Congada
Congada, congado ou congo, é uma expressão cultural e religiosa que envolve o canto, dança, teatro e espiritualidades cristã e de matriz africana.
Nesta festa, se louva Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia, lembrando da proteção que esses santos deram aos escravos negros. Em algumas congadas, se recorda a figura de Chico Rei e da luta entre cristãos e mouros.
A congada é celebrada de norte a sul do Brasil. Não há um dia fixo, mas os meses de maio e outubro consagrados a Nossa Senhora, costumam ser escolhidos para a festa. Em algumas partes do Brasil, a congada é celebrada em dezembro.
Origem da Congada
A congada é mistura das festas trazidas pelos negros escravizados com a religiosidade cristã praticada na colônia.
No entanto, suas origens remontam à própria África, quando os súditos faziam o Cortejo aos Reis Congos, a fim de agradecer os seus governantes.
Ao chegar à colônia, os negros se reconheceram imediatamente com santos negros como são Benedito, o Africano, santa Efigênia, uma princesa etíope, e Nossa Senhora do Rosário.
Todos esses santos foram identificados com os ancestrais africanos e eram homenageados com cultos e igrejas construídas com o trabalho e o dinheiro de alforriados e escravizados.
Outra figura saudada na festa é a da princesa Isabel, por seu papel na libertação dos escravos. Cruza-se a tradição de uma figura da monarquia africana com a brasileira.
Destacamos duas lendas que explicam a origem da congada: a vida de Chico Rei e a aparição de Nossa Senhora no mar.
História de Chico Rei
Diz a lenda que Galanga, nome verdadeiro de Chico Rei, era o monarca de sua tribo no Congo, e foi capturado com toda sua gente. Batizado, recebeu o nome de Francisco e durante a travessia para a colônia da América Portuguesa, o Brasil, houve uma grande tempestade.
Os marinheiros, com medo que o navio virasse, jogaram ao mar a esposa e a filha de Chico, para que as águas se acalmassem.
Quando chegaram aqui, em 1740, Chico e seu filho foram comprados e levados para a região das minas, a Vila Rica, atual Ouro Preto. Desta maneira, Chico se põe trabalhar dia após dia e reúne uma grande quantidade de metal, o suficiente para comprar sua alforria, a do filho e a de mais de 200 escravos.
Os escravos que foram libertos por ele passaram a tratá-lo como rei, ao mesmo tempo que se levantava a igreja de Santa Efigênia.
Todos os anos, antes da missa dedicada a Nossa Senhora do Rosário, no dia 7 de outubro, acontecia o cortejo onde se cantava, dançava e se honrava Chico Rei.
Embora esta lenda não tenha nenhuma evidência histórica, o conto faz parte das tradições orais de Minas Gerais e sobreviveu ao longo do tempo entre os congadeiros.
Aparição de Nossa Senhora
Outra lenda que faz parte da fundação mística da congada é a aparição de uma imagem de Nossa Senhora no mar.
Conta-se que vários grupos foram tentar buscá-la, cantando e dançando. A santa se aproximava, mas nunca se movia muito.
O último grupo a tentar foi justamente os de Moçambique, que eram escravos e traziam cadeias aos tornozelos. Com seus lamentos, conseguem trazer a imagem para a costa e desde então, Moçambiques e Congadeiros tornaram-se os guardiões da imagem da Virgem do Rosário.
Enredo da Congada
Basicamente, a congada conta a história do embaixador de Angola que, em nome da Rainha Ginga, visita o Rei do Congo num dia de festa e quase causa uma guerra. Há luta, mas os cristãos vencem.
Igualmente, um casal de escravos costumava ser coroado para serem os "reis" da festa e o som de batuques na igreja era tolerado pelas autoridades católicas.
Personagens da Congada
Uma congada pode ter de 50 a 200 ou mais participantes divididos em cinquenta personagens.
Os grupos são repartidos em dois: a Congada de Cima e a Congada de Baixo. Na Congada de Cima temos Rei, Rainha, Príncipes, Cacique, Fidalgos ou Vassalos e crianças que são chamadas de "conguinhos".
Na Congada de Baixo temos o Embaixador e o Secretário, o cortejo e os guerreiros.
A festa do congo está longe de ser algo uniforme, pois cada região foi acrescentando suas tradições e vivências.
Dança da Congada
A dança representa a coroação do rei do Congo, acompanhado de um cortejo denominado terno ou guarda. Para cada terno existe um líder, o "capitão".
Igualmente, as lutas entre os mouros e cristãos, ou pagãos e batizados são apresentadas em forma de coreografias. Estes, ficam perfilados de frente e “combatem” entre si com varas, com seus golpes marcam o compasso da música e da festa.
Abaixo um exemplo deste "combate" realizado durante a congada de são Benedito, em Motor Cunha/SP:
Instrumentos Musicais da Congada
Os instrumentos musicais utilizados são a cuíca, a caixa, o pandeiro, o reco-reco, o cavaquinho, a viola, o violão, o tarol, o tamborim, o ganzá, a sanfona, rabeca (ou o violino) ou acordeom.
Esses instrumentos acompanham o canto que é entoado com letras em português, mas também com palavras do idioma banto.
Na melhor tradição oral, o canto é puxado por uma pessoa e a multidão acompanha o refrão. As letras falam do sofrimento da escravidão, dos lamentos de um povo arrancado de sua terra.
Contudo, através da invocação dos santos e das forças do alto, são também cantos de esperança, redenção e na espera de uma vida melhor.
Figurinos e Adereços da Congada
As roupas são muito importantes na congada porque representam a hierarquia e os personagens nas festas.
Camisas, capas, chapéus, espadas e lenços fazem parte dos trajes que devem ser feitos de tecidos confortáveis para não inibir os movimentos.
Além disso, há uma série de fitas e bandeiras coloridas que trazem a imagem dos santos e identificam os diferentes grupos do cortejo.
As joias e as coroas dos reis são enormes, mostrando a opulência dos soberanos africanos.
Congadas no Brasil
Vários estados do Brasil celebram congadas. Vejamos alguns exemplos abaixo:
Nome | Local |
---|---|
Congada de Catalão | Catalão/GO |
Congado Reinado de Nossa Senhora e Santa Efigênia | Ouro Preto/MG |
Maçambique de Osório | Osório/RS |
Congada da Lapa | Lapa/PR |
Congada da Serra do Salitre | Serra do Salitre/MG |
Festa da Congada em Uberlândia | Uberlândia/MG |
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BEZERRA, Juliana. Congada. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/congada/. Acesso em: