Caio Fernando Abreu
Caio Fernando Abreu foi um escritor e jornalista brasileiro, considerado um dos maiores contistas do país.
Dono de uma obra atemporal, Caio foi agraciado três vezes pelo “Prêmio Jabuti de Literatura”, o mais importante prêmio literário do Brasil.
Biografia
Caio Fernando Loureiro de Abreu nasceu em Santiago do Boqueirão, no Rio Grande do Sul, dia 12 de setembro de 1948. Desde pequeno já apresentava uma inclinação para a literatura.
Foi morar em Porto Alegre com sua família em 1963. Já na adolescência escrevia textos e em 1966 publicou seu conto “O príncipe sapo” na revista Cláudia. Com apenas 18 anos escreveu seu primeiro romance: “Limite Branco”.
Mais tarde, ingressou nos cursos de Letras e Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Não chegou a concluir, pois foi trabalhar como jornalista.
Em 1968, foi morar em Campinas, interior de São Paulo com a escritora Hilda Hilst (1930-2004), uma vez que estava sendo perseguido pela Ditadura Militar.
Lá trabalhou como jornalista também, mas nunca deixou a literatura de lado, sua grande vocação.
De volta a Porto Alegre foi trabalhar como jornalista no periódico “Zero Hora”. Pouco depois, em 1973, Caio foi viajar pela Europa como mochileiro. Adepto da contracultura, ele viveu em diversos países: Espanha, Holanda, Inglaterra, Suécia e França.
No ano seguinte, retornou ao Brasil. Em 1982, Caio publicou uma de suas obras mais emblemáticas “Morangos Mofados”.
Em 1984, Caio foi agraciado pelo “Prêmio Jabuti” na categoria Contos, Crônicas e Novelas com o livro “O Triângulo das Águas”.
Em 1989, também recebeu o “Prêmio Jabuti” na mesma categoria por sua obra “Os Dragões não Conhecem o Paraíso”. Por fim, em 1996, ele recebeu o mesmo prêmio pela obra “Ovelhas Negras”.
Caio descobriu que estava com o vírus do HIV, em 1994. Declarou publicamente ser portador do vírus no jornal O Estado de S. Paulo, onde era colunista.
Faleceu com 47 anos em Porto Alegre, dia 25 de fevereiro de 1996, vítima de complicações desenvolvidas pelo HIV.
Obras
Sua obra esteve inspirada nos escritores: Hilda Hilst, Clarice Lispector, Gabriel García Márquez e Júlio Cortázar.
Por meio de uma linguagem simples, coloquial, fluida, transgressora e temas não-convencionais, Caio rompeu com os padrões literários.
Foi autor de diversas obras (contos, crônicas, romances, novelas, poemas, literatura infantil, peças teatrais, cartas, crítica literária, etc.), sendo as principais:
- Limite Branco (1970)
- Inventário do irremediável (1970)
- Ovelhas Negras (1974)
- O Ovo Apunhalado (1975)
- Pedras de Calcutá (1977)
- Morangos Mofados (1982)
- Triângulo das Águas (1983)
- Pequenas Epifanias (1986)
- As Frangas (1988)
- Mel e Girassóis (1988)
- A Maldição do Vale Negro (1988)
- Os Dragões não Conhecem o Paraíso (1988)
- Onde Andará Dulce Veiga (1990)
Trechos de Obras
Para conhecer melhor a linguagem utilizada por Caio, confira abaixo dois trechos de suas obras:
Morangos Mofados
“Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre perdia todos pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito, parece falso dito desse jeito, mas bem assim eu ia pelo meio da chuva, uma garrafa de conhaque na mão e um maço de cigarros molhados no bolso. Teve uma hora que eu podia ter tomado um táxi, mas não era muito longe, e se eu tomasse o táxi não poderia comprar cigarros nem conhaque, e eu pensei com força então que seria melhor chegar molhado da chuva, porque aí beberíamos o conhaque, fazia frio, nem tanto frio, mais umidade entrando pelo pano das roupas, pela sola fina esburacada dos sapatos, e fumaríamos, beberíamos sem medidas, haveria música, sempre aquelas vozes roucas, aquele sax gemido e o olho dele posto em cima de mim, ducha morna distendendo meus músculos.”
Mel e Girassóis
“Como naquele conto de Cortázar ― encontraram-se no sétimo ou oitavo dia de bronzeado. Sétimo ou oitavo porque era mágico e justo encontrarem-se, Libra, Escorpião, exatamente nesse ponto, quando o eu vê o outro. Encontraram-se, enfim, naquele dia em que o branco da pele urbana começa a ceder território ao dourado, o vermelho diluiu-se aos poucos no ouro, então dentes e olhos, verdes de tanto olharem o sem fim do mar, cintilam feito os de felinos espiando entre moitas. Entre moitas, olharam-se. Naquele momento em que a pele entranhada de sal começa a desejar sedas claras, algodões crus, linhos brancos, e a contemplação do próprio corpo nu revela espaços sombrios de pelos onde o sol não penetrou. Brilham no escuro esses espaços, fosforescentes, desejando outros espaços iguais em outras peles no mesmo ponto de mutação. E lá pelo sétimo, oitavo dia de bronzeado, passar as mãos nessas superfícies de ouro moreno provoca certo prazer solitário, até perverso, não fosse tão manso, de achar a própria carne esplêndida.”
Frases
- “Confesso que preciso de sorrisos, abraços, chocolates, bons filmes, paciência e coisas desse tipo.”
- “Porque o mundo, apesar de redondo, tem muitas esquinas.”
- “Eu já quis que o destino me surpreendesse. Quis muito! Hoje eu só espero que ele não me decepcione.”
- “Se algumas pessoas se afastarem de você, não fique triste, isso é resposta da oração: "livrai-me de todo mal, amém.”
- “A vida é feita de escolhas. Quando você dá um passo à frente, inevitavelmente alguma coisa fica para trás.”
- “Só que homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade - voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ou não ter genitália igual, e isso é detalhe. Mas não determina maior ou menor grau de moral ou integridade.”
DIANA, Daniela. Caio Fernando Abreu. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/caio-fernando-abreu/. Acesso em: