Eutanásia: entenda o que é e como funciona (argumentos prós e contras)

Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Professora de Filosofia e Sociologia

Eutanásia é um tema amplamente debatido, que envolve a prática de acelerar a morte de um paciente com uma condição de saúde crítica, de forma a evitar dor e sofrimento. Essa decisão pode ser tomada pelo próprio paciente, por seus familiares ou por ambos.

Essencialmente, a eutanásia tem o objetivo de encurtar a vida de um paciente terminal, ou seja, alguém com uma doença incurável e sem perspectiva de melhora.

A eutanásia pode ser realizada de diferentes maneiras: desligando aparelhos no hospital, administrando injeções letais ou medicamentos que visam aliviar a dor, mas cujos efeitos colaterais aumentam o risco de morte. Em alguns casos, a eutanásia também pode se dar como consequência da falta de cuidados médicos adequados.

É importante notar que a eutanásia pode ser considerada homicídio, a depender do país de sua ocorrência e de certas perspectivas adotadas, ou seja, dependendo das crenças religiosas, das concepções éticas e políticas.

Em países como o Brasil, a prática é considerada ilegal. No entanto, em outros países, como a Holanda, a eutanásia foi descriminalizada a partir de 2002, sob certas condições.

Histórico e contexto

A eutanásia não é uma concepção nova; ela tem raízes profundas na história.

Filósofos gregos como Platão e Sócrates discutiam sobre a questão da morte e sobre a possível libertação que ela proporcionaria ao doente grave. Já os povos antigos, como os celtas e os indianos, praticavam formas de eutanásia em casos de doenças incuráveis.

Com o passar dos séculos, e a partir das reflexões do filósofo Francis Bacon, a prática ficou associada à ação médica em favor do alívio do sofrimento de seus pacientes, quando o tratamento prescrito não surtia mais efeito.

Assim, recebeu o nome precisamente de eutanásia devido ao significado de seus vocábulos. O vocábulo eu significa “bem”, enquanto thanasia deriva do nome do deus Thanatos que, para os gregos, tinha relação com a morte.

Atualmente, a eutanásia é um tópico controverso e frequentemente debatido em congressos religiosos e médicos, que analisam suas implicações éticas.

No Brasil, ela é considerada crime. A Constituição Federal determina a inviolabilidade do direito à vida, logo, a eutanásia entraria na classificação de homicídio doloso.

De acordo com o Art. 121 do Código Penal, “matar alguém” é punido com reclusão de 6 a 20 anos. O Parágrafo 1º estabelece que, se o crime for cometido por “valor social ou moral”, o que pode ser interpretado como compaixão e a pedido da vítima, a pena pode vir a ser reduzida para 3 a 6 anos.

Prós e Contras

Argumentos a favor da eutanásia:

  • Autonomia do paciente: permite que o paciente escolha uma morte sem dor.
  • Direito à escolha: reconhece o direito do paciente de decidir sobre sua vida e morte.
  • Alívio do sofrimento: pode evitar sofrimento físico e emocional para o paciente e para seus familiares.

Argumentos contra a eutanásia:

  • Término da vida: qualquer um definiria o fim da própria vida de uma outra pessoa, de forma ativa e, portanto, desconsiderando seu processo natural.
  • Perspectiva religiosa: para algumas crenças (vertentes monoteístas), a vida deve ser preservada até o fim natural, considerando a eutanásia como um tipo de suicídio. Assim sendo, ela vai de encontro com o valor da vida humana dada por Deus e com a moral religiosa.
  • Argumento da ilegalidade: é considerada homicídio em alguns países que defendem em suas constituições a inviolabilidade do direito à vida. Assim, pela legislação desses países, a prática é proibida.

Tipos de eutanásia

Existem dois tipos principais de eutanásia:

Eutanásia passiva: é quando o paciente vem a óbito devido à omissão de socorro médico, à suspensão intencional de tratamento ou à falta de destinação de recursos importantes que colaborariam com o tempo de vida restante do doente.

Eutanásia ativa: Envolve a indução da morte por meio de métodos diretos, como injeções letais ou desligamento de aparelhos.

Diferenças entre a distanásia e ortotanásia

A distanásia, também conhecida como obstinação terapêutica, refere-se ao processo de morte lenta e dolorosa, onde o paciente sofre física ou psicologicamente, em decorrência do prolongamento de tratamento fútil.

Nesse processo, o excesso de zelo médico pode até aumentar o tempo de vida do paciente, mas também aumentar o seu sofrimento.

Já a ortotanásia consiste na morte que ocorre de maneira natural e com a suspensão de tratamento que já não surte mais efeito. O objetivo é evitar a distanásia.

Assim, a ortotanásia se dá quando o paciente já está em um estado irreversível de saúde e o tratamento já não lhe traz mais benefícios. Todo esse processo de conduta médica é feito com consentimento do paciente e de seus familiares.

Segundo o Conselho de Federal de Medicina do Brasil (CFM), desde 2006 a ortotanásia não é considerada prática ilegal. Isso já gerou profundos debates e uma ação civil por parte do Ministério Público Federal.

Aproveite para estudar sobre:

Referências Bibliográficas

BRASIL. Decreto-Lei nº 2848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal.

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Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Bacharela e Licenciada em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (2014), com Mestrado em História da Filosofia pela mesma universidade (2017). Atua como professora na rede privada de ensino, ministrando aulas ligadas às áreas de Filosofia e de Sociologia.