentativa de responder às mudanças ocorridas na Europa, sobretudo, a partir da instauração do modo de produção capitalista.

Para ele, a solidariedade mecânica é fundamentada nas tradições, nos hábitos e na moral; características muito presentes em sociedades pré-capitalistas. Já a solidariedade orgânica é baseada na interdependência gerada pela especialização do trabalho no modo de produção capitalista.

Solidariedade mecânica Solidariedade orgânica
Objetivo Coesão social Coesão social
Sociedades Simples Complexas
Modo de produção Pré-capitalista Capitalista
Divisão do trabalho Rudimentar ou inexistente. As pessoas desenvolvem as mesmas tarefas. Complexa, as funções são especializadas, gerando uma interdependência entre as distintas tarefas e os indivíduos.
Indivíduos Independentes e semelhantes entre si. Diferentes entre si, mas interdependentes.
Fator de coesão social Força da tradição, das crenças e dos hábitos comuns. A divisão do trabalho social e a interdependência entre os diferentes sujeitos.

O que é solidariedade para Durkheim?

Em sua obra Da Divisão do Trabalho Social (1893), Durkheim afirma que a solidariedade é uma relação moral que faz com que os indivíduos se percebam como pertencentes a uma mesma sociedade.

São valores baseados nas tradições, nos costumes e na forma de atuação na sociedade que regem as ações e garantem que o mesmo modo de vida seja compartilhado por esses indivíduos, impedindo o caos social.

Dentre todos esses fatores, Durkheim concebe o trabalho como o principal gerador de solidariedade. O trabalho define o modo como os indivíduos atuam e se organizam socialmente, fator determinante para a coesão social.

O que é solidariedade mecânica?

Em um período pré-capitalista, a divisão social do trabalho era muito simples. Em geral, as pessoas cumpriam a mesma tarefa na produção (camponeses, artesãos, pequenos comerciantes, etc.).

Como as pessoas tendem a executar as mesmas tarefas, o trabalho de uma independe do trabalho de outra.

Assim, a coesão social é garantida pela tradição, pela moral e pelos costumes, que possuem uma grande força, capaz de unir os indivíduos.

Nessas sociedades, o direito é fundamentado na manutenção dos costumes para garantir que sejam respeitados e que a sociedade permaneça coesa em torno dessas tradições.

Desse modo, a solidariedade mecânica atua como um mecanismo baseado em crenças comuns, que possibilitam a vida em sociedade.

O que é a solidariedade orgânica?

Com a complexificação da sociedade, os indivíduos deixam de compartilhar as suas crenças, hábitos e tradições, necessitando que haja uma mudança também no modo de garantir a coesão social.

Com a transformação para o modo de produção capitalista, as tarefas se especializam cada vez mais. Cada indivíduo cumpre uma tarefa específica.

Durkheim afirma que essa especialização do trabalho possui também a característica de tornar as pessoas mais dependentes entre si. Já que a tarefa de um depende da execução da tarefa dos demais.

Assim, os indivíduos criam laços de interdependência, gerando um novo modo de solidariedade e garantindo coesão social - a solidariedade orgânica.

Nessa estrutura, o papel do direito também torna-se mais complexo e busca responder à criação de garantias e deveres aos quais os diferentes cidadãos possam compartilhar.

Desse modo, a solidariedade orgânica se dá a partir da compreensão da sociedade como um corpo no qual o bom funcionamento necessita de que os diferentes órgãos cumpram suas funções de forma interligada e interdependente.

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Referências Bibliográficas

Durkheim, Emilé. "Durkheim: sociologia." São Paulo: Ática (2003)

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).