Classe Social: entenda o que é, quais os tipos e a realidade no Brasil

Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Professora de Filosofia e Sociologia

A classe social é um conceito fundamental na sociologia e permite entender como as pessoas se organizam e se dividem numa sociedade. Quando falamos de classe social, estamos falando de como as pessoas são agrupadas com base em certos critérios que envolvem dinheiro, poder e cultura.

Esses grupos são diferenciados, principalmente, pela sua relação com os meios de produção (propriedade, trabalho e capital) e pelas suas condições econômicas (renda e riqueza).

Contudo, outra forma possível de se pensar essa diferenciação é em vista da visão de mundo compartilhada por certos grupos, ou daquilo que é consumido culturalmente por eles. Arte, literatura, música, comida, esportes ou vestuários entram nessa forma e acabam definindo um estilo de vida.

Assim sendo, tanto da perspectiva econômica quanto da perspectiva sociocultural, a divisão de classes sociais não deixa de refletir a dinâmica da desigualdade social, pois os critérios de seu agrupamento também apontam para aquilo que os indivíduos de cada grupo têm acesso.

Com o fim do sistema feudal - estratificado entre nobreza, clero e servos -, houve o surgimento da classe burguesa e a ascensão do sistema capitalista (propriedade privada e dos meios de produção). Com isso, a noção de grupos sociais, com as características que os identificam e que os distingue dos demais, foi se modificando e dando espaço à discussão que se tem sobre as classes sociais.

O que é a Teoria de Classes

A concepção sobre Classe Social, tal qual a conhecemos hoje, surgiu a partir dos estudos dos teóricos alemães Karl Marx e Friedrich Engels.

Segundo o Marxismo, o antagonismo entre dois grupos determina a relação entre as classes sociais ao longo da história. No modo de produção capitalista, define-se entre os detentores dos meios de produção (burguesia) e os trabalhadores que fornecem sua força de trabalho (proletariado).

Dessa forma, a luta de classes dentro de uma sociedade capitalista, é determinada por estes dois grupos, porque possuem interesses antagônicos.

Para os teóricos, essa luta de classes teria fim quando não houvesse grupos de opressores e oprimidos. Isto somente seria possível quando o proletariado chegasse ao poder e formasse um Estado socialista que extinguiria a propriedade privada.

Assim, superados os problemas gerados pelo sistema capitalista, seria possível a transformação dos indivíduos e a modificação em suas formas de sociabilidade, transformação essa que possibilitaria a fundação de uma sociedade comunista.

Perspectivas teóricas sobre Classe Social

Karl Marx:

Karl Marx é um dos principais teóricos da classe social. Segundo Marx, as classes sociais são pensadas pela sua relação com os meios de produção. Na sociedade capitalista, duas classes se destacam:

  • Burguesia: proprietários dos meios de produção, como fábricas e terras. Eles controlam o capital e, consequentemente, o poder econômico e político.
  • Proletariado: trabalhadores que vendem sua força de trabalho em troca de um salário. Eles não possuem os meios de produção e dependem do trabalho para sobreviver.

Para Marx, a luta entre duas classes antagônicas — opressores e oprimidos — é o motor da história e das mudanças sociais. Assim, ele acreditava que a luta entre burguesia e proletariado levaria eventualmente à derrubada do sistema capitalista e à ascensão de uma sociedade sem classes.

Max Weber:

Max Weber ofereceu uma visão mais complexa para aquilo que entendemos pelo nome de classes sociais. Argumenta que as divisões sociais não são definidas apenas pela propriedade dos meios de produção, mas também por outros fatores, como:

  • Posição econômica: inclui a renda, a riqueza e a capacidade de consumo.
  • Status social: refere-se ao prestígio ou à honra social que uma pessoa ou grupo possui, muitas vezes relacionado à ocupação, educação e estilo de vida.
  • Poder: a capacidade de influenciar ou controlar os outros, o que pode derivar da riqueza, mas também de outros fatores como carisma ou posição burocrática.

Weber, portanto, vê as classes sociais como parte de uma estrutura mais ampla de estratificação social, que inclui também o status e o poder. Em outras palavras, a ideia de classe social está ligada diretamente com o fator econômico, em sua teoria.

Pierre Bourdieu:

Pierre Bourdieu introduziu o conceito de capital cultural e capital social para explicar como as classes sociais mantêm e reproduzem seu status. Para Bourdieu, além do capital econômico, o conhecimento, a educação, as habilidades culturais e as redes de relacionamentos também são formas de capital que podem determinar a posição de uma pessoa na estrutura social.

Diferenças entre classe social e estrato social

É comum confundir os termos "classe social" e "estrato social", mas eles têm significados diferentes e complementares.

Influenciado pelo pensamento de Weber, o conceito de classe social é aplicado, convencionalmente, como sendo um conceito mais específico, focado principalmente nas diferenças econômicas e na relação das pessoas com os meios de produção.

Ou seja, quando falamos de classe social, estamos geralmente nos referindo à posição de uma pessoa ou grupo em termos de riqueza, poder econômico e papel no sistema produtivo (sua função na sociedade).

No aspecto teórico, a ideia de classes sociais aponta para os próprios grupos e suas separações, num caráter comparativo de suas características e condições.

Já o estrato social é um conceito mais amplo. Ele inclui, além dos aspectos econômicos, outros fatores como educação, prestígio, ocupação, e até o estilo de vida.

Ele tem um caráter explicativo, pois aponta para o que ocasiona a divisão social. Ao mesmo tempo, tem um caráter sistematizador, pois não só se vale de critérios para elaborar a classificação de indivíduos em sua posição social, como aponta para a hierarquização dos grupos (sistema de desigualdade).

Enquanto a classe social está muito ligada à economia, o estrato social abrange uma gama maior de fatores que determinam o lugar de uma pessoa na hierarquia social. Por exemplo, uma pessoa pode ter alta escolaridade (um fator de estrato social), mas não necessariamente pertencer à classe social mais alta, se não tiver grande riqueza ou poder econômico.

Classes sociais no Brasil

No Brasil, a classificação das classes sociais é comumente baseada na renda familiar e outros critérios que permitem traçar o perfil socioeconômico do brasileiro.

Entre esses outros critérios, estão: a composição familiar; nível de escolaridade; bens adquiridos ou poder de compra.

A partir disso, as pessoas são agrupadas em três categorias principais: classe alta, classe média e classe baixa. Dentro dessas categorias, existem subgrupos que detalham ainda mais as diferenças entre as classes.

Critério da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep)

Um dos sistemas mais utilizados no Brasil é o critério de classificação econômica da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep). Esse critério define as classes sociais, que passam a ser identificadas por letras:

  • Classe A: representa a elite econômica do país, com maior poder aquisitivo e qualidade de vida. Essas pessoas geralmente têm acesso a bens de luxo, serviços exclusivos e altas posições de prestígio social.
  • Classe B: subdividida em B1 e B2, é composta por pessoas com bom poder aquisitivo, que conseguem manter um padrão de vida confortável, com acesso a bens e serviços de qualidade, mas não de luxo. Representa uma parte significativa da classe média alta.
  • Classe C: subdividida em C1 e C2, representa a classe média. Essas pessoas têm um padrão de vida razoável, mas precisam fazer escolhas financeiras cuidadosas. A classe C é muito diversificada e inclui tanto trabalhadores formais quanto pequenos empresários.
  • Classe D: inclui pessoas com menor poder aquisitivo, que vivem com mais limitações financeiras e menor acesso a bens e serviços. Muitas vezes, a classe D é composta por trabalhadores informais ou com baixa escolaridade.
  • Classe E: representa a população de menor renda, que enfrenta grandes desafios para atender às necessidades básicas, como alimentação, moradia e saúde. Muitas vezes, a classe E inclui pessoas que dependem de programas sociais do governo para sobreviver.

A partir dessa classificação, é possível estabelecer uma estimativa que relaciona as classes sociais, a renda média domiciliar mensal e os salários mínimos. Assim, segundo os dados fornecidos pela Abep, em 2024, temos o seguinte:

  • Classe A: famílias que ganham acima de 20 salários mínimos mensais. Sua renda média é de R$ 26.811,68. Esse grupo representa a elite econômica, com um padrão de vida elevado e acesso irrestrito a bens e serviços de alta qualidade.
  • Classe B: famílias com renda mensal por volta de 5 a 9 salários mínimos. O grupo B1 recebe uma média de R$ 12.683,34, enquanto o B2, R$ 7.017,64. Esse grupo também tem um bom poder aquisitivo, mas sem o mesmo luxo e exclusividade da classe A.
  • Classe C: famílias que recebem acima de 1,5 até aproximadamente 3 salários mínimos mensais. Enquanto C1 recebe por volta de R$ 3.980,38, C2 recebe R$ 2.403,04. A classe C, também conhecida como classe média, representa uma parcela expressiva da população brasileira, com acesso moderado a bens e serviços, mas com limitações.
  • Classe D: famílias com renda de até 1 salário mínimo. Segundo Abep, a estimativa é de que sua renda média, assim como da classe E, seja de R$ 1.087,77. A classe D inclui pessoas que precisam administrar cuidadosamente seus recursos para cobrir suas necessidades básicas e enfrentar desafios econômicos frequentes.
  • Classe E: famílias cujos ganhos não chegam a 1salário mínimo por mês. Essa classe enfrenta as maiores dificuldades econômicas, com muitas famílias vivendo em condições de pobreza.

Leia também:

Karl Marx Ver no YouTube

Referências Bibliográficas

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS E PESQUISA (ABEP). Critério de Classificação Econômica Brasil. São Paulo: Abep, 2024. Publicação de 27 de Jun. 2024.

BOBBIO, N. “Classes” In BOBBIO, N. Dicionário de Política. 11ª Ed., v. 1. Tradução de Carmen C. Varrieale et al. Brasília : Editora Universidade de Brasília, 1998.

BONAPARTE, L. “Estratificação Social” In BOBBIO, N. Dicionário de Política. 11ª Ed., v. 1. Tradução de Carmen C. Varrieale et al. Brasília : Editora Universidade de Brasília, 1998.
GIDDENS, A. Sociologia. 6ª Ed. Tradução de Alexandra Figueiredo et al. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.

INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADA (IPEA). Texto para Discussão: Tipologias de Estrutura de Classe no Brasil - discussão teórica, proposta metodológica e implicações para as políticas públicas. Brasília: Ipea, 2020. Publicação de Set. 2020.

JOHNSON, A. G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Tradução de Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

RILEY, D. “A Teoria das Classes de Pierre Bourdieu”. Estudo sociológico. Araraquara: v.24, n.46, jan.-jun. 2019, pp.181-210.

SILVA, M. C. Classes Sociais: condições objectivas, identidade e acção colectiva. Ribeirão: Edições Húmus, 2009.

Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Bacharela e Licenciada em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (2014), com Mestrado em História da Filosofia pela mesma universidade (2017). Atua como professora na rede privada de ensino, ministrando aulas ligadas às áreas de Filosofia e de Sociologia.