Resumo do livro Mayombe de Pepetela

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

Mayombe é um romance do escritor angolano Pepetela que foi publicado em 1980.

A obra recebe esse nome pois faz referência a uma região da África Ocidental que inclui os países:

  • Angola (província da Cabinda)
  • República do Congo
  • República Democrática do Congo
  • Gabão

Estrutura da Obra

Mayombe é constituída por seis capítulos:

  • A Missão
  • A Base
  • Ondina
  • A Surucucu
  • A Amoreira
  • Epílogo

Personagens

Os personagens que fazem parte da obra são:

  • Teoria: professor da base pertencente ao MPLA. É filho de um português com uma africana.
  • Comissário: um dos líderes políticos do MPLA chamado João.
  • Chefe de Operações: um dos líderes do MPLA.
  • Sem Medo: o comandante do MPLA.
  • Lutamos: guerrilheiro do MPLA.
  • Verdade: guerrilheiro do MPLA.
  • Muatiânvua: guerrilheiro do MPLA.
  • Ekuikui: guerrilheiro do MPLA.
  • Pangu-A-Kitina: guerrilheiro do MPLA.
  • Milagre: guerrilheiro do MPLA.
  • Ingratidão do Tuga: guerrilheiro do MPLA.
  • Vewê: guerrilheiro do MPLA.
  • Mundo Novo: guerrilheiro do MPLA.
  • André: primo do comandante, responsável pelo envio de alimentos à Base.
  • Ondina: professora e noiva do Comissário.

Resumo por Capítulo

A história do livro tem como cenário Angola nos anos 70, período que marca as lutas pela independência do país.

No primeiro capítulo intitulado “A Missão”, os guerrilheiros no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) chegam à selva de Mayombe.

O intuito principal era lutar com os exploradores, que estavam retirando madeira da região, e preparar uma emboscada para atacar o exército colonial.

Nesse momento, raptaram alguns dos trabalhadores. O intuito não era feri-los já que eles eram africanos também.

Assim, o comandante lhes explicou sobre a exploração de suas terras e o benefício que recebiam os portugueses ou colonizadores. No dia seguinte, todos foram libertados.

Na emboscada preparada pelos guerrilheiros, alguns adversários foram mortos. No entanto, saíram antes, visto o número de pessoas que estavam no exército dos colonizadores.

O segundo capítulo, intitulado “A Base”, faz referência à base de guerrilheiros do MPLA que fora construída na floresta de Mayombe. Chegam ao local oito novos guerrilheiros.

Nesse momento da obra começamos a notar algumas divergências entre as ideias do Comissário e do Comandante. Isso deixou alguns guerrilheiros preocupados com o foco da operação. Por fim, eles se entenderam.

A falta de alimento foi um dos momentos narrados pelo autor. André, primo do comandante, era encarregado de levar alimentos à base.

Despreocupado com a situação dos guerrilheiros, André acabou levando mantimentos para poucos dias. Esse fato deixou o Comandante incomodado.

O terceiro capítulo recebe o nome da noiva do Comissário: "Ondina". O relacionamento deles era complicado. Ela era professora e lecionava na cidade de Dolisie. Ambos fingiam ter atração e prazer sexual pelo outro.

A base dos guerrilheiros sofria com a ausência de abastecimento de mantimentos. E, claro, as discussões e desentendimentos entre os chefes e os guerrilheiros aumentavam cada vez mais.

Com isso, a ideia de tirar André de sua posição era a mais importante. Para tanto, André foi pego com Ondina, a noiva do Comissário.

Ela deixou uma carta para seu ex-noivo lhe dizendo que deixaria a cidade de Dolisie. Na maior parte do capítulo, o Comissário revela suas histórias amorosas e sua relação com Ondina.

Curiosamente, quando o Comissário vai ao encontro de Odina, eles se sentem atraídos e fazem amor de uma maneira diferente de todas as outras. Ele diz a ela que não é necessário abandonar a cidade por conta disso.

Pelo ato desonroso e por pertencerem a duas tribos diferentes (Kikongo e Kimbundo), o Comissário enviou André para Brazaville para ser julgado. Vale lembrar que nesse capítulo um dos guerrilheiros (Ingratidão) foge da base.

No quarto capítulo, intitulado "A Surucucu", é revelado o suposto ataque dos tugas à base de guerrilheiros e o planejamento do contra-ataque.

Em grande parte do capítulo eles focam na preparação e estratégias do MPLA. Dois grupos se dividiram, sendo que o Comandante lideraria um grupo pelo rio e o Chefe de Operações pelas montanhas.

No entanto, quando encontram com Teoria, este revela que não ocorrera nenhum ataque. Ele explicou que estava próximo do rio e viu uma cobra surucucu.

Diante disso, ele atirou nela. Vewê, um dos companheiros que ouvira o tiro, ficou desesperado e logo correu para pedir ajuda.

No quinto capítulo, "A Amoreira", Mundo Novo foi nomeado chefe em Dolisie. O Comandante Sem Medo recebeu a notícia de que seria transferido para leste. O Comissário ficou encarregado de chefiar o ataque aos Tugas no Pau Caído.

O grupo de guerrilheiros seguia em direção ao Pau Caído. Dormiram próximo do local, que seria atacado pela manhã. A maior parte do ataque correu como esperado, de forma que conseguiram atingir grande parte da base dos colonizadores.

No entanto, Lutamos, da tribo dos Cabindas, foi morto e dois guerrilheiros ficaram feridos. Mais tarde, Sem Medo foi atingido no ventre e acabou por morrer também.

O nome "A Amoreira" faz referência a um dos pensamentos de Sem Medo antes de morrer, que comparou seu tronco único com os homens. Por fim, o Comissário ordenou que cavassem um túmulo para os dois mortos ali mesmo.

Além disso, fez questão de ressaltar que dois homens de tribos diferentes (Cabinda e Kikongo) foram mortos para salvá-lo. Ele que era de outra tribo: Kimbundo.

No "Epílogo" da obra, o Comissário reflete sobre a morte do Comandante Sem Medo. Por fim, ele é enviado para leste no lugar do Comandante.

Análise da Obra

O romance Mayombe se aproxima de um texto documental ou de reportagem. Isso porque Pepetela nos apresenta as lutas entre os guerrilheiros angolanos e as tropas portuguesas durante a libertação do país.

O autor do livro ressalta a dificuldade dos guerrilheiros, enfatizando as diferenças e as rivalidades entre as tribos. Muitas vezes, esse problema gera a falta de um ideal entre todos.

Portanto, Pepetela deixa claro que as rivalidades devem ser deixadas de lado. Pois, os sentimentos, as angústias, os medos são de todos.

Através do cotidiano no MPLA, Pepetela recria de forma inovadora os conflitos e os momentos de reflexão de todos que lutavam por um país livre.

De tal modo, o conflito aqui não é somente com os portugueses, mas sim entre eles. A liberdade é o foco de todos, no entanto, a realidade é marcada pelas diferenças sociais e culturais de cada grupo.

Assim, ele aborda sobre uma Angola que almeja a libertação, ao mesmo tempo que demostra a falta de unidade de seus grupos.

A obra apresenta um narrador onisciente e onipresente, que narra os eventos em terceira pessoa. Todavia, em alguns trechos, ela é narrada em primeira pessoa pelos guerrilheiros do movimento.

Sendo assim, o romance é marcado pela polifonia, ou seja, as diversas vozes de seus personagens. O tempo da narrativa é cronológico, donde as ações apresentam uma linearidade.

Trechos da Obra

Para conhecer a linguagem utilizada pelo autor em sua obra, confira abaixo alguns trechos:

Capítulo I: A Missão

"Eu, O Narrador, Sou Teoria.

Nasci na Gabela, na terra do café. Da terra recebi a cor escura de café, vinda da mãe, misturada ao branco defunto do meu pai, comerciante português. Trago em mim o inconciliável e é este o meu motor. Num Universo de sim ou não, branco ou negro, eu represento o talvez. Talvez é não, para quem quer ouvir sim e significa sim para quem espera ouvir não. A culpa será minha se os homens exigem a pureza e recusam as combinações? Sou eu que devo tornar-me em sim ou em não? Ou são os homens que devem aceitar o talvez? Face a este problema capital, as pessoas dividem-se aos meus olhos em dois grupos: os maniqueístas e os outros. É bom esclarecer que raros são os outros, o Mundo é geralmente maniqueísta."

Capítulo II: A Base

"O Mayombe tinha aceitado os golpes dos machados, que nele abriram uma clareira. Clareira invisível do alto, dos aviões que esquadrinhavam a mata, tentando localizar nela a presença dos guerrilheiros. As casas tinham sido levantadas nessa clareira e as árvores, alegremente, formaram uma abóbada de ramos e folhas para as encobrir. Os paus serviram para as paredes. O capim do teto foi transportado de longe, de perto do Lombe. Um montículo foi lateralmente escavado e tornou-se forno para o pão. Os paus mortos das paredes criaram raízes e agarraram-se à terra e as cabanas tornaram-se fortalezas. E os homens, vestidos de verde, tornaram-se verdes como as folhas e castanhos como os troncos colossais. A folhagem da abóbada não deixava penetrar o Sol e o capim não cresceu em baixo, no terreiro limpo que ligava as casas. Ligava, não: separava com amarelo, pois a ligação era feita pelo verde."

Capítulo III: Ondina

"— O amor é assim. Se se torna igual, a paixão desaparece. É preciso reavivar a paixão constantemente. Eu não o sabia ainda, deixei-me convencer pela vida sem histórias que levávamos. Vês a vida dum empregado de escritório em Luanda? Está bem que tinha o trabalho clandestino, a Leli começava a interessar-se, estudávamos juntos o marxismo. Mas sentimentalmente tínhamos parado. Chegámos à estabilidade. A culpa foi minha que me acomodei à situação, que não me apercebi que a rotina é o pior inimigo do amor. Mesmo na cama nos tornámos rotineiros. Depois apareceu o outro, metido a poeta, fazendo-lhe versos, falando bem. Tocou na corda sentimental dela. Toda a mulher gosta de ser a musa dum poeta."

Capítulo IV: A Surucucu

"— Também eu, Ondina. Isso é que me enraivece. Queremos transformar o mundo e somos incapazes de nos transformar a nós próprios. Queremos ser livres, fazer a nossa vontade, e a todo o momento arranjamos desculpas para reprimir os nossos desejos. E o pior é que nos convencemos com as nossas próprias desculpas, deixamos de ser lúcidos. Só covardia. É medo de nos enfrentarmos, é um medo que nos ficou dos tempos em que temíamos Deus, ou o pai ou o professor, é sempre o mesmo agente repressivo. Somos uns alienados. O escravo era totalmente alienado. Nós somos piores, porque nos alienamos a nós próprios. Há correntes que já se quebraram mas continuamos a transportá-las connosco, por medo de as deitarmos fora e depois nos sentirmos nus."

Capítulo V: A Amoreira

"A amoreira gigante à sua frente. O tronco destaca-se do sincretismo da mata, mas se eu percorrer com os olhos o tronco para cima, a folhagem dele mistura-se à folhagem geral e é de novo o sincretismo. Só o tronco se destaca, se individualiza. Tal é o Mayombe, os gigantes só o são em parte, ao nível do tronco, o resto confunde-se na massa. Tal o homem. As impressões visuais são menos nítidas e a mancha verde predominante faz esbater progressivamente a claridade do tronco da amoreira gigante. As manchas verdes são cada vez mais sobrepostas, mas, num sobressalto, o tronco da amoreira ainda se afirma, debatendo-se. Tal é a vida. E que faz o rosto do mecânico ali no tronco da amoreira! Sorri para mim."

Capítulo VI: Epílogo

"O Narrador Sou Eu, O Comissário Político.

A morte de Sem Medo constituiu para mim a mudança de pele dos vinte e cinco anos, a metamorfose. Dolorosa, como toda metamorfose. Só me apercebi do que perdera (talvez o meu reflexo dez anos projetado à frente), quando o inevitável se deu.

Sem Medo resolveu o seu problema fundamental: para se manter ele próprio, teria de ficar ali, no Mayombe. Terá nascido demasiado cedo ou demasiado tarde? Em todo o caso, fora do seu tempo, como qualquer herói de tragédia.

Eu evoluo e construo uma nova pele. Há os que precisam de escrever para despir a pele que lhes não cabe já. Outros mudam de país. Outros de amante. Outros de nome ou de penteado. Eu perdi o amigo."

Quem é Pepetela?

Mayombe

Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido pelo pseudônimo de Pepetela, é um escritor africano. Ele nasceu na cidade de Benguela, Angola, em 29 de outubro de 1941.

Em 1969, participou da luta de libertação angolana, em Cabinda. Nesse momento, adotou o nome de guerra: Pepetela.

Além de diversos romances, ele escreveu crônicas e peças de teatro. Em 1997, Pepetela recebeu o "Prêmio Camões".

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Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.