Ultrarromantismo

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora de Língua Portuguesa e Literatura

O Ultrarromantismo é uma corrente da escola literária do Romantismo em que as obras caracterizam-se pela melancolia, escapismo (fuga da realidade) e gosto pelo mórbido. Esse sentimento negativo que gira em torno do movimento ultrarromântico é chamado de “mal do século”.

Byron, que desafiava as convenções morais do seu tempo, foi um dos principais poetas do Romantismo na Europa. Em decorrência da sua influência, o Ultrarromantismo ficou conhecido como “geração byroniana”.

No Brasil, o Ultrarromantismo é o nome pelo qual é chamada a segunda geração do Romantismo, que compreende o período entre 1853 e 1879.

Nessa época, os jovens escritores não partilhavam os sentimentos de nacionalismo característico da primeira geração romântica. Eles passavam por uma fase em que não havia esperança - do que resulta o tom pessimista nas obras ultrarromânticas, influenciadas pelo britânico Byron.

Álvares de Azevedo, cuja obra reflete a influência byroniana, é o principal representante do Ultrarromantismo no Brasil.

Em Portugal, tem destaque Camilo Castelo Branco.

Características do ultrarromantismo

Melancolia e pessimismo: os ultrarromânticos carregam um sentimento melancólico e pessimista, cujas obras revelam a perda da esperança.

Escapismo: a sensação de incompreensão é tão forte que para os escritores a solução é fugir da realidade, o que pode ser feito mediante a morte, os sonhos, ou recorrendo aos vícios. Assim, é recorrente a manifestação do desejo de morrer, o uso dos sonhos com o intuito de realizar desejos, e a embriaguez para supostamente esquecer a melancolia.

Gosto pelo mórbido: no ultrarromantismo as obras giram em torno de temas que se relacionam com a escuridão - noite, morte - e até com o satanismo.

Egocentrismo: os ultrarromânticos se colocam como o centro de tudo. Os temas das obras tem o foco neles próprios e nos seus problemas (especialmente desilusões amorosas), não importando os problemas da sociedade.

Ironia: o poeta ultrarromântico recorre à ironia a fim de manifestar, com mais força, o seu sentimento de frustração e pessimismo.

Principais autores brasileiros do Ultrarromantismo

Antes de falarmos um pouco sobre Álvares de Azevedo, sem dúvida, o principal ultrarromântico no Brasil, não podemos deixar de falar de Byron que, por sua vez, foi o principal ultrarromântico do mundo, e grande influenciador de Álvares de Azevedo.

Lord Byron (1788-1824) era um pessimista que se expressava de forma melancólica. Suas obras eram marcadas por elementos autobiográficos de um conquistador que, com o seu estilo de vida, escandalizou o seu tempo.

Byron escreveu A Peregrinação de Childe Harold, O Preso de Chillon, Manfredo, entre outros.

Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo (1831-1852) é o autor ultrarromântico de maior destaque no Brasil. São suas obras: Lira dos Vinte Anos (poesia), Noite na Taverna (contos), Macário (peça teatral).

Na obra de Álvares de Azevedo é nítida a influência de Byron, pois seus poemas são melancólicos e fantasiosos. O autor também recorre a ambientes mórbidos, em que mostra a vontade de fugir da sua realidade.

Se eu morresse amanhã
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que amanhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o doloroso afã…
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

(Se eu morresse de amor, de Álvares de Azevedo)

Casimiro de Abreu

Casimiro de Abreu (1839-1860) é um autor ultrarromântico cujos poemas revelam um sentimento menos pessimista do que o que está presente nas obras de Álvares de Azevedo.

Nos poemas de Casimiro de Abreu, os temas são apresentados de forma mais suave. As Primaveras (livro de poesias) é o único livro escrito pelo autor.

Minh'alma é triste como a flor que morre
Pendida à beira do riacho ingrato;
Nem beijos dá-lhe a viração que corre,
Nem doce canto o sabiá do mato!

E como a flor que solitária pende
Sem ter carícias no voar da brisa,
Minh'alma murcha, mas ninguém entende
Que a pobrezinha só de amor precisa!

Amei outrora com amor bem santo
Os negros olhos de gentil donzela,
Mas dessa fronte de sublime encanto
Outro tirou a virginal capela.

Oh! quantas vezes a prendi nos braços!
Que o diga e fale o laranjal florido!
Se mão de ferro espedaçou dois laços
Ambos choramos mas num só gemido!

Dizem que há gozos no viver d'amores,
Só eu não sei em que o prazer consiste!
- Eu vejo o mundo na estação das flores…
Tudo sorri - mas a minh'alma é triste!

(Canto III de Minh’alma é triste, de Casimiro de Abreu)

Fagundes Varela

Fagundes Varela (1841-1875) é um poeta romântico em que algumas obras apresentam o pessimismo e o tema da morte característicos dos ultrarromânticos; em outras, o autor já começa a introduzir temas voltados para a terceira geração romântica

São suas obras: Cantos e Fantasias (poemas), Cantos Meridionais (poemas), Cantos do Ermo e da Cidade (poemas).

Oh! quantas horas não gastei, sentado
Sobre as costas bravias do Oceano,
Esperando que a vida se esvaísse
Como um floco de espuma, ou como o friso
Que deixa n’água o lenho do barqueiro!
Quantos momentos de loucura e febre
Não consumi perdido nos desertos,
Escutando os rumores das florestas,
E procurando nessas vozes torvas
Distinguir o meu cântico de morte!
Quantas noites de angústias e delírios
Não velei, entre as sombras espreitando
A passagem veloz do gênio horrendo
Que o mundo abate ao galopar infrene
Do selvagem corcel? ... E tudo embalde!
A vida parecia ardente e douda
Agarrar-se a meu ser! ... E tu tão jovem,
Tão puro ainda, ainda n’alvorada,
Ave banhada em mares de esperança,
Rosa em botão, crisálida entre luzes,
Foste o escolhido na tremenda ceifa!

(Excerto de Cântico do Calvário, de Fagundes Varela)

Para você entender melhor:

Referências Bibliográficas

CEREJA, William Roberto; THEREZA, Cochar Magalhães. Conecte: Literatura Brasileira. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).