Messianismo

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Professora de História

O Messianismo é a crença na vinda ou no retorno de uma pessoa dotada de poderes especiais que trará paz e a prosperidade na Terra, inaugurando uma nova era.

Está presente desde a Antiguidade em diversas religiões, inclusive politeístas. Encontramos referências ao Messianismo entre os caldeus e os persas.

Dentre as religiões monoteístas, os judeus, nos escritos do profeta Isaías, lemos referências à figura de um enviado especial, ungido por Deus.

O Messianismo, porém, não é exclusivo das religiões. Muitas lendas apontam para um redentor puramente humano, ainda que tenha características especiais, cuja missão é restaurar o mundo.

Messianismo Judaico

O Messianismo judaico consiste na crença que um Messias virá libertar os judeus e os reconduzirá à Terra Prometida. O fato dos judeus terem um enorme histórico de perseguição cristalizou a fé num futuro Salvador.

Messianismo Cristão

Herdeiros das tradições judaicas, os cristãos identificam na pessoa de Jesus, o seu Messias. Agora, seus seguidores esperam pela segunda vinda de Jesus.

A partir da obra de Santo Agostinho, “Cidade de Deus”, escrita em 410, o Messianismo, na Igreja Católica, ganhou interpretações místicas. Ao invés da redenção acontecer na cidade terrena, a prosperidade completa só ocorrerá na Cidade Celeste, no Paraíso.

Messianismo na História

Entretanto, há mitos fundacionais que remetem à figura de um ser especial para explicar a origem de um determinado povo ou nação.

Um exemplo disso seria a lenda do rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda, de origem britânica. Somente Artur, ignorando que era um príncipe, conseguiu mover a espada Excalibur da pedra que a prendia e assim foi reconhecido e proclamado rei dos bretões. Igualmente, apenas o novo rei escolhido será capaz de retirar Excalibur do lago e inaugurar outro reino de riqueza e paz.

Messianismo Português: Sebastianismo

Em Portugal, o Messianismo se manifesta na figura do rei Dom Sebastião (1554-1578).

Desaparecido precocemente na Batalha de Alcácer-Quibir (1578), no Marrocos, o corpo do monarca nunca foi encontrado. Desta maneira, o mito de que o rei Dom Sebastião voltaria e restauraria o Império Português permaneceu no imaginário coletivo e chegou ao Brasil.

Messianismo no Brasil

No Brasil tivemos vários movimentos com características messiânicas.

Segundo Reinado: Revolta dos Muckers

O primeiro deles foi aRevolta dos Muckersem 1874, no Rio Grande do Sul. Nesta ocasião, um grupo de colonos alemães reconheceu Jacobina Mentz Maurer como Jesus Cristo.

Assim, passaram a viver como ela e o marido ordenavam: sem beber e sem utilizar dinheiro para trocas comerciais. Esta seita acabou por dividir a comunidade alemã e só terminou com um banho de sangue promovido pelas tropas estaduais.

Primeira República: Canudos e Contestado

Após a Proclamação da República aconteceram dois movimentos messiânicos, que são considerados os maiores do Brasil: Canudos e Contestado. Ambos são semelhantes, tanto pelo número de seguidores quanto pela resposta violenta do governo ao tratar da questão.

Decepcionados com a proclamação da República, camponeses de várias partes do Brasil, se juntam a líderes carismáticos que prometem melhores condições de vida à população.

Em Canudos-BA, um grupo de trabalhadores rurais se agrupa em torno a Antônio Conselheiro. Constroem um grande povoado onde vivem à margem da lei e começam a incomodar os coronéis locais. O grupo é dissolvido após intensas batalhas contra as tropas republicanas.

Canudos Antonio Conselheiro

Charge retratando Antônio Conselheiro rejeitando a República. Revista Ilustrada, 1896.

Por outro lado, a Guerra do Contestado aconteceu nos limites entre os estados do Paraná e Santa Catarina, de 1912-1916.

O governo brasileiro entregou uma grande quantidade de terras para companhias madeireiras estrangeiras. Isso ameaçava os camponeses que passaram a contestar esta decisão ora junto aos governos estaduais, ora ao governo federal.

Reunidos em torno do "monge" José Maria de Santo Agostinho, que declarou uma "guerra santa" às tropas federais, os revoltosos resistiram por quatro anos. Apesar de José Maria morrer lutando, seus seguidores ainda continuaram o conflito liderados por Maria Rosa que chegou a comandar 6000 homens em batalha.

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Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.