Florestan Fernandes
Florestan Fernandes (1920-1995) foi um sociólogo, professor universitário, colunista e deputado brasileiro.
Foi eleito deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores em dois mandatos (1986-1994) e participou da Constituinte de 1988.
Biografia
Florestan Fernandes nasceu em 1920, em São Paulo, numa família pobre. Desde cedo teve que trabalhar para ajudar no sustento da casa e o fez como auxiliar de barbearia, engraxate, copeiro, garçom.
No entanto, graças a sua madrinha Hermínia Bresser de Lima, aprendeu o valor do estudo e adquiriu a disciplina para estudar. Esta vida ambígua entre o mundo abastado e o mundo da pobreza permearia toda sua obra intelectual e sua postura de vida.
Ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, em 1941 e tornou-se assistente do professor Fernando de Azevedo. Doutorou-se em 1951 com a tese intitulada “A função social da guerra na sociedade tupinambá”.
Colaborou em diversas pesquisas com o francês Roger Bastide e teve como alunos, entre outros, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e Octávio Ianni.
Com a chegada da ditadura militar em 1964 e posteriormente do AI-5, Florestan Fernandes é aposentado compulsoriamente da USP. Desta maneira, vai para o Canadá e os Estados Unidos lecionar em distintas universidades como Columbia, Yale e Toronto.
Ao voltar para o Brasil, participou ativamente da reabertura política apoiando movimentos como as Diretas Já. Em 1986, através do Partido dos Trabalhadores (PT), seria eleito como deputado federal.
Isto lhe deu a oportunidade de tomar parte da Comissão de Educação que ajudou a elaborar a Constituição de 1988, auxiliando a escrever a Lei de Diretrizes de Bases (LDB).
Florestan Fernandes ainda seria reeleito para o cargo em 1990, pelo PT. Uma doença no fígado não lhe tirava as forças para colaborar ou criticar com seu partido e demais organizações de esquerda.
O sociólogo Florestan Fernandes morreu em 1995 após realizar um transplante de fígado.
Veja também: LDB (atualizada em 2019)
Principais Ideias
A maior parte da obra de Florestan Fernandes tem como objetivo entender a situação do negro na sociedade brasileira.
A partir da teoria marxista, Fernandes analisa a inserção do negro quando este passou de ser propriedade para um ser dotado de liberdade.
Do ponto de vista de Fernandes, o negro não teria sido integrado dentro da sociedade capitalista, pois este grupo era o mais desfavorecido se comparado aos brancos.
Para Florestan Fernandes o grau de integração do negro na sociedade brasileira poderia ser um parâmetro para a democracia brasileira
“O negro vai ser sempre, enquanto não houver democracia no Brasil, o nosso melhor ponto de referência para determinar que o Brasil não é uma sociedade democrática. (...) Uma democracia deve ser um regime político, econômico, cultural, social que permite estabelecer igualdade entre todas as raças.” (Entrevista para o programa Vox Popolli, 1984).
Democracia Racial
Florestan Fernandes dialogou com os principais pensadores brasileiros como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda.
Ao contrário de Gilberto Freyre que defendeu a inclusão do negro no Brasil através da miscigenação entre o índio, o branco e o negro, Fernandes se afastou dessa linha de pensamento.
Ao estudar a problemática do negro à luz do marxismo, Florestan Fernandes afirma que o mais prejudicado no contexto da luta de classes será o negro. Mesmo que o branco seja pobre e proletário, o negro vai sofrer o componente da discriminação racial.
Educação
Para Florestan Fernandes, a educação deveria ser laica, gratuita e libertadora. Questionava a autoridade/autoritarismo do professor em sala de aula, sua postura como reprodutor do conhecimento e seu papel na construção de uma sociedade igualitária.
Instituto Florestan Fernandes
Várias organizações levam o nome de Florestan Fernandes como o Instituto Florestan Fernandes fundado em 1999, no Ceará.
Trata-se de uma ONG que tem como objetivo promover a cidadania e a capacitação de jovens da zona rural e também mulheres das cidades a desenvolver seu potencial político e econômico.
Por sua vez, a Fundação Florestan Fernandes, em Diadema, criada em 1996 é um centro que oferece cursos profissionalizantes colocando em prática um dos preceitos do sociólogo.
Biblioteca Florestan Fernandes
A biblioteca da Universidade de São Paulo (USP) foi batizada com o nome do ilustre professor em 2005. No entanto, toda documentação do sociólogo se encontra sob guarda da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) desde 1996.
Frases
- Um povo educado não aceitaria as condições de miséria e desemprego como as que temos.
- Contra as ideias da força, a força das ideias!
- É muito complicada a vida de um intelectual na sociedade de consumo de massa.
- Sou um marxista que acha que a solução para os problemas dos países capitalistas está na revolução.
- Em nossa época, o cientista precisa tomar consciência da utilidade social e do destino prático reservado a suas descobertas.
Obras
- Organização social dos Tupinambá, 1949;
- A função social da guerra na sociedade Tupinambá,1952;
- A etnologia e a sociologia no Brasil,1958;
- Fundamentos empíricos da explicação sociológica,1959;
- Mudanças sociais no Brasil,1960;
- Folclore e mudança social na cidade de São Paulo,1961;
- A integração do negro na sociedade de classes,1964;
- Corpo e Alma do Brasil,1964;
- Sociedade de classes e subdesenvolvimento,1968;
- Capitalismo dependente e Classes Sociais na América Latina,1973;
- A investigação etnológica no Brasil e outros ensaios,1975;
- A revolução burguesa no Brasil: Ensaio de Interpretação Sociológica,1975;
- Da Guerrilha ao Socialismo: A Revolução Cubana,1979;
- O que é Revolução,1981;
- Poder e Contrapoder na América Latina,1981;
- Significado do Protesto Negro, 1989.
Leia mais:
BEZERRA, Juliana. Florestan Fernandes. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/florestan-fernandes/. Acesso em: