Império Carolíngio

Ligia Lemos de Castro
Ligia Lemos de Castro
Professora de História

O Império Carolíngio (800-888) tem seu nome derivado de Carolus (do latim, Carlos) e designa o Reino Franco que ocupou a região da Europa Central (coincidindo com parte do antigo Império Romano do Ocidente, um território de aproximadamente 1.112.000 km² e cerca de 20 milhões de pessoas).

O nome faz referência tanto a Carlos Martel (688-741), iniciador da dinastia carolíngia, como a Carlos Magno (742-814), Imperador do Sacro Império Romano (800-814).

A formação deste império está na gênese dos processos de constituição da sociedade feudal, bem como foi responsável pela expansão do Cristianismo na Europa.

Principais características do Império Carolíngio

A principal característica política administrativa do Império Carolíngio foi a distribuição de terras entre os oficiais e soldados mais leais à realeza. A distribuição era feita mediante um juramento de fidelidade ao Imperador.

Consequentemente, isso criou uma intensa regionalização do poder, ao possibilitar o estabelecimento de uma influente nobreza regional.

Esta elevação era adquirida pelos títulos de nobreza, como o de Condes (guardiões dos condados) e Marqueses (defensores das marcas, regiões fronteiriças do Império).

Estes dotes chegavam a centenas de condados e marcas, nos quais a administração do vasto território era realizada pela administração itinerante da corte do imperador. Esta se deslocava pelo território, assim como os missi dominici (do latim, enviados do senhor), responsáveis por fiscalizar as atividades da nobreza.

Outra característica notável foi o fortalecimento dos laços de servidão, responsável pela transformação de homens livres em servos, ligados à terra em que viviam. Este sistema possibilitou um grande desenvolvimento rural e agrícola, tornando essas atividades a base da economia, com várias feiras e mercados nos centros urbanos europeus.

Do ponto de vista cultural e artístico, este período é conhecido como o “Renascimento Carolíngio”. Carlos Magno conduziu a ampliação do cristianismo em seu império, com a cristianização dos povos conquistados, padronização das práticas da Igreja, incentivo à educação entre a nobreza e produção de textos intelectuais e religiosos.

Neste contexto, também é evidente a presença das culturas grega, romana e bizantina. Vale destacar que os reis carolíngios se cercavam de intelectuais, especialmente Carlos Magno, que valorizou grandemente a cultura greco-romana e criou leis para a construção de escolas nos palácios, mosteiros e catedrais.

Além disso, este soberano estimulou o desenvolvimento das artes e instituiu um conjunto de leis escritas denominadas “Leis Capitulares”.

Ascensão e queda do Império Carolíngio

Com a desintegração do Império Romano, surgiram reinos (tradicionalmente chamados de "bárbaros", os quais, por sua vez, sofreram com as contínuas invasões bárbaras e muçulmanas. Assim, na Europa não havia um poder centralizador que unificasse estes reinos.

Este quadro mudou no século V, quando Clóvis I (481-511) unificou as tribos francas e fundou o Estado dos Francos, tornando-se o primeiro rei cristão dos francos a fundar uma dinastia, a Merovíngia.

Com sua morte em 511, seu reino foi dividido entre seus quatro filhos. Em 628, Dagoberto consolidou-se como único rei, dando início às gerações dos chamados “reis indolentes”.

Os "reis indolentes" ficaram conhecidos por sua inabilidade política e por estarem cada vez mais distantes e desinteressados das funções administrativas do reino.

É neste contexto que ganharam destaque os “Mordomos ou Prefeitos do Paço” (ou do Palácio), responsáveis pelo controle do Estado e do exército.

Assim, Carlos Martel (715-741), um prestigiado vassalo e mordomo do paço, destacou-se por suas vitórias militares. Derrotou os visigodos em 711, e os árabes, na Batalha de Poitiers, em 732, sagrando-se um grande líder.

Com sua morte, seu filho Pepino, o Breve, assumiu seu posto. Em 751, com as bênçãos do Papa Zacarias, Pepino desferiu um golpe de Estado, usurpando o trono dos Francos e depondo Childerico III, para depois reunificar e expandir as fronteiras do seu reino.

Pepino morreu em 768 e o seu reino foi dividido entre seus dois filhos: Carlomano e Carlos Magno.

Os irmãos foram rivais no poder até a morte de Carlomano, em 771. A partir daí, Carlos Magno se consolidou no poder e empreendeu seu projeto de expansionismo militar para reconquistar os antigos territórios do Império Romano do Ocidente, que incluía as regiões da Germânia, do norte da Itália e da Espanha.

Com efeito, a data histórica para a fundação do Império Carolíngio é 25 de dezembro de 800, quando o papa Leão III coroou Carlos Magno como imperador do Sacro Império Romano-Germânico.

Por fim, com a morte de Carlos Magno em 814, seu império passou a seu filho e sucessor Luís, O Piedoso, até o ano de 840, quando o soberano morreu.

Luís deixou três herdeiros que disputaram a Coroa: Lotário, o primogênito, confrontou-se com seus irmãos Luís, o Germânico, e Carlos, o Calvo. Como resultado desta disputa, surgiu o Tratado de Verdun, em 843, oficializando a divisão do Império Carolíngio.

Com a morte de Lotário, seus irmãos anexaram seus territórios, fazendo a Frância Oriental, futura Alemanha, e a Frância Ocidental, que se tornou o Reino da França.

Contudo, as crescentes guerras civis, bem como a regionalização e fortalecimento da aristocracia, a qual estabeleceu laços de vassalagem entre si, formou uma pequena nobreza sem laços de fidelidade para com os monarcas. Tudo isso acabou por levar à queda da Dinastia Carolíngia, sobretudo após as invasões normandas.

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Referências Bibliográficas

GRIFFITH, Michael Griffith. Dinastia Carolíngia. Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia, 19 de maio de 2021. Disponível em: https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-17553/dinastia-carolingia/ (acesso em 27/04/2024).

Ligia Lemos de Castro
Ligia Lemos de Castro
Professora de História formada pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Docência na Educação à Distância pela Universidade Federal de São Carlos. Leciona História para turmas do Ensino Fundamental II desde 2017.