Alphonsus de Guimaraens

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) foi um dos mais emblemáticos escritores do movimento simbolista no Brasil.

Esse movimento literário teve início com a publicação da obra Missal e Broquéis de Cruz de Souza em 1893 e durou até o início do pré-modernismo em 1910.

Biografia

Alphonsus de Guimaraens

Afonso Henrique da Costa Guimarães nasceu em 24 de julho de 1870, na cidade mineira de Ouro Preto. Filho de um comerciante português e uma brasileira, realizou os estudos primários e secundários em sua cidade natal.

Estudou Direito em São Paulo e terminou o curso em Minas Gerais. Durante sua vida acadêmica ele já escrevia para diversos jornais. Como advogado, Guimaraens trabalhou como promotor e juiz em Minas Gerais.

Um evento muito doloroso para o escritor foi quando Constança, sua noiva e prima, morre precocemente aos 17 anos. Na época, ele tinha 18 anos e esse fato tornou-se predominante na sua poesia que esteve repleta de melancolia.

Após o evento, Alphonsus se entrega à vida boêmia. Apesar disso, casou-se com Zenaide de Oliveira em 1897 e com ela teve 14 filhos.

Dois deles seguiram os passos do pai e se tornaram escritores: João Alphonsus (1901-1944) e Alphonsus de Guimaraens Filho (1918-2008)

Em 1899 publica seu primeiro livro de poesia: Dona Mística. Numa de suas viagens, conheceu Cruz e Souza no Rio de Janeiro, o precursor do movimento simbolista no Brasil.

Faleceu em 15 de julho de 1921, na cidade de Mariana, Minas Gerais.

Curiosidades

  • O nome "Alphonsus Guimaraens" é um pseudônimo escolhido pelo poeta.
  • Ele também era conhecido como o “Solitário de Mariana”.
  • O poeta era sobrinho do escritor Bernardo de Guimarães (1825-1884), pai de Constança.

Principais obras e características

A obra de Alphonsus de Guimaraens apresenta marcas como o misticismo, a espiritualidade e a religiosidade católica. A escolha dos temas como a morte, a dor e o sofrimento advém de sua própria história. Isso porque após a morte precoce de sua prima Constança, ele usa a escrita como forma de expressar seus sentimentos e angústias.

Ainda que tenha explorado a prosa, foi na poesia que Alphonsus teve maior destaque. De sua obra poética destacam-se:

  • Setenário das dores de Nossa Senhora (1899)
  • Dona Mística (1899)
  • Cãmara Ardente (1899)
  • Kyriale (1902)
  • Pauvre Lyre (1921)

Obras póstumas:

  • Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923)
  • Poesia (1938)

Poemas

Para compreender melhor a linguagem e os temas da poesia de Alphonsus de Guimaraens, confira abaixo três exemplos:

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava longe do céu...
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar. . .
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma, subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

Ai Dos Que Vivem, Se Não Fora O Sono

Ai dos que vivem, se não fora o sono!
O sol, brilhando em pleno espaço, cai
Em cascatas de luz; desce do trono
E beija a terra inquieta, como um pai.

E surge a primavera. O áureo patrono
Da terra é sempre o mesmo sol. Mas ai
Da primavera, se não fora o outono,
Que vem e vai, e volta, e outra vez vai.

Ao níveo luar que vaga nos outeiros
Sucedem sombras. Sempre a lua tem
A escuridão dos sonhos agoureiros.

Tudo vem, tudo vai, do mundo é a sorte...
Só a vida, que se esvai, não mais nos vem.
Mas ai da vida, se não fora a morte!

A Passiflora

A Passiflora, flor da Paixão de Jesus,
Conserva em si, piedosa, os divinos Tormentos:
Tem cores roxas, tons magoados e sangrentos
Das Chagas Santas, onde o sangue é como luz.

Quantas mãos a colhê-la, e quantos seios nus
Vêm, suaves, aninhá-la em queixas e lamentos!
Ao tristonho clarão dos poentes sonolentos,
Sangram dentro da flor os emblemas da Cruz...

Nas noites brancas, quando a lua é toda círios,
O seu cálice é como entristecido altar
Onde se adora a dor dos eternos Martírios...

Dizem que então Jesus, como em tempos de outrora,
Entre as pétalas pousa, inundado de luar...
Ah! Senhor, a minha alma é como a passiflora!

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Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.