Industrialização no Brasil: entenda como foi cada fase do processo

Vinícius Marques
Vinícius Marques
Professor de Geografia

A industrialização no Brasil começou mais tarde em comparação com países europeus, como a Inglaterra. Enquanto os ingleses estavam vivendo a Primeira Revolução Industrial, no século XVIII, o Brasil ainda era uma colônia de Portugal, com sua economia fortemente baseada no trabalho escravo e na exportação de produtos agrícolas.

Foi só em 1808, com a chegada da Família Real portuguesa ao Brasil, que as primeiras fábricas começaram a surgir. Esse atraso se deve principalmente ao fato de que, até então, Portugal proibia a instalação de indústrias na colônia, para evitar que o Brasil se tornasse economicamente independente.

Principais informações sobre o processo de industrialização do Brasil

  • O Brasil começou seu processo de industrialização muito depois da Europa, devido ao regime colonial e escravista.
  • As primeiras fábricas surgiram após 1808, com a chegada da Família Real portuguesa e as restrições sobre criação de indústrias foram levantadas.
  • O processo de industrialização brasileira pode ser dividido em quatro fases:
    • Período Colonial (1530-1808): Indústrias proibidas pela Coroa Portuguesa.
    • Primeiras fábricas (1808-1930): Início da industrialização, mas ainda focado na exportação de café.
    • Era Vargas (1930-1956): Governo começa a investir na indústria pesada.
    • De JK até hoje (1956-presente): Foco na indústria automobilística e abertura ao capital estrangeiro.
  • Na década de 1990, com o neoliberalismo, houve privatizações e um crescimento do setor de serviços em detrimento da indústria.

Neste conteúdo você encontra:

Fases da industrialização brasileira

Para fins de estudo, o desenvolvimento industrial do Brasil é dividido em quatro fases.

  1. Período Colonial (1530-1808): quando as indústrias estavam proibidas
  2. Primeiras fábricas (1808-1930): compreende a época joanina, o Primeiro e o Segundo Reinado, e a Primeira República. Surgem as primeiras fábricas, mas o café era o grande produto de exportação.
  3. Industrialização e o Governo Vargas (1930-1956): alguns assinalam que nestas décadas se deu a Revolução Industrial Brasileira. O governo Vargas passa a ser o grande investidor e formador da indústria pesada no País.
  4. De JK até os dias de hoje (1956 - presente): começa com o estímulo à indústria de automóveis por JK, a abertura da economia ao capital estrangeiro e a globalização.

Linha do Tempo

Linha do tempo com os períodos e detalhes da industrialização brasileira

1ª fase: período colonial

Durante o período colonial, a metrópole portuguesa proibia a manufatura, pois os produtos iriam concorrer com os do reino e, com o fortalecimento da economia, a colônia poderia se tornar independente, o que não interessava a Portugal.

2ª fase: primeiras fábricas no Brasil

Em 1808, com a vinda da família real para o Brasil, o Príncipe-regente D. João tomou algumas medidas que favoreceram o desenvolvimento industrial, entre elas:

  • extinção da lei que proibia a instalação de indústrias de tecidos na colônia;
  • liberação da importação de matéria prima para abastecer as fábricas, sem a cobrança da taxa de importação.

Essas medidas não surtiram o efeito esperado, pois o mercado interno ainda era pequeno. A maior parte da população era escravizada e não poderia comprar estes artigos.

Industrialização no Segundo Reinado

Durante o Segundo Reinado, a principal atividade econômica no Brasil era a cafeicultura. Ao longo do século XIX, estados e governos estavam ligados à produção de café, de onde provinha a riqueza e o poder.

Apesar da elite cafeicultora não se interessar pela atividade industrial, surgem as primeiras fábricas no Brasil. Estas se dedicam a produzir produtos de consumo doméstico como tecidos, ferramentas e velas.

Com a Tarifa Alves Branco, em 1844, aumentam-se as taxas alfandegárias que os produtos importados deveriam pagar. Com isso, surge um ambiente favorável para o surgimento das primeiras manufaturas e produzir aqui ficaria mais barato.

Nesta época, se destacam as atividades empreendedoras do barão de Mauá que investiu em ferrovias, estaleiros, iluminação pública, bancos, etc.

Ao mesmo tempo, o País começa a receber as novidades tecnológicas como a eletricidade, o bonde de tração animal e o telefone.

Industrialização no Brasil

Fatores da industrialização no Brasil

Vários fatores contribuíram para o processo de industrialização no Brasil no começo do século XX:

  • a exportação de café gerou lucros que permitiram o investimento na indústria;
  • os imigrantes estrangeiros traziam consigo as técnicas de fabricação de diversos produtos;
  • a formação de uma classe média urbana consumidora.

A passagem de uma sociedade agrária para uma urbano industrial mudou a paisagem de algumas cidades brasileiras, principalmente das capitais dos estados.

Industrialização na Primeira República

Durante a Primeira República (1899-1930), verificamos a instalação de tecelagens, montadoras de automóveis, fábricas de calçados, alimentos, produtos de higiene e limpeza como sabão, etc. As condições de trabalho eram duras com jornadas de 14 horas, seis dias na semana e o salário baixo.

Também a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) impulsou a industrialização no Brasil. Com o conflito era inviável importar produtos manufaturados da Europa e dos Estados Unidos e muitos artigos foram substituídos pela fabricação local.

No entanto, o grande impulso industrial no Brasil ocorreria após a crise do café e a de 29.

3ª fase: industrialização no governo Vargas

O primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945) foi decisivo para a industrialização brasileira.

Com o governo Vargas, o Estado passa a investir e abrir empresas públicas. Ele privilegia a indústria pesada, ou seja, aquela que transforma a matéria-prima e fabrica bens de grande porte.

O contexto exterior também ajudou, pois era complicado importar máquinas num momento em que os países europeus se preparavam para a guerra. Curiosamente, a Alemanha nazista tornou-se compradora do algodão brasileiro a fim de vestir seus soldados.

Para instalar a indústria pesada era preciso financiamento e isso foi possível graças ao empréstimo obtido junto aos Estados Unidos. Assim foi construída a Companhia Siderúrgica Nacional, em 1941, em Volta Redonda (RJ). Este acordo se deu na época quando o Brasil foi lutar junto aos americanos na Segunda Guerra Mundial.

Outras indústrias de base do período são a Companhia do Vale do Rio Doce (1942), para a extração de minério de ferro e a Fábrica Nacional de Motores (1942).

Quanto à mão de obra empregada nas fábricas, observamos o crescimento de operários vindos do nordeste brasileiro.

4ª fase: do governo JK até os dias de hoje

Com a chegada de Juscelino Kubitschek à presidência, se observa o crescimento da indústria de bens intermediários.

JK privilegiou a indústria automobilística em detrimento do transporte ferroviário e a fabricação de autopeças conheceu um grande impulso. Para isso, abriu a economia brasileira ao capital estrangeiro.

Igualmente, verifica-se um incremento industrial automobilístico de São Paulo, no ABCD paulista (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema).

A construção de Brasília também garantiu o fomento da indústria nacional, pois era preciso muito material para levantar a nova capital.

Veja também: Plano de Metas

Ditadura militar e indústria no Brasil

Com o golpe de 1964 houve a instalação de um ditadura militar de caráter autoritário e nacionalista no Brasil.

O Estado volta a aparecer como um grande investidor e realiza obras de grande porte como a usina hidrelétrica de Itaipu, a rodovia Transamazônica e a ponte Rio-Niterói.

Os gastos com estes empreendimentos, no entanto, aumentam a dívida externa e provocam uma inflação descontrolada no País.

Industrialização e neoliberalismo

A eleição de Collor de Mello, em 1989, e os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), significam a implantação do neoliberalismo no Brasil.

Desta forma, as estatais são privatizadas, a economia se abre ao capital estrangeiro na maior parte dos setores, e o trabalhadores veem seus direitos diminuírem.

Acompanhando a tendência mundial, a atividade industrial no Brasil decresce e desponta o setor de serviços, tendência que segue no século XXI.

Causas que contribuíram para a industrialização no Brasil

  • Exportação de Café: no final do século XIX e início do século XX, o Brasil lucrava muito com o café. Com a crise de 1929, os preços caíram, o que forçou o país a diversificar sua economia, investindo mais na indústria.
  • Imigração: após o fim da escravidão em 1888, muitos imigrantes europeus vieram para o Brasil. Eles trouxeram novas habilidades e ajudaram a aumentar a mão de obra industrial.
  • Políticas do Governo: governos como o de Getúlio Vargas (1930-1945) criaram medidas de incentivo, como protecionismo e grandes empresas estatais, que fortaleceram a indústria.
  • Primeira Guerra Mundial: o Brasil teve dificuldade em importar produtos durante a guerra, o que incentivou a produção local e a criação de fábricas.
  • Crise de 1929: a queda nos preços do café levou o Brasil a buscar outras fontes de renda, acelerando o crescimento industrial.
  • Urbanização: o aumento das cidades no século XX gerou maior demanda por produtos industrializados, fortalecendo o mercado interno.
  • Infraestrutura: governos como o de Juscelino Kubitschek investiram em estradas e ferrovias, facilitando o transporte e o crescimento da indústria, principalmente a automobilística.
  • Capital Estrangeiro: nos anos 1950, empresas estrangeiras, como as do setor automotivo, investiram no Brasil, trazendo tecnologia e capital.
  • Segunda Guerra Mundial: a guerra fez o Brasil desenvolver mais sua indústria, e acordos com os EUA ajudaram na construção de grandes empresas como a Companhia Siderúrgica Nacional.

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Referências Bibliográficas

História do Brasil Boris Fausto. Documentário. TV Escola. 2002.

Furtado, Celso - Formação Econômica do Brasil. Editora Fundo de Cultura,1º edição: 1959. Cia das Letras: 2006. São Paulo.

Vinícius Marques
Vinícius Marques
Formado pela UNESP - Rio Claro (2016), é professor de Geografia e Ciências Humanas. Atua na educação básica (Ensino Fundamental II e Médio) e cursos pré-vestibular desde 2012, tendo experiência em projetos sociais, escolas públicas e privadas.