Atividades de interpretação de texto para 8º ano

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora de Língua Portuguesa e Literatura

Confira as atividades de interpretação de crônica, campanha publicitária, poema e artigo de opinião elaboradas para alunos do 8º ano.

1. Atividade de interpretação de texto de crônica

Leia o texto e resposta às questões de interpretação.

Conversinha Mineira, de Fernando Sabino

— É bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo?
— Sei dizer não senhor: não tomo café.
— Você é dono do café, não sabe dizer?
— Ninguém tem reclamado dele não senhor.
— Então me dá café com leite, pão e manteiga.
— Café com leite só se for sem leite.
— Não tem leite?
— Hoje, não senhor.
— Por que hoje não?
— Porque hoje o leiteiro não veio.
— Ontem ele veio?
— Ontem não.
— Quando é que ele vem?
— Tem dia certo não senhor. Às vezes vem, às vezes não vem. Só que no dia que devia vir em geral não vem.
— Mas ali fora está escrito “Leiteria”!
— Ah, isso está, sim senhor.
— Quando é que tem leite?
— Quando o leiteiro vem.
— Tem ali um sujeito comendo coalhada. É feita de quê?
— O quê: coalhada? Então o senhor não sabe de que é feita a coalhada?
— Está bem, você ganhou. Me traz um café com leite sem leite. Escuta uma coisa: como é que vai indo a política aqui na sua cidade?
— Sei dizer não senhor: eu não sou daqui.
— E há quanto tempo o senhor mora aqui?
— Vai para uns quinze anos. Isto é, não posso agarantir com certeza: um pouco mais, um pouco menos.
— Já dava para saber como vai indo a situação, não acha?
— Ah, o senhor fala da situação? Dizem que vai bem.
— Para que Partido? — Para todos os Partidos, parece.
— Eu gostaria de saber quem é que vai ganhar a eleição aqui.
— Eu também gostaria. Uns falam que é um, outros falam que outro. Nessa mexida...
— E o Prefeito?
— Que é que tem o Prefeito?
— Que tal o Prefeito daqui?
— O Prefeito? É tal e qual eles falam dele.
— Que é que falam dele?
— Dele? Uai, esse trem todo que falam de tudo quanto é Prefeito.
— Você, certamente, já tem candidato.
— Quem, eu? Estou esperando as plataformas.
— Mas tem ali o retrato de um candidato dependurado na parede, que história é essa?
— Aonde, ali? Uê, gente: penduraram isso aí…

(SABINO. Fernando. A mulher do vizinho. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962.)

Questão 1. O gênero textual do texto acima é

a) fábula

b) entrevista

c) crônica

Questão 2. De acordo com o texto, por que o café com leite só pode ser servido sem leite?

a) Porque servidos juntos, o café e o leite fazem mal.

b) Porque a leiteira está sem leite.

c) Porque hoje não é dia do leiteiro entregar leite.

Questão 3. A que se refere a palavra “dele” em “Ninguém tem reclamado dele não senhor.”?

a) Ao amigo do senhor.

b) Ao dono do café.

c) Ao café.

Questão 4. Em "Tem dia certo não senhor. Às vezes vem, às vezes não vem. Só que no dia que devia vir em geral não vem.", as locuções adverbiais em negrito indicam a circunstância de

a) tempo

b) dúvida

c) modo

Questão 5. O texto usa humor para criticar algo. O quê?

O texto é uma crítica ao desinteresse e à acomodação. O dono do café parece indiferente a tudo o que o rodeia, porque não se interessa pelo se próprio negócio (o sabor do seu café, a falta de leite), bem como não se interessa pela situação política do local onde vive já há cerca de 15 anos.

2. Atividade de interpretação de texto de campanha publicitária

Leia a campanha de centenário da ABI - Associação Brasileira de Imprensa e resposta às questões de interpretação de texto.

A Vírgula

A vírgula pode ser uma pausa… ou não.
Não, espere.
Não espere.
Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.
Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.
Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.
E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.
Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.
A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.
Uma vírgula muda tudo!

(Campanha de Centenário da ABI inspira cordelista. ABI - Associação Brasileira de Imprensa, © 2013. Disponível em: http://www.abi.org.br/poeta-cria-cordel-inspirado-na-campanha-de-cem-anos-da-abi/. Acesso em: 22 mar. 2023.)

Questão 1. Retire do texto duas frases que têm significados diferentes por causa das vírgulas. Explique as suas diferenças.

Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.

Na primeira frase, “juiz” é um vocativo. A palavra está entre vírgula e indica a pessoa com quem estamos falando. Na segunda frase, a ausência de vírgulas muda o seu significado, porque está sendo afirmado que o juiz sobre quem se fala é corrupto.

Questão 2. De acordo com o texto, como a vírgula pode ser utilizada para sumir com o seu dinheiro?

23,4 indica que você tem vinte e três reais e quarenta centavos. Mas, 2,34 indica que você tem dois reais e trinta e quatro centavos.

Questão 3. Qual a mensagem principal do texto A Vírgula?

O texto A Vírgula tem como objetivo mostrar a importância da vírgula na comunicação que fazemos, porque o seu uso incorreto pode transmitir uma mensagem diferente da que queremos transmitir.

3. Atividade de interpretação de texto de poema

Leia o poema e resposta às questões de interpretação de texto.

Seiscentos e Sessenta e Seis, de Mario Quintana

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

(QUINTANA, Mario. Nova Antologia Poética. 9. ed. São Paulo: Globo, 2003.)

Questão 1. Qual a mensagem principal do poema Seiscentos e Sessenta e Seis, de Mario Quintana?

a) Precisamos aproveitar a nossa vida, porque ela passa depressa.

b) Precisamos ser pontuais, porque caso contrário, perdemos grandes oportunidades.

c) Precisamos viver menos presos ao relógio e ao calendário.

Questão 2. Qual o sentimento transmitido pelo poeta em relação ao tempo?

a) Indiferença

b) Angústia

c) Arrependimento

Questão 3. Que relação você faz deste poema com a sua vida?

4. Atividade de interpretação de texto de artigo de opinião

Leia o trecho do artigo de opinião e responda às questões de interpretação de texto.

Quinto dos Infernos

Está terminando a minissérie "O Quinto dos Infernos", chanchada de TV que retrata as origens do Brasil independente por um prisma supostamente engraçado. Houve protestos, aqui e em Portugal, quanto à forma desairosa pela qual os personagens da Casa de Bragança são pintados, a meio caminho entre a imbecilidade e a devassidão.

A minissérie não é "desrespeitosa"; mesmo no gênero picaresco, ela é apenas e incrivelmente ruim. Criadores de entretenimento são livres para fantasiar sobre fatos históricos e até torcê-los na direção de seus propósitos, que não são, ainda mais neste caso, educar jovens ou ilustrar adultos, mas tão-somente tentar diverti-los.

(...)

É uma maneira fácil e cômoda de explicar nosso atraso. Ela acaba invertendo o pressuposto da história crítica, que era o de localizar as estruturas responsáveis pela desigualdade e pelo subdesenvolvimento, substituindo-as por uma versão "pessoal": o d. João 6º devorador de frangos, a mulher pérfida, o filho irresponsável e leviano etc.

Veja o caso de d. João. Evitou que sua capital caísse nas mãos do invasor; abriu caminho para a criação de um "commonwealth" entre Portugal e Brasil, cujo território levou até o rio da Prata; negociou o quanto pôde com os ingleses e, quando a estes passou a convir a independência, manteve o comando do novo país na Casa de Bragança.

Esse é o homem que nossa filmografia "crítica" - na verdade sentimental, demagógica e comodista - descreve como imbecil. Não se trata de recuperar uma história oficial de grandes glórias e feitos que não houve. Mas de separar as estruturas impessoais que geraram uma nação como esta das fantasias de roteiristas simplórios.

Num país em que a população tivesse acesso a mais recursos de informação, cultura e lazer, "O Quinto dos Infernos" nem seria assunto. Mas aqui a minissérie substitui museus, escola, livros, ópera etc., impondo uma visão que é injusta não para com os Bragança, que o diabo os carregue, mas para com a nossa história mesma.

(FRIAS FILHO, Otavio. Quinto dos Infernos. Folha de São Paulo, 28 mar. 2002. Opinião. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2803200207.htm. Acesso em: 22 mar. 2023.)

Questão 1. Qual a opinião do autor em relação à minissérie "O Quinto dos Infernos"?

a) Tem o propósito de ensinar o que os livros de história não ensinam.

b) Tem o propósito apenas de divertir o público, sem respeitar a história.

c) Tem o propósito de alargar a oferta cultural da população brasileira.

Questão 2. Em "quanto à forma desairosa pela qual os personagens da Casa de Bragança são pintados", a palavra "desairosa" pode ser substituída por

a) bela

b) meticulosa

c) deselegante

Questão 3. De acordo com o texto, quem homem foi descrito na minissérie como um imbecil?

a) d. João

b) o criador da minissérie

c) o filho de d. João

Questão 4. Segundo o autor, qual o problema de a minissérie substituir museus, escola, livros, ópera?

O problema está, principalmente, na falta de qualidade da minissérie, porque ela impõe uma visão distorcida das personalidades históricas e, também, da nossa história.

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Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).