O Crime do Padre Amaro
O Crime do Padre Amaro é um romance de tese do escritor português Eça de Queirós (1845-1900). A obra foi publicada em 1875, marcando o início do realismo português.
Vale lembrar que Eça é considerado um dos maiores escritores do país e ainda, o maior representante da prosa realista e naturalista de língua portuguesa.
Personagens da Obra
Os principais personagens da trama são:
- Amaro Vieira: padre e protagonista da estória.
- Amélia: jovem amante de Amaro.
- João Eduardo: noivo de Amélia.
- Dona Joaneira: mãe de Amélia e amante de Cônego Dias.
- Cônego Dias: mestre do seminário e amante de Dona Joaneira.
- Ruça: criada na casa de Dona Joaneira.
- Dona Josefa: Irmã de Cônego Dias.
- Dionísia: criada do Padre Amaro.
- Libaninho: personagem afeminada, fofoqueira e divertida.
- Doutor Gouveia: médico da cidade.
- Doutor Godinho: dono do jornal da cidade.
- Tio Esgueilhas: sineiro e pai de Totó.
- (Antônia) Totó: mulher paralítica, apaixonada pelo padre Amaro.
Resumo da Obra
A obra tem como espaço a cidade de Leiria, em Portugal. José Miguéis, o pároco da cidade faleceu. Com a chegada de um novo pároco, Amaro é recebido por uma das famílias da cidade.
Na pensão da D. Joaneira, ele se envolve com a filha dela, a jovem beata de 24 anos: Amélia. Todavia, o noivo de Amélia, João Eduardo, começa a sentir ciúmes, pois nos encontros que haviam na casa, a jovem e o Padre começavam a trocar olhares.
Diante disso, João publica no jornal da cidade um comunicado intitulado “Os modernos fariseus”. Ele escreve sobre as pretensões do padre Amaro de Cônego Dias em relação a quebra do celibato.
Por fim, o noivo enciumado dá-lhe um soco. Desempregado, João Eduardo decide ir para o Brasil.
Ao perceber a paixão que cada dia crescia mais, os amantes resolvem se encontrar às escondidas. Com medo das pessoas descobrirem a relação, Amaro muda de casa.
Todavia, o sentimento dele por Amélia era tão grande, que o leva a repensar sobre sua vocação.
Com o envolvimento carnal deles, Amélia fica grávida do padre Amaro. Dona Josefa, irmã do Cônego acompanha a jovem ao interior. A ideia central era fugir da sociedade enquanto esperava o bebê nascer.
Quando a criança nasce, Amaro entrega o filho a uma família que tinha a fama de matar os bebês. Nesse ínterim, o filho do casal some e desconfiam que esteja morto.
Triste e incapaz de ficar longe de seu filho, Amélia falece. Após o ocorrido, Amaro resolve deixar Leiria, mas não abandona sua profissão.
Confira a obra na íntegra, fazendo o download do PDF aqui: O Crime do Padre Amaro.
Análise da Obra
O Crime do Padre Amaro é uma obra polêmica que chocou a Igreja Católica e a sociedade de Portugal e do Brasil na época em que fora publicada.
O narrador é onisciente e a obra é narrada em terceira pessoa. Ela está organizada em 25 capítulos sem título.
Com forte teor social e político, a obra está inserida na prosa realista e naturalista. Contém diversas descrições e pensamentos dos personagens.
No tocante ao naturalismo, o determinismo é predominante de forma que o homem é fruto do meio em que vive.
Isso faz com que o meio social o qual está inserido modele o caráter, a personalidade e o comportamento do homem.
O romance recebeu diversas críticas por conta de seu conteúdo relacionado com paixão, sexualidade, sensualidade, egoísmo, celibato, poder eclesiástico, etc.
A ideia do escritor era mostrar a hipocrisia e corrupção dos membros do clero da Igreja e ainda, da sociedade provinciana e burguesa da época.
Além disso, Eça pretendia esclarecer assuntos relacionados com as convenções sociais e a forte religiosidade.
Sendo assim, o escritor coloca Amaro como personagem central o qual entrou para o seminário com 15 anos de idade, mesmo contra sua vontade. Isso porque no contexto da época os preceitos cristãos estavam acima de tudo.
Portanto, Amaro se entrega a essa vocação, ainda que demostrasse desejos carnais por mulheres, inclusive associados às imagens religiosas.
Vale notar que depois da publicação da obra, Eça foi perseguido pela Igreja Católica.
Trechos da Obra
Para compreender melhor a linguagem utilizada por Eça, confira abaixo alguns trechos da obra:
Capítulo I
“Foi no domingo de Páscoa que se soube em Leiria, que o pároco da Sé, José Miguéis, tinha morrido de madrugada com uma apoplexia. O pároco era um homem sangüíneo e nutrido, que passava entre o clero diocesano pelo comilão dos comilões. Contavam-se histórias singulares da sua voracidade. O Carlos da Botica — que o detestava — costumava dizer, sempre que o via sair depois da sesta, com a face afogueada de sangue, muito enfartado:
— Lá vai a jibóia esmoer. Um dia estoura!
Com efeito estourou, depois de uma ceia de peixe — à hora em que defronte, na casa do doutor Godinho que fazia anos, se polcava com alarido. Ninguém o lamentou, e foi pouca gente ao seu enterro. Em geral não era estimado. Era um aldeão; tinha os modos e os pulsos de um cavador, a voz rouca, cabelos nos ouvidos, palavras muito rudes.”
Capítulo XVI
“Encontravam-se todas as semanas, ora uma ora duas vezes, de modo que as suas visitas caridosas à paralítica perfizessem ao fim do mês o número simbólico de sete, que devia corresponder, na idéia das devotas, às Sete Lições de Maria. Na véspera o padre Amaro tinha prevenido o tio Esguelhas, que deixava a porta da rua apenas cerrada, depois de ter varrido toda a casa e preparado o quarto para a prática do senhor pároco. Amélia nesses dias erguiase cedo; tinha sempre alguma saia branca a engomar, algum laçarote a compor; a mãe estranhava-lhe aqueles arrebiques, o desperdício de água-de-colônia de que ela se inundava; mas Amélia explicava que "era para inspirar à Totó idéias de asseio e de frescura". E depois de vestida sentava-se, esperando as onze horas, muito séria, respondendo distraidamente às conversas da mãe, com uma cor nas faces, os olhos cravados nos ponteiros do relógio: enfim a velha matraca gemia cavamente as onze horas, e ela, depois de uma olhadela ao espelho, saía, dando uma beijoca à mamã.”
Capítulo XXIV
“Amaro, ao sair do paço, foi direito à Sé. Fechou-se na sacristia, a essa hora deserta: e depois de pensar muito tempo com a cabeça entre os punhos, escreveu ao cônego Dias:
"Meu caro padre-mestre. — Treme-me a mão ao escrever estas linhas. A infeliz morreu. Eu não posso, bem vê, e vou-me embora, porque, se aqui ficasse, estalava-me o coração. Sua excelentíssima irmã lá estará tratando do enterro... Eu, como compreende, não posso. Muito lhe agradeço tudo... Até um dia, se Deus quiser que nos tomemos a ver. Por mim conto ir para longe, para alguma pobre paróquia de pastores, acabar meus dias nas lágrimas, na meditação e na penitência. Console como puder a desgraçada mãe. Nunca me esquecerei do que lhe devo, enquanto tiver um sopro de vida. E adeus, que nem sei onde tenho a cabeça. — Seu amigo do C. — Amaro Vieira."
''P.S. — A criança morreu também, já se enterrou''.”
Filmes
A obra de Eça de Queirós foi transformada em filmes e minisséries. Em 2002, foi lançado em espanhol “El crimen del Padre Amaro”, dirigido por Carlos Carrera e escrito por Vicente Leñero.
Já em 2005, o realizador português Carlos Coelho da Silva lança O Crime do Padre Amaro, baseado na obra de Eça. Ambos os filmes tiveram críticas positivas e bateram recordes de bilheterias.
Além disso, o canal português SIC apresentou uma minissérie baseada na estória do romance.
DIANA, Daniela. O Crime do Padre Amaro. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/o-crime-do-padre-amaro/. Acesso em: