José Saramago: quem foi (resumo da sua vida e obra)

Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora de Língua Portuguesa e Literatura

José Saramago foi um escritor, poeta, contista, dramaturgo e jornalista português. É considerado a maior expressão da literatura portuguesa contemporânea. Foi o primeiro escritor em língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998.

Saramago nasceu em 16 de novembro de 1922, na aldeia de Azinhaga. A aldeia é localizada na província portuguesa do Ribatejo.

O escritor morreu em 18 de junho de 2010, em Lazaronte, na Espanha, na presença da esposa, a jornalista espanhola Pilar Del Rio, e da família.

José Saramago
Foto de José Saramago. Imagem retirada do site da Presidência da Nação Argentina, de acordo com o licenciamento de direitos autorais

Biografia de José Saramago

José de Sousa Saramago viveu grande parte de sua vida em Lisboa, local onde a família migrou quando ele tinha dois anos de idade.

Apesar do reconhecimento como escritor, frequentou somente cursos técnicos. Por cinco anos esteve na escola para aprender o ofício de serralheiro mecânico.

O nome Saramago só foi descoberto quando passou a frequentar a escola. Foi adicionado de forma espontânea pelo funcionário do cartório em alusão ao apelido da família.

Saramago é o nome de uma planta que servia como alimento para os mais pobres.

Foi desenhista, funcionário público dos setores de saúde e segurança social, jornalista, editor e tradutor. Também foi diretor literário e de produção de uma revista literária, a Seara Nova.

No período de 1972 a 1973, foi comentarista político no jornal Diário de Lisboa, onde também coordenou um suplemento cultural.

Saramago também integrou a Associação Portuguesa de Escritores e foi diretor-adjunto do Diário de Notícias.

Em 1976, tomou a decisão de viver exclusivamente da literatura. Começou como tradutor antes de chegar à fase autoral.

Recebeu o Prêmio Camões em 1995.

Principais obras de José Saramago

  • Terra do Pecado (1947)
  • Manual de Pintura e Caligrafia (1977)
  • Levantado do Chão (1980)
  • Memorial do Convento (1982)
  • O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984)
  • A Jangada de Pedra (1986)
  • História do Cerco de Lisboa (1989)
  • O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991)
  • Ensaio sobre a Cegueira (1995)
  • Todos os Nomes (1997)
  • A Caverna (2000)
  • O Homem Duplicado (2002)
  • Ensaio sobre a Lucidez (2004)
  • As Intermitências da Morte (2005)
  • Caim (2009)
  • A Viagem do Elefante (2008)
  • Claraboia (2011)
  • Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas (2014)

Frases de José Saramago

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara." (Epígrafe do "Ensaio sobre a cegueira", citando o "Livro dos Conselhos" de El-Rei D. Duarte.)

"E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?" (A maior flor do mundo, 2001)

"O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca, e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto." (Todos os nomes. Lisboa: Editorial Caminho. 1997)

Características literárias de Saramago

A crítica afiada e a descrição minuciosa estão entre as características da obra de Saramago. A pontuação não é convencional. Os pontos finais aparecem ao fim dos parágrafos, que podem ser longos.

Os travessões foram excluídos e a interpretação da fala dos personagens é, muitas vezes, confundida com a autorreflexão.

Mescla personagens reais com fictícios. Entre os exemplos estão Memorial do Convento (1982) e a Viagem do Elefante (2008).

Saramago era comunista declarado e o pensamento é evidenciado em sua obra. Também fazia duras e ácidas críticas à igreja católica e seus dogmas.

O Evangelho Segundo Jesus Cristo

O romance de José Saramago intitulado O Evangelho Segundo Jesus Cristo, lançado em 1991, foi censurado pelo governo de Portugal que o considerou ofensivo aos católicos.

Como resultado da manobra política, Saramago e a mulher transferiram a residência para o arquipélago de Canárias, permanecendo na ilha de Lanzarote.

Entre as passagens de O Evangelho Segundo Jesus Cristo está o envolvimento sexual de Jesus com Maria Madalena.

Caim

O romance de José Saramago intitulado Caim, lançado em 2009, também foi considerado ofensivo à fé católica. Na obra, Caim questiona os critérios de Deus para suas escolhas. Deus é apontado como um ser vaidoso, vingativo e contraditório.

Ensaio sobre a Cegueira

A obra Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, aponta o comportamento de uma sociedade diante de uma epidemia sem explicação ou cura, no qual a pessoa atingida perdia a visão.

Diferente da escuridão, a cegueira era branca e apavorante. Aos poucos, o escritor vai revelando o caráter das personagens e suas instituições.

O romance, lançado em 1995, foi reproduzido no cinema em 2008, e venceu o festival de Cannes.

O filme foi dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles e contou com a participação dos atores Julianne Moore e Mark Ruffalo.

As Intermitências da Morte

Em As Intermitências da Morte, de José Saramago, mais uma vez, um dogma religioso é questionado, a morte. No romance, lançado em 2005, Saramago imagina uma greve decretada pela própria morte, cansada das contradições e da ingratidão da humanidade.

Enquanto a morte questiona seu papel, a humanidade vive um colapso religioso, social, político e estrutural.

Poesia de José Saramago

Os traços comunistas, a exaltação à liberdade, à luta e à fraternidade também estão presentes na poesia de Saramago.

Após um hiato de 19 anos na literatura, o autor publicou, em 1966, Os Poemas Possíveis. Eis um exemplo de um poema:

Poema à boca fechada

Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

Leia também: Origens da Literatura Portuguesa.

Estude mais sobre outros grandes nomes da literatura:

Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).
Daniela Diana
Edição por Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.