O que é Antropomorfismo
O Antropomorfismo é um conceito filosófico que está associado as formas humanas, ou seja, ele atribui características, sejam físicas, sentimentos, emoções, pensamentos, ações ou comportamentos humanos aos objetos inanimados ou seres irracionais.
Em outras palavras, o antropomorfismo atribui caraterísticas humanas aos seres de natureza não humanas. Do grego, o termo “antropomorfismo” é a junção dos termos “anthropo” (homem) e “morfhe” (forma).
Antropopatia
O Antropomorfismo está associado ao conceito de “Antropopatia” de forma que este significa a atribuição de sentimentos humanos à Deus. A palavra, derivado do grego e representa a união dos termos “anthropo” (homem) e “pathos”, (paixão).
Para exemplificar, observe o trecho abaixo retirado das gênesis: “Então arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra e isto lhe pesou no coração” (Gn 6:6). No exemplo podemos notar as atribuições de sentimentos humanos à Deus.
Antropomorfismo Bíblico
Esse conceito tem sido muito utilizado em diversas religiões, por exemplo, no Cristianismo, de forma que aspectos humanos são atribuídos aos deuses ou aos seres sobrenaturais (anjos, santos, demônios), os quais não apresentam forma determinada (amorfos).
Podemos pensar por exemplo, em Deus, o qual é incitado como se tivesse corpo (antropomorfismo) e sentimentos humanos (antropopatia) sendo uma figura associada ao sexo masculino. No entanto, os textos bíblicos deixam claro que Deus é espírito e, portanto, não possui um corpo nem sentimentos humanos.
De tal maneira o antropomorfismo e a antropopatia possuem uma função muito importante na religião posto que facilitam o entendimento sobre o mundo espiritual. Para exemplificar melhor, segue abaixo alguns trechos da Bíblia, onde ao Senhor estão atribuídas características humanas:
- “Assim diz o Senhor: Nisto você saberá que eu sou o Senhor: com a vara que trago na mão ferirei as águas do Nilo, e elas se transformarão em sangue.” (êxodo 7:17)
- “Os olhos do Senhor voltam-se para os justos e os seus ouvidos estão atentos ao seu grito de socorro;” (salmo 34:15)
- “O rosto do Senhor volta-se contra os que praticam o mal, para apagar da terra a memória deles.” (salmo 34:16)
- “Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá” (salmo 37:5)
- “O Senhor, porém, ri dos ímpios, pois sabe que o dia deles está chegando.” (salmo 37:13)
Antropomorfismo na Mitologia
Vale lembrar que esse conceito é muito antigo, o qual fora utilizado em diversas mitologias sobretudo, na mitologia grega, com o intuito de explicar diversos aspectos da realidade humana e da natureza.
Assim, as divindades e os deuses gregos possuíam características que os aproximavam dos seres humanos. Da mesma maneira que na religião, o antropomorfismo facilitou o entendimento das coisas intangíveis, abstratas e não palpáveis nas sociedades antigas.
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Antropomorfismo na Literatura
Contos de fadas e fábulas são exemplos notórios de antropomorfismo na literatura, na medida em que ao explicar relações morais e/ou sociais, são atribuídas características humanas seja aos objetos, animais, plantas. No geral, elas apresentam animais que falam e pensam. Esse recurso expressivo é muito utilizado na construção de desenhos animados, por exemplo.
Nesse ínterim, a personificação, também chamada de prosopopeia ou animismo, é uma figura de linguagem muito utilizada na literatura e está associada ao antropomorfismo uma vez que o termo “personificar” significa “dar vida aos seres inanimados ou irracionais”. O antropomorfismo é também utilizado em outras expressões artísticas, tal qual na escultura e pintura.
Zoomorfismo
O zoomorfismo é um conceito que atribui características dos animais aos objetos ou aos seres humanos. A palavra significa a junção dos termos “zoo” (animal) e “morfismo” (formas).
Da mesma forma que o antropomorfismo esse conceito é utilizado nas artes, por exemplo, na obra literária brasileira “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo ou no romance de Graciliano ramos, "Vidas Secas".
Em ambas, as personagens possuem características que as aproximam de animais. Além do zoomorfismo presente na obra, notamos também o antropomorfismo, donde os personagens se aproximam dos animais e estes dos seres humanos, com a humanização da cadela chamada "Baleia".
Trecho da obra “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo
“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da ultima guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.
(...) Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão.”
Trecho da Obras "Vidas Secas" de Graciliano Ramos
“Examinou o terreiro, viu Baleia coçando-se a esfregar as peladuras no pé de turco, levou a espingarda ao rosto. A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no tronco e foi-se desviando, até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando apenas as pupilas negras. Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou a janela, esgueirou-se ao longo da cerca do curral, deteve-se no mourão do canto e levou de novo a arma ao rosto. Como o animal estivesse de frente e não apresentasse bom alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao chegar às catingueiras, modificou a pontaria e puxou o gatilho. A carga alcançou os quartos traseiros e inutilizou uma perna de Baleia, que se pôs a latir desesperadamente.
Ouvindo o tiro e os latidos, sinha Vitória pegou-se à Virgem Maria e os meninos rolaram na cama, chorando alto. Fabiano recolheu-se.
E Baleia fugiu precipitada, rodeou o barreiro, entrou no quintalzinho da esquerda, passou rente aos craveiros e às panelas de losna, meteu-se por um buraco da cerca e ganhou o pátio, correndo em três pés. Dirigiu-se ao copiar, mas temeu encontrar Fabiano e afastou-se para o chiqueiro das cabras. Demorou-se aí um instante, meio desorientada, saiu depois sem destino, aos pulos.
Defronte do carro de bois faltou-lhe a perna traseira. E, perdendo muito sangue, andou como gente, em dois pés, arrastando com dificuldade a parte posterior do corpo. Quis recuar e esconder-se debaixo do carro, mas teve medo da roda.”
Antropozoomorfismo
Já o antropozoomorfismo é a união dos dois conceitos, ou seja, relacionam as formas e características humanas e animais aos seres inanimados e irracionais. A Esfinge de Gizé é um bom exemplo de antropozoomorfismo com corpo de leão e cabeça humana.
O que é Antropomorfismo. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/o-que-e-antropomorfismo/. Acesso em: