Peste negra: o que foi, sua história de origem e sintomas da doença
A peste negra foi uma pandemia de peste bubônica causada pela bactéria Yersina pestis, que se alastrou pela Ásia e Europa durante o século XIV.
Calcula-se que um terço da população na Europa tenha morrido em decorrência da doença. Os números são imprecisos, mas variam entre 25 a 75 milhões de mortos.
A doença teve sua origem na Ásia Central (provavelmente na China) e se espalhou pelo ocidente através dos barcos que realizavam o comércio entre Ásia e Europa.
Por conta das condições de higiene, esses barcos traziam muitos ratos, que eram infectados e carregavam a peste. As pulgas então se contaminavam neles e, ao irem para os seres humanos, os contaminavam.
Essa contaminação poderia acontecer também no contato com outras pessoas contaminadas.
Origem da peste negra
Um dos primeiros relatos sobre a peste negra foi registrado durante a guerra entre genoveses e mongóis, travada na cidade de Caffa (atual Teodósia), na Península da Crimeia, em 1346.
Neste episódio, a doença se espalhou no exército mongol, dizimando seus combatentes. Contudo, antes de se retirarem, decidiram atirar cadáveres contaminados na cidade de Caffa, numa tentativa de também espalhar a doença entre os italianos.
Quando as batalhas acabaram, os genoveses voltaram à Península Itálica, levando a bordo ratos que hospedavam pulgas, estas últimas, as transmissoras da bactéria da doença.
A partir de então, surtos da doença passaram a aparecer em diferentes regiões europeias.
O principal fenômeno transmissor da peste negra foi o comércio marítimo realizado pelos mares Negro e Mediterrâneo.
Assim, a doença foi disseminada a partir de portos, como Veneza, Marselha, Barcelona e Valência, por exemplo.
Outro caminho de propagação foi a Rota da Seda, por onde passavam as caravanas vindas do Oriente, em direção aos mercados europeus.
As cidades possuíam uma maior taxa de contágio em relação às regiões rurais, pois as pessoas conviviam mais próximas, facilitando o contágio.
Características e sintomas da peste negra
A doença poderia se apresentar de três formas distintas: pulmonar, bubônica e septicêmica.
Alguns dos sintomas que poderiam aparecer ao enfermo eram:
- dores pelo corpo;
- febre alta;
- sangramento pelos orifícios;
- inchaço nos gânglios e aparecimento de bubos;
- protuberâncias na pele.
Os sintomas da peste negra eram parecidos aos de uma gripe muito forte, porém com a importante diferença de que os gânglios inchavam.
Então, apareciam na pele protuberâncias que se pareciam aos bulbos das plantas. Por conta disso, a enfermidade também recebe o nome de "peste bubônica".
Médicos da peste negra e suas máscaras
Durante a peste negra, as cidades buscavam contratar médicos para tratar os doentes, porém, a quantidade deles era insuficiente para conter a crise. Além disso, o conhecimento médico era limitado e apresentava pouca eficácia em tratar a enfermidade.
E, apesar de serem muito relacionadas à Idade Média, foi apenas no século XVII, já na Idade Moderna, que apareceram as imagens de médicos vestidos com as máscaras de couro e com um bico que se assemelhava ao de uma ave.
Dentro dessas máscaras havia ervas aromáticas a fim de prevenir o contágio, pois durante muito tempo se acreditou que a doença era transmitida pelo ar, através do mau cheiro.
Essas ervas também ajudavam a suportar o fedor da putrefação dos cadáveres.
Os médicos eram contratados pelas cidades para cuidar dos doentes, contabilizar os mortos e alertar as autoridades sobre possíveis novos focos da doença. Eles ganhavam bastante dinheiro durante os períodos de epidemia, porém, nem todos sobreviviam à peste.
Qual era a cura da peste negra
Para curar da peste negra era necessário isolar o doente. Não havia medicações efetivas para o combate à doença.
O contágio atingiu e matou os habitantes de comunidades inteiras, esvaziou mosteiros e assustou populações.
As autoridades decretavam o isolamento das regiões atingidas. Isso era possível porque, na Idade Média, várias cidades eram amuralhadas e podiam se fechar facilmente.
Outra medida era acender fogueiras e queimar ervas a fim de que a fumaça levasse a doença embora. Também eram empregadas beberagens – remédios cozidos, feitas à base de valeriana e verbena, visando tratar os doentes.
Como acabou a peste negra
A maior crise da peste negra, ocorrida entre 1347 e 1351, se encerrou devido à própria exaustão do ciclo da doença. Isso quer dizer que ela se alastrou pelas principais áreas do continente, deixando pessoas mortas ou já curadas.
Combinado a isso, o emprego de medidas de confinamento, a construção de hospitais fora dos muros da cidade e a incineração dos mortos também ajudou a reduzir o contágio da doença.
Contudo, a peste negra não foi extinta. Novos surtos da doença voltaram a ocorrer posteriormente, embora não tenham sido tão devastadores quanto à primeira propagação. Na verdade, a doença persistiu até o século XX.
Consequências da peste negra
A Europa presenciou um decréscimo demográfico (diminuição da população) ocasionado pelas mortes por peste negra.
Esse decréscimo foi intensificado também por epidemias de outras doenças, como sarampo, rubéola e gripe.
Ao mesmo tempo que a peste negra assolava a Europa, França e Inglaterra se enfrentavam na Guerra dos Cem Anos.
Com menos pessoas vivendo na Europa, consequentemente o continente presenciou a falta de mão de obra nos campos, levando a uma diminuição na produção agrícola.
Para compensar o decréscimo nos ganhos, os senhores feudais passaram a aumentar a carga de impostos dos servos. Este fato gerou várias revoltas camponesas que desestabilizaram a sociedade medieval.
Esses elementos, combinados com o avanço do comércio e o fortalecimento econômico da burguesia, contribuíram para a crise do feudalismo e a chamada Crise do Século XIV.
Da mesma forma, houve quem se apropriasse de terras, bens e heranças que foram deixados abandonados por aqueles que haviam morrido vítimas da peste.
Igualmente, surgiram ordens religiosas de flagelantes, que costumavam se mutilar para buscar o perdão dos pecados.
As indulgências (perdão dos pecados, que muitas vezes eram vendidos pelo clero), concedidas pela Igreja Católica, também ganharam força, pois todos tratavam de assegurar uma boa morte.
Peste negra no Brasil
O Brasil sofreu uma epidemia de peste negra de 1900 a 1907.
Em 1899, a cidade do Porto, em Portugal, foi acometida por esta doença e, provavelmente, os navios brasileiros que comercializavam ali, trouxeram-na para o Brasil.
Inicialmente, foram registrados casos em Santos (SP), mas foi a cidade do Rio de Janeiro, então capital do país, que enfrentou as maiores consequências.
Além disso, a febre amarela, que era epidêmica à época, e a varíola, se juntaram à peste bubônica, tornando a situação caótica.
Estas enfermidades só foram extintas a partir de medidas drásticas de higiene, vacinação e saneamento básico.
Inclusive, a vacinação obrigatória contra a varíola foi realizada de forma truculenta e sem o devido esclarecimento à população, o que originou a Revolta da Vacina em 1904.
Leia também:
- Idade Média: o que foi, características e acontecimentos
- Guerra dos Cem Anos
- As Cruzadas
- Maiores pandemias da história da humanidade
- Questões sobre a Baixa Idade Média (com gabarito comentado)
Referências Bibliográficas
ALBERT, John. The Black Death: The Great Mortality of 1348-1350. A brief history with documents. Nova Iorque: Palgrave Macmillian, 2005.
ARMSTRONG, Dorsey. The Black Death: The World's most Devastating Plague. Chantilly, VA: The Great Courses, 2016.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013.
PEREIRA, Lucas. Peste negra: o que foi, sua história de origem e sintomas da doença. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/peste-negra/. Acesso em: