Socialismo: entenda o que é, suas características e origem

Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Professora de Filosofia e Sociologia

O socialismo é uma ideologia política e econômica que busca criar uma sociedade onde todos tenham acesso igualitário aos recursos e às oportunidades.

Isso significa que, em vez de algumas poucas pessoas controlarem a maioria das riquezas e dos meios de produção (como fábricas, terras e empresas), esses recursos seriam controlados coletivamente pela sociedade como um todo.

Por isso, a ideologia socialista propõe a distribuição igualitária de renda, extinção da propriedade privada burguesa, socialização dos meios de produção, economia planificada e, além disso, a tomada do poder por parte do proletariado.

O socialismo visa a consolidação de uma sociedade sem classes, onde bens e propriedades passam a ser de todos. O objetivo é acabar com a exploração entre pessoas e com as grandes diferenças econômicas entre os indivíduos, ou seja, a divisão entre pobres e ricos.

Socialismo (resumo completo)

O que é

Socialismo é uma ideologia política e econômica que busca a igualdade social e a propriedade coletiva dos meios de produção, onde os recursos são distribuídos de forma justa entre todos.

Características

  • Propriedade coletiva dos meios de produção.
  • Distribuição igualitária da riqueza.
  • Foco no bem-estar social.
  • Eliminação da exploração dos trabalhadores.
  • Planejamento econômico centralizado.

Como surgiu

O socialismo surgiu como reação às desigualdades do capitalismo, especialmente durante a Revolução Industrial. Karl Marx e Friedrich Engels foram figuras-chave, defendendo a revolução dos trabalhadores para criar uma sociedade socialista.

Países socialistas

Atualmente, países como China, Cuba, Vietnã, Laos e Coreia do Norte se identificam como socialistas, com economias onde o governo tem controle significativo.

Principais características do socialismo

Propriedade coletiva dos meios de produção

Em uma sociedade socialista, as fábricas, terras, empresas e outros meios de produção não são de propriedade privada (pertencente a um indivíduo), mas sim de todos os cidadãos.

Isso pode acontecer de diferentes formas, como por meio de cooperativas, onde os trabalhadores têm participação na empresa, ou pelo controle estatal, onde o governo administra esses recursos em nome do povo.

Distribuição igualitária da riqueza

No socialismo, busca-se distribuir a riqueza de forma mais justa. Isso significa que a diferença entre os mais ricos e os mais pobres deve ser reduzida, com todos tendo acesso aos bens essenciais, como saúde, educação, moradia e alimentação.

Bem-estar social

O socialismo reforça o bem-estar de toda a população. Os serviços essenciais, como saúde, educação, transporte e moradia, devem ser acessíveis a todos, independentemente de sua condição econômica.

Eliminação da exploração

A ideologia socialista visa eliminar a exploração dos trabalhadores. Isso significa que, em vez de os donos de empresas lucrarem às custas dos trabalhadores (pagando-lhes salários baixos e ficando com a maior parte dos lucros), os lucros seriam distribuídos de forma mais equitativa entre todos os que contribuem para a produção.

Planejamento econômico centralizado

Em vez de deixar que o mercado decida o que é produzido e como os recursos são distribuídos, como acontece no capitalismo, o socialismo propõe um planejamento econômico centralizado. Neste caso, o governo, ou uma entidade designada pela sociedade, decide o que deve ser produzido com base nas necessidades da população.

História de como o socialismo se desenvolveu

O socialismo surge entre os séculos XVIII e XIX como forma de repensar o sistema vigente, neste caso, o capitalismo.

Para tanto, um dos primeiros estudiosos a pensar o socialismo foi Henri de Saint Simon (1760 – 1825), filósofo e economista francês. Para ele, a sociedade, que naquela altura era industrial, estava sob o comando de um governo essencialmente feudal.

Henri de Saint Simon propõe a criação de um novo regime político-econômico, no qual a classe industrial tomaria o poder de forma pacífica. Haveria o fim dos conflitos entre classes e uma administração ordenada e harmoniosa da sociedade, encaminhada por empresários e por cientistas, em que os homens repartissem os mesmos interesses e recebessem adequadamente pelo seu trabalho. Tudo isso, pautado no progresso industrial e científico.

Karl Marx (1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895) são, talvez, os mais famosos defensores do socialismo. Publicaram o “Manifesto Comunista” em 1848. O texto apresenta:

  • os princípios do que constitui o socialismo científico;
  • elementos do pensamento comunista;
  • conceito de luta de classes;
  • crítica ao modo de produção capitalista;
  • crítica aos três tipos de socialismo (utópico, reacionário, conservador);
  • a aplicação do método materialismo;
  • noções iniciais que formarão o conceito de mais-valia;
  • a revolução socialista.

Por isso o socialismo científico, muitas vezes é conhecido pelo nome de Marxismo, por estar associado ao Karl Marx.

  • Karl Marx e Friedrich Engels: esses dois pensadores são, talvez, os mais famosos defensores do socialismo. Eles acreditavam que a história da humanidade é uma história de lutas de classes, onde os ricos (burguesia) exploram os pobres (proletariado). Eles previram que, eventualmente, os trabalhadores se revoltariam e tomariam o controle dos meios de produção, criando uma sociedade socialista. Suas ideias são conhecidas como marxismo.
  • Revolução Russa de 1917: um dos eventos mais importantes na história do socialismo foi a Revolução Russa, onde os bolcheviques, liderados por Vladimir Lenin, tomaram o poder e estabeleceram o primeiro estado socialista do mundo. Esse evento levou à criação da União Soviética, que se tornou um exemplo de estado socialista.
  • Socialismo democrático: com o tempo, diferentes formas de socialismo surgiram. O socialismo democrático é uma dessas formas, que busca implementar ideias socialistas por meio de processos democráticos, como eleições, em vez de revoluções violentas.

O que é o socialismo utópico

O socialismo utópico, desenvolvido no século XIX, é fundamentado na mudança da consciência dos indivíduos das classes dominantes.

Entre eles, há quem acreditasse que era possível reformar a sociedade, a ponto de se colocar fim no individualismo e de se estabelecer uma harmonia social, de modo pacífico e com ajuda da burguesia (classe dominante). Foi considerado um modelo idealizado e, por isso, leva o nome de “utópico”.

Um dos grandes representantes desta corrente foi o filósofo e economista francês Claude-Henri de Rouvroy, mais conhecido por Conde de Saint-Simon (1760 – 1825).

Outros que junto com ele defendem este modelo são: Charles Fourier (1772 – 1837), Pierre Leroux (1798 – 1871), Louis Blanc (1811 – 1882) e Robert Owen (1771 – 1858).

Karl Marx criticava esse tipo de modelo. Para ele, o socialismo utópico apresentava os ideais de uma sociedade mais justa e igualitária, mas não explorava as ferramentas nem o método para que os objetivos fossem atingidos.

O que é o socialismo científico

O socialismo científico ou socialismo marxista foi um sistema de pensamento no qual o método estava pautado na análise crítica e científica do sistema capitalista.

Diferentemente do socialismo utópico, essa corrente teórica não acreditava que a igualdade social fosse atingida somente por meio de uma reforma social pacífica.

Seus teóricos se baseiam no materialismo histórico-dialético para analisar a sociedade. Sua análise procura explicar a existência de diferentes grupos sociais e o princípio de sua desigualdade dentro da realidade capitalista. Daí o termo "científico" associado a essa corrente.

O socialismo científico foi criado por Karl Marx (1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895) no século XIX.

Para os marxistas, o sistema capitalista se baseia na exploração da classe trabalhadora pela classe burguesa, em virtude desta deter os meios de produção. Por isso, a proposta desta corrente está fundamentada na luta de classes, na revolução da classe proletária, no materialismo dialético e o materialismo histórico e na doutrina da mais-valia.

Para o pensamento marxista, os trabalhadores precisavam tomar consciência dos fundamentos do sistema capitalista. Uma vez que estivessem conscientes do mecanismo de sua exploração, eles se transformariam.

Modificariam a forma como se relacionavam com o trabalho e com a sociedade. Com isso, eles se uniriam e promoveriam a revolução proletária.

O intuito com essa revolução é a transformação integral da sociedade, visando superar o sistema capitalista, a partir da eliminação da propriedade privada burguesa e da abolição da exploração entre pessoas.

No limite, toda essa transformação retiraria a necessidade de um Estado controlador e a sociedade seria encaminhada para o comunismo.

Principais diferenças entre o socialismo e o capitalismo

O capitalismo é o sistema econômico dominante na maioria dos países hoje. No capitalismo, a propriedade privada dos meios de produção é incentivada e o mercado decide o que é produzido e como os recursos são distribuídos, com base na oferta e na procura. Isso pode levar a grandes desigualdades, onde algumas poucas pessoas acumulam enormes riquezas enquanto outras vivem em pobreza.

No socialismo, o foco está em reduzir essas desigualdades e garantir que todos tenham acesso aos recursos necessários para viver uma vida digna. O objetivo não é eliminar a riqueza, mas sim distribuí-la de forma mais justa.

Capitalismo
  • Sistema econômico dominante na maioria dos países atualmente;
  • Fundamenta-se na propriedade privada dos meios de produção;
  • Mercado decide o que é produzido e como os recursos são distribuídos;
  • Lei da oferta e da procura;
  • Normalmente gera grandes desigualdades sociais e econômicas;
  • Fundamenta-se sobre o acúmulo de capital, para que haja produção, e sobre a busca pelo lucro.
Socialismo
  • Foco é reduzir desigualdades;
  • Propriedade coletiva dos meios de produção (pertencem a todos os cidadãos);
  • Garantir que todos tenham acesso aos recursos necessários para viver uma vida digna;
  • Objetivo não é eliminar a riqueza, mas distribuí-la de forma justa;
  • Visa eliminar qualquer tipo de exploração dos trabalhadores.

Principais críticas ao socialismo

  • Ineficácia econômica: críticos argumentam que o planejamento centralizado e a falta de competição (resultante da inexistência de mercado) podem levar à ineficiências na produção e na distribuição de bens. Isso resultaria em um problema na questão da igualdade buscada.
  • Falta de liberdade individual: em alguns países socialistas, como a antiga União Soviética, a falta de propriedade privada e o controle estatal, em favor do estabelecimento supremo da igualdade, resultaram em repressão política e falta de liberdades individuais.
  • Dificuldade de implementação: muitos argumentam que, na prática, é muito difícil implementar o socialismo sem acabar em autoritarismo ou ditaduras.

Países socialistas

1. China

A China se define como uma república socialista sob a liderança do Partido Comunista Chinês (partido único). Embora, a partir da década de 1970, tenha introduzido reformas econômicas e adotado elementos de uma economia de mercado, o Estado ainda mantém um controle significativo sobre setores estratégicos da economia.

2. Cuba

Cuba é um dos exemplos mais conhecidos de um país socialista. O Partido Comunista de Cuba é o único partido político do país. O país está passando por um processo de reforma econômica, tendo autorizado recentemente (2021) a entrada de empresas privadas no país. Ainda assim, o governo controla a maior parte da economia. A educação e a saúde são gratuitas e universais.

3. Vietnã

O Vietnã, como a China, também é governado por um partido comunista. Desde as reformas econômicas conhecidas como "Đổi Mới" (renovação), iniciadas na década de 1980, o país tem adotado uma economia mista e orientada para mercado externo.

Segundo Souza (2019, p. 31), as cooperativas e a iniciativa privada participam ativamente na produção de mercadorias, mas o Partido Comunista continua a ter um papel central no governo e na economia.

4. Laos

Laos é uma república socialista sob o comando do Partido Popular Revolucionário do Laos. O país introduziu uma reforma gradativa de mercado, a partir de 1986, o que promoveu uma abertura em sua economia.

5. Coreia do Norte

A Coreia do Norte se identifica como um estado socialista e segue a ideologia Juche, uma variante do marxismo-leninismo adaptada ao contexto norte-coreano. O governo controla rigorosamente toda a economia e a sociedade.

Mapa mental do socialismo

mapa mental do socialismo
Clique na imagem para ampliar

Para praticar: Questões sobre Socialismo

Aprofunde os seus estudos com:

Referências Bibliográficas

BEM, A. “As transformações socioeconômicas na República Democrática Popular do Laos (2000-2021): superando o atraso pela via da integração regional”. GeoPUC – Revista da Pós-Graduação em Geografia da PUC-Rio. Rio de Janeiro, v. 14, n. 28, jul-dez. 2021, pp. 24-41.

BOTTOMORE, T. et al. Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 1988.

BUBER, M. O Socialismo Utópico. São Paulo: Perspectiva, 1971.

CATANI, A. M. O que é Capitalismo? 35ª E.d Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Editora Brasiliense, 2011.

ENGELS, F. Do socialismo utópico ao socialismo científico. Disponível em . Acessado em 10 jul. 2024.

GIDDENS, A. Sociologia. 6ª Ed. Tradução de Alexandra Figueiredo et al. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.

JOHNSON, A. G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Tradução de Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto Comunista. 7ª ed. Organização e Introdução de Osvaldo Coggiola. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007.

PETITFILS, J. C. Os Socialismos Utópicos. São Paulo: Círculo do. Livro, 1977.

SADER, E.; HEREDIA, F. M. “Cuba”. Portal Contemporâneo da América Latina e Caribe. Apoio da Universidade de São Paulo. 2015.

SIQUEIRA, S. M. M.; PEREIRA, F. Marx e Engels: luta de classes, socialismo científico e organização política. Salvador: Lemarx, 2014.

SOUZA, C. P. “República Socialista do Vietnã: contexto, política externa e trinta anos de relações com o Brasil (1989=2019)”. Revista Conjuntura Austral. Porto Alegre, v. 10, n. 50, abr-jun. 2019.

SPINDEL, A. O que é Socialismo? 25ª Ed. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Editora Brasiliense, 1991.

TONET, I. Socialismo: “Obstáculos a uma Discussão”. Aurora, a. 3, n.5, Dez. 2009.

Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Bacharela e Licenciada em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (2014), com Mestrado em História da Filosofia pela mesma universidade (2017). Atua como professora na rede privada de ensino, ministrando aulas ligadas às áreas de Filosofia e de Sociologia.