Surgimento da Sociologia: contexto, fundador e teorias
A Sociologia surgiu no século XIX, em um contexto de intensas mudanças na sociedade europeia.
Auguste Comte é frequentemente considerado um dos primeiros pensadores a elaborar uma metodologia científica que objetivava compreender a realidade social.
Já Émile Durkheim, com estudos posteriores, é considerado por alguns pensadores como o primeiro sociólogo.
Os principais eventos que marcaram o surgimento da sociologia foram o Iluminismo, o Renascimento, o início do capitalismo e as revoluções Francesa e Industrial.
Contexto histórico do surgimento da Sociologia
Renascimento
O Renascimento foi um movimento ocorrido no século XV, no momento de transição entre a Idade Média e a Moderna, que trouxe consigo profundas mudanças no ideário da população europeia.
Foram características importantes do Renascimento:
- Antropocentrismo: o ser humano passa a ser o centro do pensamento do próprio ser humano. Dessa maneira, há um discurso de abandono do teocentrismo praticado na Idade Média, onde a Igreja detinha uma hegemonia do conhecimento produzido até então.
- Humanismo: prática que trouxe consigo a valorização da cultura greco-romana que, segundo os renascentistas, havia sido abandonada no período histórico anterior.
- Valorização do uso da razão: a razão, calcada em um cientificismo, seria a principal maneira de responder questões do ser humano e não mais a fé.
- Individualismo: o ser humano passa a ser compreendido não mais como um agente exclusivo das vontades de Deus, mas sim como um ser criativo e capaz de realizar modificações no meio em que vive.
Revolução Industrial
A Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra a partir da segunda metade do século XVIII, desempenhou uma mudança nos processos produtivos ingleses ao realizar a substituição da manufatura para a maquinofatura.
O terreno para essa mudança já vinha sendo preparado desde as Revoluções Inglesas, que objetivaram controlar os poderes reais.
Posteriormente, com os Atos de Cercamento, boa parte da população pobre inglesa havia sido obrigada a abandonar suas terras e migrar para as cidades.
Sem emprego, essa população tornou-se mão de obra barata para as indústrias. Além dos baixos salários, os trabalhadores enfrentaram:
- Jornadas de trabalho de até 16 horas;
- trabalho infantil;
- ausência de leis trabalhistas;
- salários desiguais entre homens e mulheres.
Próximo às indústrias começaram a surgir os bairros operários, com habitações amontoadas e pouco ou nenhum saneamento básico. Além disso, o convívio e os conflitos entre os indivíduos tornou-se mais intenso.
Os conflitos também envolveram trabalhadores e empregadores, referentes as classes sociais "proletariado" e "burguesia", respectivamente.
Outro fator que moldou a mentalidade desses trabalhadores foi a disciplina de trabalho exigida pelo novo processo produtivo.
A necessidade de subordinação que a classe proletária precisou se sujeitar foi um fato novo para uma sociedade que até então havia experienciado apenas a produção rural.
Essas questões todas não ficaram restritas a vida profissional dessa população. Aos poucos, essas novas ideologias passaram a integrar a moral da sociedade europeia, materializando-se no capitalismo industrial.
Leia mais: Revolução Industrial
Revolução Francesa
A Revolução Francesa foi um movimento que consistiu na derrubada de um regime absolutista e sua substituição, ainda que por um curto período, por uma República.
Marcada por ideais liberais, essa revolução, ao derrubar uma das monarquias absolutistas mais tradicionais e poderosas da Europa, inspirou outras revoltas ao redor do mundo.
Podemos citar como exemplos a Revolução do Haiti e a Conjuração Mineira.
Portanto, ela representou para o mundo a possibilidade de um governo não mais dominado por nobres e pelo clero.
Além disso, ratificou a capacidade de criação e modificação da realidade que o ser humano possui, em aversão ao discurso da Igreja que afirmava e validava o poder absoluto dos reis.
Essa validação ocorria com o discurso de ser o rei o homem modelo eleito por Deus para que a sociedade pudesse ser liderada.
Iluminismo
Os pensadores iluministas também tiveram papel fundamental nas mudanças ocorridas na Europa durante os séculos XVII e XVIII.
Os ideais de liberdade, laicidade e antiabsolutismo passaram a ser difundidos por pensadores como Jean-Jacques Rousseau, Voltaire e John Locke.
Além disso, o apego ao uso da razão aliado a Revolução Industrial trouxe consigo uma maior valorização do desenvolvimento da ciência, que passou a ser a base do lucro das indústrias.
Esses eventos sedimentaram o caminho para o surgimento de uma ciência que buscava analisar os conflitos sociais mediante uma ótica científica, com métodos e teorias racionais.
Origens e construção da Sociologia
O conceito "Sociologia" começou a ser desenhado com Auguste Comte. O pensador utilizou o termo "Física Social" para delimitar as teses metodológicas que desenvolveu.
Foi com o positivismo que a Sociologia ganhou seus primeiros contornos enquanto ciência.
Enquanto positivista, Comte acreditava que a análise da sociedade deveria passar pelo mesmo rigor de "neutralidade e objetividade" que as ciências naturais passavam, como a Física ou a Química. Ou pelo menos pensava-se passar à época.
Isso porque o conceito de neutralidade presente nos campos científicos possui certas ressalvas, a partir de debates ainda não muito disseminados na época.
Contudo, mesmo desenvolvendo uma base sólida para a Sociologia, Émile Durkheim quem foi considerado por muitos como o primeiro sociólogo.
O pensador também era adepto do modelo positivista e, por conta disso, procurou analisar tudo o que acontecia na sociedade como um corpo biológico em funcionamento.
Esse modelo científico é chamado "organicismo positivista". Nele, cada área da sociedade é vista como uma parte de um corpo.
Se alguma dessas partes não desempenha seu papel da melhor maneira, o corpo todo padece. Portanto, é importante que cada indivíduo compreenda e execute sua função de modo correto.
Durkheim nomeou "fato social" qualquer ação de um indivíduo em uma sociedade. Esse fato deveria ser analisado pelo sociólogo como uma "coisa", de maneira neutra e sem interferências de suas ideologias próprias.
Leia mais: Fato Social
Formas anteriores a Sociologia para pensar a sociedade
Desde o pensamento religioso, a Filosofia ou até mesmo outras áreas científicas, como a Filosofia, Direito e a Literatura, representaram reflexões importantes sobre a vida em sociedade.
Na Filosofia, os gregos utilizaram o pensamento racional para elaborar formas de se analisar a vida em grupo. Podemos citar como exemplo Aristóteles, que afirmou: o homem é um animal político.
Com isso, o filósofo procurou refletir sobre a natureza humana e sua propensão a viver em grupos, não em isolamento.
No Direito, a criação de leis é um processo de reflexão ética acerca da vida em sociedade e a tentativa da delimitação de parâmetros para um convívio mais harmônico.
A literatura também representa uma forma de racionalização do viver social. Como exemplo podemos citar a obra brasileira "O Cortiço", que apresenta em sua narrativa um pano de fundo para explicar as desigualdades brasileiras.
Teorias fundamentais na formação da Sociologia
- Positivismo: corrente de pensamento que objetiva a análise da realidade mediante um viés de evolução e neutralidade do pesquisador.
- Pensamento sociológico: é a prática de analisar fenômenos sociais cotidianos com um olhar para além do senso comum, buscando compreender as raízes e motivações de tais atos. Exemplo: por que meninas, rotineiramente, ganham bonecas como brinquedo e meninos não?
- Conflito social: é a disputa (de narrativas, espaços ou locais de fala) que diferentes grupos empreendem dentro de uma sociedade, cada qual se baseando em seus valores e princípios.
- Materialismo histórico-dialético: método de análise da sociedade que ganhou contornos com Karl Marx e Friedrich Engels e que tem como ideia central a análise da realidade através da chamada luta de classes.
- Sociologia compreensiva: método sociológico que analisa a ação de indivíduos em uma sociedade a partir da compreensão de sua própria realidade. Max Weber foi um dos sociólogos que desenvolveu suas pesquisas por esse viés.
Qual a finalidade da Sociologia
O papel da sociologia é analisar as relações entre indivíduos numa sociedade, estudando seus conflitos e motivos de associação.
Mediante um viés e práticas científicas, os sociólogos procuram compreender a sociedade afastando-se daquilo que prega o senso comum.
Considerando que a Sociologia é uma ciência que tem como papel compreender os diferentes grupos humanos convivendo em um mesmo espaço, é essencial que essa análise parta de pressupostos científicos para tal.
A ciência não é a única forma de se compreender o mundo que vivemos. No entanto, em determinadas situações, é nela que precisamos nos embasar para tomar decisões, seja no âmbito pessoal, político ou mesmo jurídico.
Nesse sentido, essa ciência pode ser favorável na construção de políticas públicas, na análise crítica da sociedade e também na promoção da cidadania.
Continue estudando:
Referências Bibliográficas
Martins, Carlos Benedito. O que é sociologia. 38.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994
SOUZA, Thiago. Surgimento da Sociologia: contexto, fundador e teorias. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/surgimento-sociologia/. Acesso em: