Umbanda: o que é, origem, orixás, pontos e terreiro

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Professor de História

A Umbanda é uma religião afro-brasileira, surgida em 1908, fundada por Zélio Fernandino de Moraes. É marcada pela fusão de elementos de diferentes tradições espirituais e culturais, principalmente africanas, indígenas e europeias.

Segundo Zélio de Moraes, a Umbanda representa "a manifestação dos espíritos para a caridade". Ela se caracteriza pela crença na reencarnação, na comunicação com espíritos e no trabalho mediúnico.

A Umbanda também incorpora o culto aos Orixás, divindades de origem africana, além de outros elementos espirituais.

Para entender a Umbanda em profundidade, é necessário abordar sua história, seus princípios, suas práticas e como ela se diferencia de outras religiões de matriz africana, como o Candomblé.

Neste conteúdo você vai encontrar:

Origem da umbanda

A Umbanda tem suas origens históricas ligadas aos subúrbios do Rio de Janeiro.

Em 15 de novembro de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, nascido em São Gonçalo/RJ, teria incorporado o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Este espírito o teria ajudado a criar a religião de Umbanda.

Rapidamente, ela se espalhou por todo Brasil e outros países da América Latina.

Suas crenças integram elementos do Candomblé, do Espiritismo Kardecista e do Catolicismo.

Por exemplo, dos cultos de origem africana, agregou as divindades chamadas Orixás e sua relação com as energias da natureza. De tradições indígenas, herdou o amor à natureza e o uso cerimonial de ervas de poder. Do Kardecismo, incorporou noções como a de "evolução espiritual" e "reencarnação".

Também tem Jesus como importante referência espiritual, sendo uma figura frequentemente reverenciada em altares.

Ao longo do tempo, a Umbanda se diversificou, apresentando uma certa autonomia e variação cerimonial entre as diferentes "Casas de Umbanda".

Principais características da umbanda

A Umbanda é caracterizada por ser uma religião sincrética, ou seja, combina elementos de várias tradições:

  • Catolicismo: inclui a reverência a Jesus e presença de santos e orações comuns no catolicismo.
  • Espiritismo kardecista: adota crença na comunicação com os espíritos e reencarnação.
  • Candomblé e religiões africanas: cultua os Orixás, ligados às forças da natureza, e a reverência aos ancestrais.
  • Elementos indígenas: valoriza os espíritos da natureza, especialmente os caboclos, e o uso de ervas em rituais.

A Umbanda também promove a caridade, a evolução espiritual através da reencarnação e o respeito pelas entidades espirituais.

Local de culto da umbanda

roda de umbanda
Celebração de Umbanda realizada na beira de uma lagoa

O espaço onde acontecem as cerimônias da Umbanda chama-se Casa, Terreiro, Templo ou Barracão. Igualmente, são feitas várias celebrações ao ar livre, junto à natureza, em rios, cachoeiras ou na praia.

Essas cerimônias são conduzidas por um(a) dirigente espiritual, muitas vezes chamado de “Pai” ou “Mãe” de santo, que lidera os ritos e é responsável pelo ensino da doutrina e dos conhecimentos da umbanda aos seus discípulos.

Orixás e entidades da umbanda

Orixás

Na Umbanda, há dois tipos principais de guias espirituais que atuam para ajudar os praticantes: os Orixás e as Entidades.

Os Orixás são Divindades de origem africana associadas às forças da natureza. Cada Orixá possui características e histórias próprias, e alguns exemplos são: Oxalá, Xangô, Iemanjá, Ogum e Oxossi, Oxum, Iansã, Omulú e Nanã.

Já as Entidades são espíritos em evolução e que viveram na Terra entre os humanos. Na Umbanda, retornam como guias espirituais, auxiliando os praticantes em diversas áreas, como saúde, emoções, trabalho e proteção.

Aqui listamos as principais entidades que se manifestam na Umbanda.

Caboclos: espíritos de ancestrais indígenas que voltam ao mundo terreno para ajudar espiritualmente as pessoas, especialmente na cura.

Pretos-velhos: espíritos de pessoas africanas trazidas ao Brasil como escravizadas. Apesar de terem sofrido em vida, agora são espíritos ditos evoluídos que dão ótimos conselhos a quem os procuram.

Baianos: entidades nordestinas que, na Umbanda, são conhecidos por sua força espiritual e apoio em questões de trabalho, determinação, saúde e fortalecimento moral.

Marinheiros/Marujos: espíritos de pessoas que tiveram uma vida ligada ao mar. Conhecidos por sua sinceridade e pela ajuda em limpezas espirituais e emocionais, são representados com um leve balanço corporal, lembrando o movimento das ondas.

Erês: são os espíritos infantis, também chamados de “Crianças”. Risonhos, trazem alegria e pureza. Consolam os aflitos, os pais e mães e, às vezes, cometem algumas travessuras.

Malandros: são aquelas pessoas tiveram que usar de sua esperteza para sobreviver. Um dos mais conhecidos é Zé Pelintra. Ficou órfão de pai e mãe e, para sobreviver, começou a realizar pequenos roubos e trapaças. São conhecidos por serem protetores e por oferecerem ajuda a quem se encontra em situações de marginalização.

Pomba-gira: espíritos femininos fortes que, em vida, lutaram contra injustiças e preconceitos. Auxiliam especialmente em questões ligadas à autoestima, ao amor, confiança e defesa das mulheres. Uma delas foi Maria Padilha, amante do rei Dom Pedro I de Castela (1334-1369), retratada como mulher sensual, bem-vestida e sedutora.

Há também outras entidades como os Boiadeiros, Ciganos, Orientais, etc.

Para exercer o trabalho espiritual, os responsáveis pela ligação entre o mundo espiritual e material, os médiuns, recebem (incorporaram) estas entidades e assim ajudam o consulente.

Cerimônias da umbanda

Nos terreiros de Umbanda, realizam-se diversas cerimônias religiosas e espirituais. Entre as práticas mais populares está a sessão de “passe”, em que a entidade reorganiza o campo energético da pessoa.

Igualmente são feitas sessões de “descarrego”, voltadas a aliviar as energias negativas da pessoa e fortalecê-la para seus desafios.

Destaca-se que as cerimônias são abertas ao público e são gratuitas, pois a Umbanda preza pela caridade como princípio.

As vestes mais usadas nestas cerimônias são brancas, cor que simboliza a pureza e neutralidade, agradando aos orixás e guias.

Na Umbanda não se pratica o sacrifício de animais e se celebra rituais de batizado, consagração e casamento.

Pontos de umbanda

Os pontos de umbanda são cantigas para louvar, chamar e se despedir do orixá e as entidades.

Acompanhadas por instrumentos de percussão como o atabaque, é importante conhecer o ritmo de cada orixá/entidade. Este aprendizado começa desde a infância do iniciado. Igualmente, é compartilhado entre os praticantes uma infinidade de canções.

Os pontos de Umbanda e do candomblé influenciaram diretamente a música popular brasileira através de sua musicalidade e o uso dos instrumentos.

Símbolos da umbanda

Símbolos
Símbolos de Exu, o mensageiro entre o mundo terreno e espiritual

Antes de iniciar as cerimônias na Umbanda é comum uma pessoa iniciada riscar o chão com símbolos diversos, conhecidos como pontos riscados.

Esses símbolos, como estrelas, cruzes, tridentes, traços retos ou curvos, variam conforme o terreiro, mas têm um mesmo propósito: chamar as entidades que vão ser trabalhadas, garantir a chegada dos guias a serem incorporados, homenagear os orixás, trazer bons fluidos e energias aos participantes.

É preciso observar que estes traços são apenas alguns dos muitos símbolos que existem na Umbanda.

Crenças da umbanda

A Umbanda é uma religião monoteísta, que acredita em um Deus supremo, denominado Olorum”, “Zambi” ou “Oxalá”. Creem na imortalidade da alma, na reencarnação e na ideia de evolução espiritual a partir das leis do carma.

Acreditam em orixás, personificações de elementos da natureza e de energia, e em guias espirituais, que podem se incorporar durante as cerimônias e aconselhar aqueles que procuram ajuda.

Os guias são denominados “entidades” e cada orixá possui uma linha de entidades que o auxilia.

História da umbanda

Umbanda
A cantora Clara Nunes foi uma das divulgadoras da Umbanda no Brasil e no mundo

Em suas origens, a Umbanda foi confundida durante muito tempo com a “macumba carioca” ou "Quimbanda".

Em 1905, o jornalista João do Rio (1881-1921) publicou uma série de reportagens que resultaram no livro "As Religiões do Rio", mencionando ritos em que se incorporava espíritos de caboclos e pretos-velhos – características que se tornariam centrais para a Umbanda.

Em 1908, ano considerado o marco de fundação da Umbanda, foi criada a “Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade”, um dos primeiros terreiros fundados por Zélio de Moraes. Nessa época, muitos desses primeiros terreiros apresentavam fortes vínculos com o Kardecismo.

Mais adiante, entre os anos de 1920 e 1930, a repressão às religiões africanas gerou um movimento de união de várias casas e terreiros para resistir à perseguição.

Para tal, as lideranças umbandistas concluíram que era necessário organizar e uniformizar o culto, padronizando algumas diretrizes e práticas. Com isso, buscavam reduzir o preconceito contra a religião e evitar perseguições.

Para tal, em 1939, surgiu a primeira Federação de Umbanda, a União Espiritista de Umbanda do Brasil (UEUB), que buscava legitimar e representar a religião oficialmente.

Nesse processo, também era usual a utilização do termo "espírita" como forma de evitar a perseguição às novas religiões afro-brasileiras. Isso fazia parte de um processo de “desafricanização” da Umbanda, que buscava novamente se afastar de estigmas e preconceitos racistas.

Durante a Ditadura Militar (1964-1985), a Umbanda foi alvo de uma relação complexa e contraditória. Por um lado, foi utilizada como instrumento para legitimar o projeto nacionalista e recebeu visibilidade na mídia. De outro, também foi alvo de preconceitos e perseguições.

A partir da década de 1980, com a ascensão das igrejas neopentecostais, as religiões de matriz africana passaram novamente a enfrentar ataques e agressões por parte de setores fundamentalistas.

Hoje, a Umbanda é protegida pela Lei 11.635 de 27 de dezembro de 2007, que institui o “Dia Nacional de Combate ao Preconceito Religioso”, reforçando o respeito e a proteção às religiões de matriz africana.

Diferenças entre umbanda e candomblé

Embora Umbanda e Candomblé compartilhem a veneração aos orixás e a forte influência africana, elas possuem diferenças significativas:

Origem: o Candomblé tem raízes mais profundas nas tradições africanas trazidas pelos escravizados ao Brasil, especialmente da Nigéria, Angola e do Benin. A Umbanda, por outro lado, é uma religião criada no Brasil do início do século XX, incluindo influências africanas, kardecistas, indígenas e católicas.

Culto aos Orixás: no Candomblé, os orixás são figuras centrais do culto e se manifestam diretamente nos médiuns durante as cerimônias. Na Umbanda, os orixás são reverenciados, mas raramente se incorporam diretamente. Em vez disso, outras entidades (como os caboclos e pretos-velhos) fazem a comunicação com o mundo espiritual.

Práticas e rituais: o Candomblé é segue uma estrutura ritualística mais rigorosa, na qual cada orixá possui músicas, danças e oferendas específicas. Na Umbanda, os rituais são mais flexíveis e muitas vezes misturam elementos cristãos, espíritas e africanos.

Visão de Exu: no Candomblé, Exu é um dos orixás mais poderosos, responsável pela comunicação entre os mundos. Na Umbanda, Exu é considerado uma entidade que trabalha na linha de proteção e equilíbrio de energias, mas não é visto como um orixá.

Hino da umbanda

Apesar da Umbanda variar de acordo com cada região do Brasil e de cada casa/terreiro, ao menos uma canção é muito popular: o Hino da Umbanda.

Composta por José Manoel Alves (letra) e Dalmo da Trindade Reis (música) foi oficializada como hino em 1961.

Refletiu a Luz Divina
Com todo seu esplendor
É do reino de Oxalá
Onde há paz e amor
Luz que refletiu na terra
Luz que refletiu no mar
Luz que veio de Aruanda
Para tudo iluminar

A Umbanda é paz e amor
É um mundo cheio de Luz
É a força que nos dá vida
É a grandeza que nos conduz

Avantes, filhos de fé
Como a nossa lei não há
Levando ao mundo inteiro
A bandeira de Oxalá

Levando ao mundo inteiro
A bandeira de Oxalá

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Referências Bibliográficas

PINTO, Flávia. Umbanda religião brasileira: guia para leigos e iniciantes. Rio de Janeiro, Pallas, 2014.

SOUZA, Fabíola Amaral Tomé de. Umbanda e Ditadura Civil-Militar: relações, legitimação e reconhecimento. Revista Angelus Novus, São Paulo, Brasil, n. 11, p. 13–32, 2017

VIEIRA, Carolina Ferreira. Umbanda: estrutura e rituais. Juiz de Fora, 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Humanas). [Recurso Digital]

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2013), com mestrado em Ensino de História pela mesma instituição (2020). Atua como professor de História na educação básica e em cursos pré-vestibulares desde 2013. Desde 2016, também desenvolve conteúdos educativos na área de História.