Prosa Intimista
A prosa intimista (ou prosa de sondagem psicológica) é um estilo literário em que as emoções e sentimentos do escritor e dos personagens da obra são refletidos na escrita.
Ou seja, o foco maior reside na exploração dos aspectos humanos e sobretudo, no tempo psicológico dos personagens envolvidos na trama.
Desse modo, as características meramente físicas das personagens são substituídas pelas características psicológicas, mostrando o lado íntimo das personagens.
Note que a prosa intimista esteve baseada nas ideias psicanalistas de Freud e em outras tendências que surgiam da psicologia no século XX. Além das crônicas e contos, a prosa modernista no Brasil abrangeu diversas tendências: intimista, urbana, regionalista, social e política.
No Brasil, a escritora modernista que merece destaque na produção da prosa intimista é sem dúvida: Clarice Lispector (1920-1977).
Ela fez parte da terceira geração modernista, também chamada de “Geração de 45”, a qual reunia artistas empenhados em demostrar os novos caminhos da literatura e sobretudo, da experimentação literária e das inovações estéticas.
Nessa fase, diferente dos outros períodos modernistas, já é possível encontrar aspectos do pós-modernismo, como a mistura do real e do imaginário e a multiplicidade de estilos.
Além de Clarice, outros escritores brasileiros que produziram obras de caráter intimista foram: Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon, Lya Luft, Osman Lins, Ivan Ângelo e Raduan Nassar
Características da prosa intimista
As principais características da prosa intimista são:
- Linguagem coloquial (informal)
- Análise psicológica dos personagens
- Experiência pessoal e interior
- Foco no inconsciente e fluxo de consciência
- Fantasia e sonhos (universo onírico)
- Conflitos interiores e introspectivos
- Multiplicidade de interpretações
- Tendências pós-modernistas
Exemplo de prosa intimista
Para compreender melhor a linguagem da prosa intimista, segue abaixo um trecho do último romance de Clarice Lispector “A Hora da Estrela” (1977):
“Aí Macabéa disse uma frase que nenhum dos transeuntes entendeu. Disse bem pronunciado e claro:
— Quanto ao futuro.
Terá tido ela saudade do futuro? Ouço a música antiga de palavras e palavras, sim, é assim. Nesta hora exata Macabéa sente um fundo enjôo de estômago e quase vomitou, queria vomitar o que não é corpo, vomitar algo luminoso. Estrela de mil pontas.
O que é que estou vendo agora e que me assusta? Vejo que ela vomitou um pouco de sangue, vasto espasmo, enfim o âmago tocando no âmago: vitória!
E então — então o súbito grito estertorado de uma gaivota, de repente a águia voraz erguendo para os altos ares a ovelha tenra, o macio gato estraçalhando um rato sujo e qualquer, a vida come a vida.”
Leia também:
DIANA, Daniela. Prosa Intimista. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/prosa-intimista/. Acesso em: