Manoel de Barros
Manoel de Barros foi um escritor modernista brasileiro pertencente à terceira geração modernista, chamada de “Geração de 45”.
É considerado um dos maiores poetas brasileiros, o qual foi agraciado com diversos prêmios literários.
Destaca-se o “Prêmio Jabuti” que recebeu duas vezes com as obras: O guardador de águas (1989) e O fazedor de amanhecer (2002).
Biografia de Manoel de Barros
Manoel Wenceslau Leite Barros nasceu em Cuiabá, Mato Grosso, dia 19 de dezembro de 1916.
Passou a infância em sua cidade natal onde seu pai, João Venceslau Barros, tinha uma fazenda no Pantanal.
Já na adolescência, mudou-se para Campo Grande onde estudou num Colégio Interno.
Formou-se em Direito no Rio de Janeiro. Lá se filiou ao partido Comunista e por conta do apoio de Luís Carlos Prestes a Getúlio Vargas, ficou desiludido com a política abandonando o partido.
Embora desde pequeno escrevesse poemas, foi em 1937 que Manoel publicou sua primeira obra: Poemas concebidos sem pecado.
Chegou a morar em outros países: Bolívia, Peru e Nova York. Nos Estados Unidos, fez um curso de artes plásticas e de cinema.
Viveu um ano por lá e ao retornar conheceu sua futura esposa, Stella. Casaram-se em 1947 e com ela teve três filhos: Pedro, João e Marta.
Seu filho João morreu num acidente de avião em 2008. Em 2013, seu primogênito Pedro foi vítima de um AVC e também faleceu.
Manoel de Barros faleceu em Campo Grande, dia 13 de novembro de 2014, aos 97 anos.
Obras de Manoel de Barros
Com uma linguagem simples, coloquial, vanguardista e poética, Manoel de Barros escreveu sobre temas como o cotidiano e a natureza.
Muitos de seus poemas receberam um toque de surrealismo, onde o universo onírico rege. Além disso, criou diversos neologismos.
Algumas de suas obras foram publicadas em Portugal, Espanha, França e Estados Unidos, sendo que as principais são:
- Poemas concebidos sem pecado (1937)
- A face imóvel (1942)
- Poesias (1956)
- Compêndio para uso dos pássaros (1960)
- Gramática expositiva do chão (1966)
- O guardador das águas (1989)
- Livro sobre nada (1996)
- O fazedor de amanhecer (2001)
- Tratado geral das grandezas do ínfimo (2001)
- Poemas rupestres (2004)
- Memórias inventadas I (2005)
- Memórias inventadas II (2006)
- Memórias inventadas III (2007)
- Poesia completa (2010)
- Portas de Pedro Viana (2013)
Poemas de Manoel de Barros
Para conhecer melhor a linguagem do poeta, confira abaixo três poemas:
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
O livro sobre nada
É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinha.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.
Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Esta tarefa de cessar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ateu é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é nada. Só se compara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.
Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.
O branco me corrompe.
Não gosto de palavra acostumada.
A minha diferença é sempre menos.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
Não preciso do fim para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.
O fazedor de amanhecer
Sou leso em tratagens com máquina.
Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis.
Em toda a minha vida só engenhei
3 máquinas
Como sejam:
Uma pequena manivela para pegar no sono.
Um fazedor de amanhecer
para usamentos de poetas
E um platinado de mandioca para o
fordeco de meu irmão.
Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas pelo Platinado de Mandioca.
Fui aclamado de idiota pela maioria
das autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que fiquei um tanto soberbo.
E a glória entronizou-se para sempre
em minha existência.
Frases de Manoel de Barros
- “Poesia é voar fora da asa.”
- “As coisas muito claras me noturnam.”
- “A minha independência tem algemas.”
- “Poetas e tontos são feitos com palavras.”
- “Meu fado é de não entender quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades.”
Leia também:
DIANA, Daniela. Manoel de Barros. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/manoel-de-barros/. Acesso em: