Reinos africanos
A África é um continente muito diverso, reunindo diferentes povos, línguas e culturas extremamente ricas.
Mas, até meados do século XX, grande parte da história africana era pouco estudada. Estudava-se basicamente sobre o Egito Antigo e sobre as áreas conquistadas durante a expansão islâmica do século VII.
Com o fortalecimento do movimento negro e mudanças na forma de se pensar a História, o interesse sobre outros Reinos Africanos cresceu muito. Como resultado, hoje estudamos e sabemos mais sobre o continente e sua rica diversidade histórica.
Vejamos agora alguns desses importantes Reinos Africanos que surgiram antes da colonização europeia:
Reino de Kush (Séc. IX a.C. – IV d.C.)
Localizado ao sul do Egito, no atual Sudão, o Reino de Kush (ou Cuxe) foi um dos primeiros reinos centralizados na África.
Formou-se na Núbia, região que compunha uma rota de comerciantes que ligavam o norte do continente à África Subsaariana. Além disso, a Núbia também contava com minas de ferro e ouro, que abasteciam a população local e o comércio regional.
A proximidade com o Egito fez com que os cuxitas recebessem grande influência desse povo. Inclusive, utilizavam a escrita hieroglífica e partilhavam aspectos da religião egípcia. Os reis de Kush também eram considerados divindades, assim como no Egito.
Por volta de 750 a.C., os cuxitas entraram em conflito com seus vizinhos ao norte e conquistaram o Egito. Como resultado, fundou-se uma dinastia de faraós cuxitas, que utilizavam um uma coroa de duas serpentes, simbolizando o domínio sobre os dois reinos: o Egito e Kush.
As principais cidades de Kush eram Nepata e Meroé, ambas situadas às margens do Nilo e que foram capitais do reino em períodos diferentes.
Nepata cresceu principalmente como uma importante parada de mercadores, enquanto Meroé ficou conhecida pela metalurgia (produção de materiais de ferro). Além disso, esta última cidade também ficou marcada pelo desenvolvimento de uma escrita própria, a escrita meroíta.
O reino de Kush entrou em declínio após o século II d.C., principalmente devido ao esgotamento de suas riquezas naturais. Isso enfraqueceu o império, tornando-os mais suscetíveis a ataques de povos vizinhos.
Reino de Axum (Séc. I a.C. – 960 d.C.)
Outro poderoso reino africano na Antiguidade foi o Reino de Axum, localizado no norte da atual Etiópia.
Assim como o Reino de Kush, Axum também ganhou destaque econômico principalmente pelo comércio. Axum tinha grande destaque no comércio marítimo através do Mar Vermelho. Seu sucesso econômico foi tamanho que a cidade de Axum, capital do império, foi considerada o maior mercado de todo o nordeste africano.
Com seu fortalecimento econômico e político, o Reino de Axum conquistou regiões vizinhas, inclusive o próprio Império de Kush. Chegou também a conquistar parte da Península Arábica, atravessando o Mar Vermelho.
A partir do século IV d.C., entrou em contato com o cristianismo e converteu-se à religião, tornando-se o primeiro e um dos maiores reinos cristãos da África.
Seu declínio ocorreu a partir do século VII d.C., com a chegada de povos na região, que desestabilizaram o poder interno. Além disso, sofreu ataques organizados de muçulmanos vindos do norte e da Península Arábica.
Como resultado, sua capital foi conquistada e Axum nunca conseguiu recuperar a mesma influência.
Reino de Gana (Séc. VII d.C. – 1235 d.C.)
Já na parte Ocidental da África, o Reino de Gana foi uma das primeiras civilizações de destaque. Esse reino atingiu seu auge no início da Idade Média, e muito do que sabemos sobre ele vem de relatos de viajantes e mercadores muçulmanos.
Tratava-se de um reino poderoso e politicamente centralizado, cujo rei controlava tanto o poder administrativo quanto o judiciário e o militar. Igualmente, o rei era visto como um ser divino, o que legitimava seu domínio pela religião.
Entre as principais cidades do Reino de Gana, destaca-se sua capital, Koumbi Saleh, localizada ao norte da atual Bamako (capital do Mali).
Economicamente, o reino se sustentava pelos impostos cobrados nas atividades da região, especialmente a mineração do ouro e o comércio de sal e marfim.
O declínio do império ocorreu devido aos ataques de forças almorávidas, que buscavam converter a população de Gana ao islamismo. Assim, Gana não resistiu e teve sua capital conquistada em 1235, levando à fragmentação de seus territórios.
Império Mali (Séc. XIII d.C. – Séc. XVI)
Em boa parte dos antigos territórios de Gana, formou-se um novo reino: o Império Mali.
Liderados por Sundiata Keita, seu primeiro imperador, essa civilização tomou o controle das rotas comerciais e das riquezas na região, formando um poderoso reino.
O líder do Império Mali era chamado de "mansa", e, assim como em Gana, detinha um grande poder centralizado. Ele controlava as forças militares e a administração de seu reino. Os mansas sucessores de Sundiata Keita converteram-se ao islamismo, que virou a religião oficial do império.
Para manter seu controle e evitar a ascensão de possíveis ameaças, o mansa de Mali proibia a criação ou mesmo a compra de cavalos em seu reino. Isso evitava a formação de poderosas cavalarias que pudessem concorrer com o seu exército.
Como resultado de sua prosperidade, formou-se dentro do Império Mali a cidade de Timbuctu. Situada em meio ao deserto do Saara, Timbuctu se destacou como um grande centro comercial e acadêmico, preservando milhares de manuscritos antigos na Universidade de Sankoré, onde estudiosos muçulmanos pesquisavam.
A riqueza de Mali também ficou muito conhecida na história. Segundo consta, Mansa Musa, descendente de Sundiata Keita, é conhecido como o homem mais rico de toda a história. Segundo as lendas, durante a peregrinação para Meca, Mansa Musa distribuía tanto ouro para as pessoas que teria desvalorizado o metal precioso, causando uma crise econômica no Egito.
O declínio do Império Mali ocorreu por diversos fatores, incluindo tensões religiosas com povos não islamizados, que resistiam à dominação. Isso enfraqueceu o império, levando à conquista de sua capital em 1468 pelo Império Songai.
Império Songai (Séc. XV – Séc. XVI)
O declínio do Império Mali levou à ascensão de um novo reino, conhecido como Império Songai. Sua capital era a cidade de Gao, localizada às margens do rio Níger.
Songai passou parte de sua história inicial como uma região dominada pelo Império Mali. Porém, conforme Mali enfraquecia, Songai conquistou sua independência e começou a avançar sobre os territórios de seus antigos dominadores.
O mais famoso líder Songai foi Sonni Ali. Considerado um grande estrategista militar, ele conduziu os principais avanços territoriais do reino. Seu exército baseava-se tanto em uma poderosa cavalaria quanto em uma grande frota naval, que controlava a navegação pelo rio Níger.
O domínio territorial de Songai foi um dos maiores de toda a história da África pré-colonial, estendendo-se desde o Oceano Atlântico até o Lago Chade.
Assim como Gana e Mali, o Império Songai também teve sua economia baseada no comércio e nas rotas transaarianas.
Seu declínio ocorreu devido aos ataques de tropas marroquinas vindas do norte. Além disso, a grande extensão territorial dificultava a administração do império, facilitando incursões inimigas e contribuindo para sua fragmentação.
