Esporte-espetáculo: o que é e quais são as suas características (com exercícios)

Maurício Facchini
Maurício Facchini
Professor de Educação Física

Esporte-espetáculo é o esporte orientado para o entretenimento de massas e que é fortemente influenciado por interesses comerciais. Ele reflete uma transformação do esporte em um produto de consumo, uma vez que é moldado para cativar a audiência e atrair investimentos de grandes marcas.

Essa transformação dos eventos esportivos em espetáculos de grande apelo visual e emocional pode implicar mudanças profundas na estrutura e no propósito do esporte. Tais questões têm sido questionadas pela pedagogia do esporte, visto que o esporte-espetáculo pode levar as crianças e jovens a verem o esporte como algo idealizado.

No esporte-espetáculo, os valores educacionais e recreativos do esporte podem ser desvalorizados, já que os atletas apresentam performances excepcionais em níveis de alto rendimento competitivo. Consequentemente, muitos desses atletas tornam-se também celebridades, onde seus corpos e rostos são usados para promover diversas marcas. Dessa forma, atletas de alto rendimento atingem níveis que poucas pessoas conseguem alcançar, tornando-se um ideal inalcançável para a maioria das crianças e jovens que os assistem.

A espetacularização do esporte teve início nas modalidades de lutas de boxe e corridas, quando as pessoas que assistiam a esses eventos faziam apostas. Na década de 60, os mesmos passaram a ser transmitidos pela televisão, dando-lhes mais visibilidade, ao mesmo tempo em que entusiasmaram mais o público. Nos anos 80, com o surgimento de canais de televisão especializados em conteúdos esportivos, o esporte passou a ser explorado como um espetáculo.

Características do esporte-espetáculo

  • esporte orientado para o entretenimento de massas e fortemente influenciado por interesses comerciais;
  • competições de alto nível, organizadas por ligas e federações;
  • atletas dedicam-se a um treinamento rigoroso para buscar excelência em suas modalidades e para satisfazer o público, mostrando suas proezas;
  • os eventos esportivos são tratados como um produto de consumo;
  • financeiramente viável, em parte, por grandes investimentos de patrocinadores;
  • caráter seletivo e competitivo de atletas, que alcançam status de celebridades e têm o esporte como ocupação principal.

O esporte-espetáculo é caracterizado por competições de alto nível, organizadas por ligas e federações. Nessas competições, os atletas dedicam-se a um treinamento rigoroso, que visa não apenas a excelência em suas modalidades, mas também a satisfação de um público em busca de emoção e proezas atléticas.

Esse modelo de esporte está intimamente ligado a um sistema mercantil, onde o evento esportivo é tratado como um produto de consumo. A viabilização financeira do esporte-espetáculo ocorre, em parte, pela comercialização de seus eventos, que atraem canais de comunicação dispostos a pagar pela transmissão desses espetáculos. Além disso, grandes investimentos de patrocinadores possibilitam o financiamento de sua estrutura.

Apenas um pequeno grupo de atletas consegue viver exclusivamente da prática esportiva, o que evidencia o caráter seletivo e competitivo do esporte-espetáculo, onde poucos alcançam o status de celebridades e têm o esporte como ocupação principal.

Exemplos de esporte-espetáculo

O futebol é um exemplo de esporte-espetáculo, com competições como a Liga dos Campeões da UEFA e a Copa do Mundo. Esses eventos mobilizam milhões de pessoas em torno do mundo e envolvem grandes investimentos em publicidade e direitos de transmissão.

O basquete é outro exemplo, que com a NBA (liga de basquete americana) também segue um modelo de espetáculo em grande escala.

Questões sobre esporte-espetáculo que caíram no Enem

Questão 1 (Enem 2019)

Mídias: aliadas ou inimigas da educação física escolar?

No caso do esporte, a mediação efetuada pela câmera de TV construiu uma nova modalidade de consumo: o esporte telespetáculo, realidade textual relativamente autônoma face à prática “real” do esporte, construída pela codificação e mediação dos eventos esportivos efetuados pelo enquadramento, edição das imagens e comentários, interpretando para o espectador o que ele está vendo. Esse fenômeno tende a valorizar a forma em relação ao conteúdo, e para tal faz uso privilegiado da linguagem audiovisual com ênfase na imagem cujas possibilidades são levadas cada vez mais adiante, em decorrência dos avanços tecnológicos. Por outro lado, a narração esportiva propõe uma concepção hegemônica de esporte: esporte é esforço máximo, busca da vitória, dinheiro... O preço que se paga por sua espetacularização é a fragmentação do fenômeno esportivo. A experiência global do ser-atleta é modificada: a sociabilização no confronto e a ludicidade não são vivências privilegiadas no enfoque das mídias, mas as eventuais manifestações de violência, em partidas de futebol, por exemplo, são exibidas e reexibidas em todo o mundo.

BETTI, M. Motriz, n. 2, jul.-dez. 2001 (adaptado).

A reflexão trazida pelo texto, que aborda o esporte telespetáculo, está fundamentada na

a) distorção da experiência do ser-atleta para os espectadores.

b) interpretação dos espectadores sobre o conteúdo transmitido.

c) utilização de equipamentos audiovisuais de última geração.

d) valorização de uma visão ampliada do esporte.

e) equiparação entre a forma e o conteúdo.

Gabarito explicado

Alternativa certa: a) distorção da experiência do ser-atleta para os espectadores.

A alternativa a) reflete a ideia de que, ao transformar o esporte em espetáculo, a mídia distorce a experiência do "ser-atleta", priorizando a forma (imagens atraentes, narrativa focada em vitória e dinheiro) sobre o conteúdo (a experiência plena e lúdica do esporte).

Questão 2 (Enem 2018)

A história do futebol é uma triste viagem do prazer ao dever. [...] O jogo se transformou em espetáculo, com poucos protagonistas e muitos espectadores, futebol para olhar, e o espetáculo se transformou num dos negócios mais lucrativos do mundo, que não é organizado para ser jogado, mas para impedir que se jogue. A tecnocracia do esporte profissional foi impondo um futebol de pura velocidade e muita força, que renuncia à alegria, atrofia a fantasia e proíbe a ousadia. Por sorte ainda aparece nos campos, [...] algum atrevido que sai do roteiro e comete o disparate de driblar o time adversário inteirinho, além do juiz e do público das arquibancadas, pelo puro prazer do corpo que se lança na proibida aventura da liberdade.

GALEANO, E. Futebol ao sol e à sombra. Porto Alegre: L&PM Pockets, 1995 (adaptado).

O texto indica que as mudanças nas práticas corporais, especificamente no futebol,

a) fomentaram uma tecnocracia, promovendo uma vivência mais lúdica e irreverente.

b) promoveram o surgimento de atletas mais habilidosos, para que fossem inovadores.

c) incentivaram a associação dessa manifestação à fruição, favorecendo o improviso.

d) tornaram a modalidade em um produto a ser consumido, negando sua dimensão criativa.

e) contribuíram para esse esporte ter mais jogadores, bem como acompanhado de torcedores.

Gabarito explicado

Alternativa certa: d) tornaram a modalidade em um produto a ser consumido, negando sua dimensão criativa.

O texto indica que o futebol, antes uma prática lúdica e prazerosa, transformou-se em um "negócio lucrativo", focado na eficiência, velocidade e força, características que limitam a criatividade e a fantasia. Ele sugere que a "tecnocracia" esportiva restringe a espontaneidade e transforma o esporte em algo a ser consumido passivamente pelo público.

Veja também: Atividades de Educação Física para Ensino Médio

Referências Bibliográficas

CAMPEDELLI, Gabriel; CARVALHO, Lúcio Flávio Teixeira De. E-sports: uma análise sobre a sua legitimação e as novas configurações dos esportes-espetáculo. Joinville-SC: 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2018.

MONTAGNER, Paulo Cesar; RODRIGUES, Eduardo Fantato. Esporte-Espetáculo e Sociedade: Estudos preliminares sobre sua influência no âmbito escolar. Campinas: Conexões, 2003.

Maurício Facchini
Maurício Facchini
Graduado em Educação Física pela Universidade do Vale do Taquari e mestrando na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.