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Madrigal: o que é e características do gênero literário (com exemplos)

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Português e Literatura

Madrigal é o nome que se dá a textos líricos, de estrofe única e conteúdo sentimental simples. Além disso, a palavra também é utilizada para se referir a um gênero musical. Em ambos os casos, a origem do termo é italiana e remonta em especial aos séculos XV e XVI.

Há três hipóteses para a origem etimológica do termo: matricale, diz respeito a um canto popular materno; materialis, diz respeito a um componente poético profano; e matricalis, diz respeito a um canto polifônico comum nas igrejas.

O madrigal na literatura

Na Literatura, o Madrigal deriva-se para uma composição de estrofe única. Nela, os principais temas abordados são amores bucólicos e elogios à figura feminina. O madrigal apresenta hexassílabos e decassílabos de forma alternada, o que gera um interessante efeito polifônico na declamação dos poemas.

Durante o século XVII poetas árcades fizeram uso do Madrigal em suas obras. Afinal, a proposta do Madrigal vinculava-se em boa parte com a premissa pastoril e bucólica desse movimento. Nomes como Bocage, na Europa, e Silva Alvarenga, no Brasil, são exemplos de como o gênero alcançou, inclusive, autores célebres dentro do período.

O madrigal na música

No campo da música, o Madrigal começa a tomar forma no século XV. O gênero surge com uma estrutura simples, com no máximo 16 versos. Para alguns, o madrigal era o refino artístico das frótolas, textos curtos que, ao final, realizavam repetições dos refrões – a exemplo de algumas cantigas trovadorescas.

No século XVI, a produção madrigalesca inicia. O madrigal buscava unir o texto a um estilo musical harmônico, pautado nos cromatismos. A invenção da composição, então, é associada a Adrián Willaert (1490-1562), maestro responsável por elevar a música Veneziana. O madrigal assim emerge como uma composição para vozes, de caráter popular, cujo objetivo era trabalhar sobre um texto lírico, situando a melódica entre o religioso e o profano.

As principais características do madrigal

Origem e desenvolvimento: surgiu na Itália no final da Idade Média e se consolidou durante o Renascimento, inicialmente como um gênero poético e depois associado à música.

Estrutura flexível: não possui uma métrica fixa ou número determinado de versos, permitindo liberdade na composição poética. No entanto, costuma ser uma forma breve, normalmente com uma única estrofe.

Temática amorosa e bucólica: frequentemente aborda temas ligados ao amor, à natureza e aos sentimentos humanos, refletindo idealizações românticas. Assim, caracteriza-se também como um gênero profano e, por vezes, erótico.

Linguagem refinada: utiliza uma linguagem elegante, musical e expressiva, com forte apelo estético e sonoro.

Brevidade: geralmente é um poema curto, valorizando a concisão e a intensidade emocional.

Expressividade sonora: caracteriza-se pela musicalidade e pela harmonia das palavras, sendo muitas vezes adaptado para a música polifônica.

Permanência: embora tenha surgido no final da Idade Média, o termo continuou a ser usado e referenciado por poetas mesmo no século XX.

Exemplos de madrigal

Na literatura brasileira, os dois principais expoentes do madrigal são Botelho de Oliveira e Silva Alvarenga. No entanto, o termo, com o passar dos anos, dará título a poemas modernos, como o “Madrigal do Truco”, de Mário de Andrade.

Para entender melhor o gênero, leia com atenção os exemplos a seguir.

Manuel Botelho de Oliveira

Botelho de Oliveira foi um autor barroco. Ele escreveu o livro "Música do Parnaso" (1705). Sua obra conta com versos em português, castelhano e italiano.

Encarecimento dos rigores de Anarda

Se meu peito padece,
O rochedo mais duro se enternece;
Se afino o sentimento,
O tronco se lastima do tormento;
Se acaso choro e canto,
A fera se entristece do meu pranto;
Porém nunca estas dores
Abrandam, doce Anarda, teus rigores.
Oh condição de um peito!
Oh desigual efeito!
Que não possa abrandar uma alma austera
O que abranda ao rochedo, ao tronco, à fera!

Silva Alvarenga

Em seu livro "Glaura", de poemas erótico-amorosos, Silva Alvarenga demonstra habilidade ao compor uma série de madrigais elogiosos.

Sem título

Voai, suspiros tristes;
Dizei à bela Glaura o que eu padeço,
Dizei o que em mim vistes,
Que choro, que me abraso, que esmoreço.
Levai em roxas flores convertidos
Lagrimosos gemidos que me ouvistes:
Voai, suspiros tristes;
Levai minha saudade;
E, se amor ou piedade vos mereço,
Dizei à bela Glaura o que eu padeço.

Mário de Andrade

Já no século XX, Mário de Andrade faz uso do Madrigal para retratar cenas do cotidiano. Em um poema um pouco mais longo, embora organizado em versos em sua maioria heptassílabos, Mário de Andrade chama atenção para musicalidade.

Madrigal do Truco

Um Jogador solista (em parlato):
— Truco!

(cantando):
Arreda porteira! Aí vai
Os peitos do Zé Migué
Laranja não tem caroço
Jacaré não tem pescoço
Truco de baralho velho!

O grupo madrigalista:

Seis papudo! Sai tapera
Seis seu cara de tatu
Seu portão de cemitério
Arapuca de bambu
Toma seis que três é pouco!

Sai do caminho porqueira
Toma nove, seis é pouco
E diga porque não quer
Quem não pode não me espera
Seu cara de jacaré!

Truco mesmo! Sai perneta
Reboco de igreja velha
Esteira de bexiguento
Sapicuá de lazarento
Sumítico arrisque o tento!

Trucou, aguenta a parada
Carrapato é bicho feio
Tem cabelo até no joeio
Mosquito não leva freio
Pernilongo não se capa!

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Referências Bibliográficas

ALVARENGA, Silva. Glaura. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

ANDRADE, Mário de. Poesia completa. Editora Itatiaia, 1987.

GOÉS, Lúcia Pimentel. Carlos Ceia: s.v. “Madrigal”, E-Dicionário de Termos Literários (EDTL), coord. de Carlos Ceia, ISBN: 989-20-0088-9, consultado em 17-05-2025.

MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, [s.d.].

OLIVEIRA, Manuel Botelho de. Música do Parnasso. Rio de Janeiro: Instituto Nacionaldo Livro, 1953. 2t.

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Língua Portuguesa e Literatura formado pela Universidade de São Paulo (USP) e graduando na área de Pedagogia (FE-USP). Atua, desde 2017, dentro da sala de aula e na produção de materiais didáticos.