O que é Estética na Filosofia?

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação

A Estética, também chamada de Filosofia da Arte, é uma das áreas de conhecimento da filosofia. Tem sua origem na palavra grega aisthesis, que significa "apreensão pelos sentidos", "percepção".

É uma forma de conhecer (apreender) o mundo através dos cinco sentidos (visão, audição, paladar, olfato e tato).

Importante saber que o estudo da estética, tal como é concebido hoje, tem sua origem na Grécia antiga. Entretanto, desde sua origem, os seres humanos mostram possuir um cuidado estético em suas produções.

Das pinturas rupestres, e os primeiros registros de atividade humana, ao design ou à arte contemporânea, a capacidade de avaliar as coisas esteticamente parece ser uma constante.

Mas, foi por volta de 1750, que o filósofo Alexander Baumgarten (1714-1762) utilizou e definiu o termo "estética" como sendo uma área do conhecimento obtida através dos sentidos (conhecimento sensível).

A estética passou a ser entendida, ao lado da lógica, como uma forma de conhecer pela sensibilidade.

Desde então, a estética se desenvolveu como área de conhecimento. Hoje, é compreendida como o estudo das formas de arte, dos processos de criação de obras (de arte) e em suas relações sociais, éticas e políticas.

A Beleza entre os Gregos

A filosofia grega, a partir de seu período antropológico, buscou perceber os motivos pelos quais as atividades humanas possuem um comprometimento com um valor estético: a beleza.

Desde o início dos tempos, a ideia de beleza e de bem-fazer estão interligadas à produção e transformação da natureza.

Com isso, o filósofo grego Platão (427-347) buscou relacionar a utilidade com a ideia da beleza. Ele afirmou a existência do "belo em si", uma essência, presente no "mundo das ideias", responsável por tudo o que é belo.

Muitos dos diálogos platônicos têm como discussão o belo, sobretudo O Banquete. Nele, Platão se refere ao belo como uma meta a ser alcançada por todo o tipo de produção.

Entretanto, o filósofo une o belo à sua utilidade e ataca a poesia e o teatro grego. No pensamento platônico, esse tipo de atividade não possuía utilidade e gerava confusão acerca dos deuses e dos objetivos das ações humanas.

Vaso grego
Detalhe de um vaso grego. Na Grécia antiga, beleza e utilidade estavam relacionadas

Em seu livro A República, Platão deixa claro que na formulação de sua cidade ideal, a poesia grega seria afastada da formação dos homens por desvirtuar os indivíduos.

Em Aristóteles, há a compreensão de arte como técnica destinada à produção. O filósofo busca definir os termos gregos: práxis (ação), poiesis (criação) e techné (regras e procedimentos para se produzir algo).

Sendo assim, passa a ser entendido como arte, tudo o que passa por essas três dimensões, todo o tipo de trabalho e tudo aquilo que produz algo novo.

Entretanto, há uma forte hierarquia entre as artes gregas. As artes da razão, que trabalham com o intelecto, são entendidas como superiores às artes mecânicas, que trabalham com as mãos.

O trabalho com as mãos é compreendido como um trabalho menor, desvalorizado, destinado aos escravos. Cabia ao bom cidadão grego as atividades do intelecto como a matemática e a filosofia.

A Beleza ao Longo da História da Filosofia

A beleza era entendida pelos gregos em sua objetividade. Essa concepção foi mantida durante toda a Idade Média e estendida em sua relação com a religião. A ideia de perfeição e beleza estiveram relacionadas à manifestação da inspiração divina.

Durante o período, a arte foi utilizada como um instrumento a serviço da fé. Seu principal objetivo era revelar o poder da Igreja e expandir a religião cristã. A beleza em si mesma passou a ser relacionada ao pecado.

Com o fim da Idade Média, o Renascimento buscará separar-se da visão religiosa da beleza. A ideia da beleza passa a se relacionar com a reprodução mais fiel possível da realidade. O artista passa a assumir o protagonismo, sua qualidade técnica passa a ser valorizada.

A beleza, entendida em sua objetividade, vai estar relacionada com as proporções, formas e harmonia das representações da natureza. Essas características tornam-se expressões matematicamente presentes nas obras de arte.

Leonardo da Vinci - Homem Vitruviano e invenções
O Homem Vitruviano (c.1490). A produção de Leonardo da Vinci mostra a estreita relação entre arte e matemática no período. Na imagem, observam-se diversas invenções e ao centro, um corpo humano inscrito em figuras geométricas

Definiu-se, então, um campo relativo às sete artes (pintura, escultura, arquitetura, música, dança, teatro e poesia) ou, belas-artes. Essa concepção de arte se mantém até os dias atuais, apesar de terem surgido novas formas de expressão artística (fotografia, cinema, design, etc.).

Baumgarten e a Origem da Estética

O filósofo alemão Alexander Baumgarten inaugurou a estética como área de conhecimento da filosofia. Buscou compreender os modos de reprodução da beleza pela arte.

Em boa parte, isso se deu pelo fato da arte ter se estabelecido como um ato de produção que pode estar associada a um valor econômico.

Para atribuir um valor a uma obra é necessária uma compreensão da arte que vai além do simples gosto. Baumgarten buscou estabelecer regras capazes de julgar o valor estético da natureza e da produção artística.

As bases definidas pelo filósofo propiciaram que ao longo do tempo a arte fosse concebida para além de sua relação com a beleza. A arte passa a se relacionar com outros sentimentos e emoções, que influenciam a identificação do que é belo e de seu valor.

Kant e o Juízo de Gosto

O filósofo Immanuel Kant (1724-1804) propôs uma importante mudança no que diz respeito à compreensão da arte. O filósofo tomou três aspectos indissociáveis que possibilitam a arte como um todo.

É a partir do pensamento do filósofo que a arte assume o seu papel como instrumento de comunicação. Para ele, a existência da arte depende de:

  • o artista, como gênio criador;
  • a obra de arte com sua beleza;
  • o público, que recebe e julga a obra.

Kant desenvolve uma ideia de que o gosto não é tão subjetivo como se imaginava. Para haver gosto, é necessário que haja educação e a formação desse gosto.

O artista, por sua vez, é compreendido como gênio criador, responsável por reinterpretar o mundo e alcançar a beleza através da obra de arte.

Seguindo a tradição iluminista, que busca o conhecimento racional como forma de autonomia, o filósofo retira a ideia do gosto como algo indiscutível. Ele vai contra a ideia de que cada pessoa possui o seu próprio gosto.

Para Kant, apesar da subjetividade do gosto, há a necessidade de universalizar o juízo de gosto a partir da adesão de outros sujeitos a um mesmo julgamento.

O filósofo buscou resolver essa questão através da ideia de que para alguma coisa ser considerada bela, é necessário, antes, compreender o que ela realmente é. Sendo assim, a educação seria responsável pela compreensão da arte e, a partir daí, a formação do gosto.

Eugène Delacroix - A Liberdade Guiando o Povo
A Liberdade Guiando o Povo (1830), Eugène Delacroix. O quadro remonta o espírito da Revolução Francesa, inspirado pelo Iluminismo e que influenciou as artes, a política e a filosofia

O juízo de gosto une a universalidade da apreciação da beleza às singularidades e particularidades do artista, da obra e do público.

Escola de Frankfurt

Um importante ponto de mudança no estudo da estética foi introduzido por uma série de pensadores da Universidade de Frankfurt, na Alemanha.

Dentre esses pensadores destacam-se Walter Benjamin, Theodor Adorno e Max Horkheimer, que influenciados pelo pensamento de Karl Marx, tecem duras crítica ao capitalismo e seu modo de produção.

A partir desse pensamento, Walter Benjamin (1892-1940) publica uma importante obra chamada A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica (1936).

Nela, o filósofo afirma que a possibilidade de reproduzir obras de arte faria com que ela perdesse sua "aura" de originalidade, unicidade e de exclusividade das aristocracias.

Essa mudança poderia permitir o acesso à obra de arte pela classe trabalhadora, que antes estaria completamente excluída.

Por outro lado, dentro do sistema capitalista, a reprodução técnica da arte centraria seus esforços no lucro gerado pela distribuição massiva de reproduções. O valor da obra é transportado para sua capacidade de ser reproduzida e consumida.

Benjamin chama a atenção para o apelo à exposição e fala sobre uma nova forma de cultura que busca reproduzir a estética da arte. A política e a guerra, por exemplo, passam a suscitar emoções, e paixões, que antes eram próprias da arte, através da propaganda e dos espetáculos de massa.

Esse tipo de força estética pode ser observado na propaganda, nas paradas militares e nos discursos que continham uma multidão de pessoas presentes realizados pelo partido nazista.

Exposição “Arte degenerada”
Folheto de propaganda da Exposição “Arte degenerada” em 1938. Nela, nazistas ridicularizavam a arte moderna e expunham concepções estéticas proibidas

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o nazismo foi derrotado, mas sua forma de propaganda e a massificação de elementos estéticos permaneceu e desenvolveu-se na chamada indústria cultural.

A Estética nos dias de Hoje

A estética, desde sua relação com o belo entre os gregos, sua definição como área do conhecimento por Baumgarten, até os dias de hoje, vem se transformando e buscando compreender os principais fatores que levam os indivíduos a possuírem um "pensamento estético".

A filosofia e a arte encontram-se na estética. Muitos são os pensadores que, ao longo do tempo, fizeram essa união como modo de compreender uma das principais áreas de conhecimento e atividade humana.

Hoje em dia, boa parte das teorias estéticas são produzidas, também, por artistas que visam unir a prática e a teoria na produção do conhecimento.

É o caso de Ariano Suassuna (1927-2014), dramaturgo, poeta e teórico da estética. No vídeo abaixo, ele fala do valor da arte popular e sua relação com a dominação cultural.

Ariano Suassuna • Arte no Brasil uma história da cinco séculos? Ver no YouTube

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Cultura: o que é, características, elementos e tipos

Referências Bibliográficas

O Banquete - Platão

Crítica da Razão Pura - Immanuel Kant

Estética - Alexander Baumgarten -

A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica - Walter Benjamin

Convite à Filosofia - Marilena Chauí

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).