Igreja Ortodoxa

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Professora de História

A Igreja Católica Apostólica Ortodoxa foi fruto de um desmembramento da Igreja Católica Apostólica Romana surgida após o Cisma do Oriente em 1054.

Trata-se da segunda maior comunidade cristã, reunindo cerca de 250 milhões de fiéis em todo mundo, especialmente no Oriente.

Origem da Igreja Ortodoxa

Catedral de São Basílio em Moscou
Catedral de São Basílio em Moscou é uma das mais conhecidas igrejas ortodoxas do mundo

A Igreja Ortodoxa surgiu a partir de diferenças teológicas e políticas entre os cristãos do Oriente e do Ocidente que culminaram no Cisma de 1054.

Ocidente e Oriente disputavam questões teológicas como a supremacia do Bispo de Roma sobre o clero, a questão da veneração de imagens e a procedência do Espírito Santo.

Sem chegarem a um acordo, o Papa Leão IX (1002-1054) e o Patriarca Miguel I Cerulário (1000-1059) se excomungaram mutuamente.

A partir de então, o cristianismo passa a se constituir em dois grandes grupos: a Igreja Católica Apostólica Romana, com sede em Roma e a Igreja Ortodoxa, com sede em Constantinopla (atual Istambul).

O perdão de ambas as partes só aconteceria em 25 de julho de 1967 com a visita do Patriarca Atenágoras I (1886-1972) ao Papa Paulo VI (1897-1978) ao Vaticano.

A Igreja Ortodoxa se desenvolveu no Império Bizantino e se espalhou pelos países da Europa Oriental e da Rússia.

Atualmente, os cristãos ortodoxos somam cerca de 250 milhões de fiéis em países como Bulgária, Belarus, Grécia, Chipre, Moldávia, Republica da Macedônia, Montenegro, Polônia, Rússia, Romênia, Sérvia, Ucrânia e Estados Unidos.

Significado de Ortodoxo

A palavra ortodoxo vem do grego, da junção de “orthos” que significa “reto” e “doxa” que significa “fé”. Por isso, o cristianismo ortodoxo acredita que eles sejam os únicos depositários da verdadeira fé.

Diferenças entre a Igreja Católica Romana e a Ortodoxa

Sacerdote ortodoxo
Aspecto de uma celebração da Igreja Ortodoxa. Ao centro, o sacerdote celebrante.

Há várias diferenças entre as duas instituições no campo da doutrina, liturgia, hierarquia eclesiástica, etc.

Características Romana Ortodoxa
Doutrina A salvação vem da fé e das obras. A salvação vem da fé.
Vida após-morte Existe o purgatório para aquelas almas que ainda não estão puras o suficiente para entrar no Paraíso. Também se acredita que as indulgências podem abreviar as penas no Purgatório. Não se crê na existência do Purgatório.
Hierarquia O Papa é o chefe visível da Igreja e é infalível em assuntos de doutrina e moral. Cada bispo tem autonomia sobre sua igreja e não existe um líder maior ou infalível. A decisão é tomada de forma colegiada.
Sacerdócio Acessível aos homens celibatários. Acessível aos homens casados ou celibatários.
Liturgia Os ritos foram mudando ao longo do tempo, especialmente após o Concílio do Vaticano II (1962-1965). As cerimônias, salvo pequenas diferenças locais, são as mesmas desde a fundação.
Jejum Recomenda-se não comer carne na Quaresma e em todas as sextas-feiras do ano. Em três períodos do ano, os fiéis devem jejuar ou abster-se de certos alimentos.
Crianças A partir do batismo e ao longo da vida, as crianças vão recebendo os sacramentos da Igreja. A partir do batismo já recebem todos os sacramentos.
Imagens São veneradas imagens tridimensionais como estátuas e bidimensionais, como quadros. Depois da eclosão do movimento iconoclasta, somente a veneração aos ícones é permitida.

Semelhanças entre a Igreja Católica Romana e a Ortodoxa

Há mais semelhanças que diferenças entre as duas igrejas que formaram uma só por mais de um milênio.

A principal semelhança é na crença num único Deus que mandou seu Filho, Jesus Cristo, para a salvação da humanidade. Este mesmo Deus ainda se manifesta no Espírito Santo.

Ambas igrejas rezam a mesma oração nas missas, o "Credo", onde estão resumidos os princípios da fé.

Igualmente, Maria é venerada como Mãe de Deus, e os santos e mártires também recebem homenagens dos fiéis, além de serem exemplos de vida.

Papa Francisco e Patriarca Bartolomeu I
O Papa Francisco é abençoado pelo Patriarca Bartolomeu I

A Bíblia é a fonte da fé, assim como a Tradição Oral e os comentários feitos pelos santos doutores da Igreja.

Observa-se o domingo e os dias santos prescritos pela Igreja, assim como são comemoradas festas como o Natal e a Páscoa.

Do mesmo modo, possuem os sacramentos como o batismo, confissão e comunhão que são considerados os canais pelas quais o fiel pode se curar e receber a graça de Deus.

Cruz Ortodoxa

Catolicismo Ortodoxo
Crucifixo ortodoxo

O Cristianismo ortodoxo venera uma cruz com um desenho diferente daquela que costumamos ver nas igrejas latinas.

A cruz ortodoxa tem oito braços e Jesus aparece com os dois pés feridos por cravos. Na extremidade superior, temos o lugar onde se escreveram o nome de Jesus em vários idiomas. Na inferior, podemos ver uma caveira que nos remete ao "Calvário", monte onde Cristo foi crucificado.

Também chama a atenção um braço inclinado. O lado esquerdo, para o alto, seria onde estava o "Bom Ladrão", aquele que estava sendo crucificado junto a Jesus e que pediu perdão. O lado direito, para baixo, indica o outro condenado que não se arrependeu.

Igreja Ortodoxa no Brasil

No Brasil, o catolicismo ortodoxo chegou com os imigrantes poloneses, gregos, árabes, russos, ucranianos.

Assim, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, onde há maior número de descendentes dessas nacionalidades, é possível encontrar vários templos e comunidades ortodoxas.

Uma das comunidades ortodoxas mais antigas do Brasil é a de Florianópolis, fundada em 1924. Já o maior templo ortodoxo do Brasil é a Catedral Metropolitana Ortodoxa, localizada em São Paulo, cuja construção foi finalizada em 1954.

Curiosidades

  • Quase dois terços dos ortodoxos no mundo, cerca de 200 milhões, estão ligados ao Patriarcado de Moscou.
  • Após décadas de perseguição na U.R.S.S, a Igreja Ortodoxa Russa experimenta um crescimento espetacular. Em 1988 contava com 76 dioceses, 6.900 paróquias e 22 mosteiros. Em 2016, por sua vez, contabiliza 293 dioceses, 35 mil paróquias e 900 mosteiros.
  • O presidente russo, Vladimir Putin, é um católico ortodoxo praticante e não esconde essa condição de seus cidadãos.

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Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.