Mapa da localização dos reinos africanos
Exercícios sobre reinos africanos
1) O Reino de Kush (ou Cuxe) foi um dos primeiros reinos africanos centralizados. Assinale a alternativa que apresenta corretamente algumas de suas características:
a) Localizado no Oeste da África, o Reino de Kush é lembrado principalmente pela cidade de Timbuctu, importante centro comercial e acadêmico no continente.
b) Devido à proximidade, o Reino de Kush sofria grande influência do Egito Antigo. Essa relação garantiu a formação de uma aliança militar e fusão pacífica dos dois reinos.
c) O Reino de Kush ficou conhecido por seu poderio militar, que ultrapassou as fronteiras do continente africano, dominando parte da Península Arábica. Seu declínio ocorreu devido aos avanços de forças muçulmanas em seu território.
d) A riqueza do Reino de Kush estava diretamente ligada ao comércio, pois seu território era um ponto de passagem do Norte da África à África Subsaariana. A metalurgia também foi outra importante atividade econômica dessa civilização.
a) Incorreta. O Reino de Kush estava localizado no Nordeste da África, e Timbuctu está associado ao Império Mali.
b) Incorreta. Apesar da influência do Egito sobre Kush, os dois reinos não se fundiram pacificamente; houve períodos de conflito e domínio mútuo.
c) Incorreta. O Reino de Kush não dominou parte da Península Arábica, e seu declínio não está associado às forças muçulmanas, mas à ascensão de Axum.
d) Correta. A localização estratégica de Kush favorecia o comércio entre o Norte da África e a África Subsaariana, além de ser conhecido por sua produção metalúrgica.
2) Formado no norte da atual Etiópia, o reino apresentou grande poderio comercial e militar. Suas conquistas militares envolveram tanto o continente africano quanto o Oriente Médio, sobretudo a Península Arábica. Também é considerado o primeiro reino cristão na África.
Tais informações referem-se ao:
a) Reino de Axum.
b) Império Songai.
c) Império Mali.
d) Reino de Kush.
O Reino de Axum, localizado no norte da atual Etiópia, destacou-se por sua força comercial e militar. Foi o primeiro reino cristão da África, com grande influência no Oriente Médio e no continente africano.
3) Leia atentamente as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta sobre a história da África e dos Reinos Africanos:
I – Por muitas décadas, a historiografia oficial pouco conhecia sobre o continente africano. Isso mudou com a ascensão do movimento negro e com transformações internas à historiografia, levando a um maior interesse pela História da África.
II – O Reino de Gana foi um importante centro comercial no nordeste do continente. Sua capital, Koumbi Saleh, ficou marcada por abrigar a Universidade de Sankoré, importante centro acadêmico da Idade Média.
III – O Reino Songai foi um dos maiores impérios de todo o Oeste Africano. Para conquistar tamanha extensão territorial, esse império dependia das forças de sua cavalaria e de frotas navais que protegiam a navegação no Rio Níger.
As afirmativas corretas são:
a) I, II e III.
b) I e II, somente.
c) II e III, somente.
d) I e III, somente.
Afirmativa I: Correta. O saber histórico sobre a África cresceu devido às reflexões produzidas pelo movimento negro e por novas vertentes historiográficas, que denunciaram as visões eurocêntricas da história tradicional.
Afirmativa II: Incorreta. O Reino de Gana localizava-se no Oeste da África e não no nordeste. A Universidade de Sankoré estava associada a Timbuctu, no Império Mali.
Afirmativa III: Correta. O Reino Songai era um dos maiores impérios do Oeste Africano e utilizava cavalaria e frotas navais para defender e expandir seu território.
Alternativa correta: d) I e III, somente.
Leia também:
África pré-colonial: o continente antes dos europeus
Partilha da África: divisão do continente africano
Referências Bibliográficas
AZEVEDO, Gislane. SERIACOPI, Reinaldo. História: Da Pré-História à Antiguidade. São Paulo: Ática, 2015.
FREITAS NETO, José Alves de e TASINAFO, Célio Ricardo. História Geral e do Brasil. São Paulo: Harbra, 2006.
MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2013.
PEREIRA, Lucas. Reinos africanos. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/reinos-africanos/. Acesso em: