Quilombos: entenda o que são, sua história e importância (com exemplos)

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Professor de História

Quilombos eram comunidades formadas por pessoas escravizadas que fugiam de suas fazendas e outros locais de trabalho. Esses lugares se transformaram em centros de resistências dos negros escravizados que escapavam do trabalho forçado no Brasil.

Atualmente, as comunidades quilombolas são reconhecidas pela Constituição Brasileira de 1988, que garante a elas o direito à propriedade das terras que tradicionalmente ocupam. Além disso, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e outras instituições públicas têm o papel de apoiar a regularização fundiária e a preservação dos direitos e da identidade dessas comunidades.

Quilombo é uma palavra de origem banto (do termo "kilombo"), que significa "acampamento" ou "fortaleza". O termo foi usado pelas autoridades portuguesas para designar as comunidades formadas por escravos fugitivos, especialmente após o surgimento do Quilombo dos Palmares.

Em outros documentos e regiões escravistas, os quilombos também eram chamados de mocambos. Na América Espanhola, comunidades semelhantes eram conhecidas como cumbes ou palenques, enquanto na América inglesa e francesa, usava-se o termo maroons.

Principais informações sobre o assunto

  • Quilombos eram comunidades formadas por pessoas escravizadas que fugiam de seu local de trabalho.
  • Hoje, os quilombos são comunidades formadas por descendentes de africanos escravizados.
  • A formação de quilombos começou no período colonial, com os primeiros registros datando do século XVI.
  • O quilombo dos Palmares (situado no atual estado de Alagoas) é considerado o maior e mais representativo, de acordo com os historiadores.
  • Os quilombolas (pessoas que residiam nos quilombos) buscavam escapar da escravidão e da violência que viviam.

Como era a vida nos quilombos

O funcionamento dos quilombos considerava a tradição dos escravos fugidos que neles habitavam e as condições geográficas de onde se formavam. Nessas comunidades, realizavam-se atividades diversas como agricultura, extrativismo, criação de animais, exploração de minério e até atividades mercantis. Havia também quilombos que viviam de atividade predatória, atacando fazendas e comerciantes da região.

Os quilombos proporcionavam aos seus habitantes um alívio da pressão e da violência do regime escravista. Nesses espaços, muitos quilombolas podiam retomar práticas culturais e organizativas que traziam da África, ao mesmo tempo em que incorporavam aspectos e tradições adquiridas na América colonial.

No entanto, não se esqueciam dos companheiros que ficaram escravizados. Há casos em que os quilombos se organizaram para ajudar na fuga de outros escravizados ou economizar o dinheiro que obtinham da venda dos seus produtos para comprar a liberdade de alguém.

A fuga de escravos e a existência de quilombos era tamanha que se criou no Brasil uma profissão específica denominada "capitães do mato". Eram homens conhecedores das florestas contratados para recapturar os escravos fugidos.

O processo de resistência era permanente. Mesmo quando destruídos, os quilombos ressurgiam em outros locais e eram mais uma peculiaridade da sociedade escravocrata brasileira.

O que foi o Quilombo dos Palmares

O Quilombo dos Palmares - também chamado de Angola Janga (Pequena Angola) pelos escravizados - foi uma grande comunidade de africanos escravizados fugitivos que se estabeleceram no Brasil colonial, formando o maior e um dos mais duradouros quilombos da história.

Historiadores relatam conflitos de negros fugidos para a região do Quilombo dos Palmares, próximo à Serra da Barriga em Alagoas, já nas décadas finais do século XVI. Trata-se de uma área de Mata Atlântica e terrenos montanhosos, o que ajudava a proteger a comunidade de ataques.

O Quilombo dos Palmares não formava uma única comunidade, mas sim um conjunto de mocambos que comunicavam entre si. Entre as principais comunidades, destacam-se: Andalaquituche, Macaco, Subupira, Osenga, Dambraganga, Zumbi, Tabocas, Acotirene e Amaro.

Palmares tinha uma estrutura social complexa, com lideranças, normas e uma organização que incluía uma forma de governo e administração. Sabe-se que os palmarinos cultivavam milho, mandioca, feijão, batata-doce, cana-de-açúcar e criavam aves e outros animais.

O líder mais famoso foi Zumbi dos Palmares, que se tornou um ícone da resistência contra a escravidão.

O Quilombo dos Palmares sofreu ataques constantes de portugueses e holandeses, embora tenha resistido sistematicamente aos ataques. Somente em 1694 o quilombo foi destruído, com a morte de seu último líder, Zumbi.

Quem foi Zumbi dos Palmares

Zumbi dos Palmares foi a mais famosa liderança do Quilombo dos Palmares, no século XVII. É considerado um dos principais símbolos de resistência escrava por ter sido o último rei de Palmares.

O nome de batismo de Zumbi era Francisco. Sabe-se que foi capturado ainda menino pela expedição de Brás da Rocha Cardoso, em 1655, e entregue ao padre Antônio Melo, de Porto Calvo. Teria recusado a escravidão e fugido para Palmares, tornando uma presença importante no Quilombo na década de 1670.

Morreu em 1695, no dia 20 de novembro. Hoje, esta data é lembrada como o Dia da Consciência Negra sendo, inclusive, feriado nacional.

Quilombos no Brasil

mapa do Brasil com indicações das localidades quilombolas

Embora o Quilombo de Palmares seja o mais famoso e tenha entrado para história do Brasil, existiram quilombos em praticamente todos os atuais estados brasileiros.

Outros exemplos de Quilombos são o Buraco do Tatu, fundado em 1743 na Bahia, e que contava com cerca de 65 adultos entre seus moradores. Muito organizado e com rigorosa defesa, esse quilombo foi estudado detalhadamente pelo historiador Stuart Schwartz. Também pode-se citar o Quilombo do Catucá, formado próximo à Recife e Olinda no século XIX.

Muitos desses locais resistiram infinitamente e seus moradores passam a ser chamados de remanescentes das comunidades de quilombos. São os filhos e netos dos grupos que conseguiram sobreviver.

Comunidades remanescentes de quilombos

Quilombo cultura
Meninas praticam o jongo no Quilombo do Campinho em Paraty/RJ

Calcula-se que existam hoje no Brasil cerca de 8.441 localidades quilombolas no Brasil.

Os habitantes dessas regiões ainda conservam tradições dos antepassados como o jongo, o lundum, a desfeiteira, o artesanato e técnicas de cozimento e cultivo. Ou seja, trazem uma identidade e um valioso repertório cultural, além de normalmente atuarem na preservação da terra e do ambiente em que vivem.

No entanto, seria equivocado imaginar que essas comunidades estão parados no tempo. Elas também apresentam interações socioculturais com o restante do país, incorporando práticas novas enquanto mantém outras tradições antigas. Assim, há comunidades que jogam futebol, utilizam aparelhos eletrônicos e escutam música atual, sem que isso represente uma perda de sua identidade ou história.

A reivindicação pela propriedade da terra dos quilombolas foi incorporada na Constituição de 1988. O artigo 68 da Carta Magna prevê o reconhecimento de titularidade das terras das comunidades remanescentes de quilombos.

Esse processo não tem prazo para conclusão e, infelizmente, poucas foram as comunidades que obtiveram o título de propriedade.

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Referências Bibliográficas

D'SALETE, Marcelo. Angola Janga: uma história de Palmares. São Paulo: Veneta, 2017.

LUNA, Francisco. KLEIN, Hebert. Escravismo no Brasil. São Paulo: Edusp, 2010.

SCHWARTZ, Stuart B. Mocambos, Quilombos e Palmares: a resistência escrava no Brasil colonial. Estudos Econômicos (São Paulo), São Paulo, Brasil, v. 17, n. Especial, p. 61–88, 1987

VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2013), com mestrado em Ensino de História pela mesma instituição (2020). Atua como professor de História na educação básica e em cursos pré-vestibulares desde 2013. Desde 2016, também desenvolve conteúdos educativos na área de História.