Elementos da Narrativa

Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora de Língua Portuguesa e Literatura

Os elementos da narrativa - enredo, narrador, personagens, tempo e espaço - são essenciais para fazer uma narração.

A narração é o relato de um fato ou de um acontecimento. Sem os elementos da narrativa na sua estrutura, a narração não existe, porque sem eles não conseguimos contar uma história.

Romance, novela, fábula e conto são exemplos de narrativa.

Enredo

Enredo é o conjunto de acontecimentos da narração. O enredo dá sequência a uma história, porque em torno dele se desenvolvem tudo o que acontece nela.

A principal característica do enredo é o conflito, que cria a tensão na narrativa.

As partes do enredo são:

  • exposição (introdução);
  • complicação (desenvolvimento);
  • clímax, que é o momento de maior tensão;
  • desfecho (conclusão).

Exemplo de enredo: Na história da Chapeuzinho Vermelho, o Lobo é o conflito. Ele engana a menina, depois faz se passar por ela para enganar a sua avó e devorá-la. Por fim, o Lobo faz se passar pela avó para devorar a menina também.

Narrador

Narrador é aquele que conta uma história. Ele é o principal elemento da estrutura de uma narrativa.

Também chamado de foco narrativo, representa a voz do texto. Dependendo de como atua na narração, o narrador pode ser classificado em:

  • narrador personagem ou narrador primeira pessoa
  • narrador observador ou narrador terceira pessoa

O NARRADOR PERSONAGEM participa da história como um personagem da narração. Ele pode ser o personagem secundário ou principal.

Se o texto tiver esse tipo de narrador, a história será narrada em 1ª pessoa do singular (eu) ou do plural (nós).

As variantes do narrador personagem são: narrador testemunha, quando narra acontecimentos em que participou, geralmente como personagem secundário, e narrador protagonista, quando é o personagem central.

O NARRADOR OBSERVADOR sabe tudo sobre a história, porque observa tudo e faz o relato daquilo que observa.

Diferente do narrador personagem, o narrador observador não participa da história. Esse tipo de narração é feita na 3ª pessoa do singular (ele, ela) ou plural (eles, elas).

As variantes do narrador observador são: narrador intruso, quando conversa com o leitor, expressando a sua opinião, e narrador parcial, quando se identifica com um personagem, dando-lhe mais destaque na narração.

Exemplo de narrador: O narrador personagem de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Essa história é narrada em primeira pessoa, por um defunto, que narra acontecimentos em que participou.

Personagens

Personagens são aqueles que atuam na narração, falando ou agindo.

De acordo com o papel que desempenham, os personagens são classificados em:

  • protagonista, quando é o principal, ou seja, o mais importante;
  • antagonista, quando se opõe ao protagonista;
  • secundário, quando não tem muito destaque, ou seja, é menos importante.

Exemplo de personagens: Os personagens da história da Chapeuzinho Vermelho são a menina, que é a protagonista; o lobo, que é o antagonista; a avô e o caçador, que são os personagens secundários.

Tempo

Tempo é o período em que a história se passa, considerando a época, a duração, a ordem da narração.

De acordo com a ordem da narração, o tempo pode ser:

  • cronológico, quando segue uma ordem natural dos acontecimentos - do início para o fim
  • psicológico, quando não segue uma ordem natural dos acontecimentos e mistura passado, presente e futuro, podendo narrar do fim para o começo, por exemplo.

Exemplo de tempo: Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, o tempo é psicológico, porque não segue uma ordem natural dos acontecimentos. A história começa com o enterro do narrador que, depois, narra a sua infância e juventude.

Espaço

Espaço é o local onde a narrativa se desenvolve. O espaço pode ser:

  • físico, quando se passa a história é indicado seja uma fazenda, uma cidade, uma praia, etc. São classificados em espaços fechados (casa, quarto, hospital, etc.) ou abertos (ruas, vilas, cidades, etc.).
  • psicológico, quando não é revelado um espaço físico, mas sim, um ambiente caraterizado econômica ou moralmente.

Exemplo de espaço: Na história da Chapeuzinho Vermelho, os espaço físicos onde se passa a história são a floresta e a casa da avó.

Exercícios sobre elementos da narrativa

1. (Enem 2009 - adaptada)

[...] já foi o tempo em que via a convivência como viável, só exigindo deste bem comum, piedosamente, o meu quinhão, já foi o tempo em que consentia num contrato, deixando muitas coisas de fora sem ceder contudo no que me era vital, já foi o tempo em que reconhecia a existência escandalosa de imaginados valores, coluna vertebral de toda 'ordem'; mas não tive sequer o sopro necessário, e, negado o respiro, me foi imposto o sufoco; é esta consciência que me libera, é ela hoje que me empurra, são outras agora minhas preocupações, é hoje outro o meu universo de problemas; num mundo estapafúrdio - definitivamente fora de foco cedo ou tarde tudo acaba se reduzindo a um ponto de vista, e você que vive paparicando as ciências humanas, nem suspeita que paparica uma piada: impossível ordenar o mundo dos valores, ninguém arruma a casa do capeta; me recuso pois a pensar naquilo em que não mais acredito, seja o amor, a amizade, a família, a iqreja, a humanidade; me lixo com tudo isso! Me apavora ainda a existência, mas não tenho medo de ficar sozinho, foi conscientemente que escolhi o exílio, me bastando hoje o cinismo dos grandes indiferentes [...].

Nassar, r. Um copo de cólera. São Paulo: Companhia das letras, 1992

Na novela Um Copo de Cólera, o autor lança mão de recursos estilísticos e expressivos típicos da literatura produzida na década de 70 do século passado no Brasil, que, nas palavras do crítico Antonio Candido, aliam “vanguarda estética e amargura política”.

Com relação à temática abordada e à concepção narrativa da novela:

a) é escrito em terceira pessoa, com narrador onisciente, apresentando a disputa entre um homem e uma mulher em linguagem sóbria, condizente com a seriedade da temática político-social do período da ditadura militar.
b) articula o discurso dos interlocutores em torno de uma luta verbal, veiculada por meio de linguagem simples e objetiva, que busca traduzir a situação de exclusão social do narrador.
c) representa a literatura dos anos 70 do século XX e aborda, por meio de expressão clara e objetiva e de ponto de vista distanciado, os problemas da urbanização das grandes metrópoles brasileiras.
d) evidencia uma crítica à sociedade em que vivem os personagens, por meio de fluxo verbal contínuo de tom agressivo.
e) traduz, em linguagem subjetiva e intimista, a partir do ponto de vista interno, os dramas psicológicos da mulher moderna, às voltas com a questão da priorização do trabalho em detrimento da vida familiar e amorosa.

Alternativa d: evidencia uma crítica à sociedade em que vivem os personagens, por meio de fluxo verbal contínuo de tom agressivo.

2. (Enem-2013)

"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.

[...]

Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.

Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não início pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes."

LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).

A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador

a) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.
b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem.
c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.
d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas.
e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.

Alternativa c: revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.

3. (FUVEST) “(…) Escobar vinha assim surgindo da sepultura, do seminário e do Flamengo para se sentar comigo à mesa, receber-me na escada, beijar-me no gabinete de manhã, ou pedir-me à noite a bênção do costume. Todas essas ações eram repulsivas; eu tolerava-as e praticava-as, para me não descobrir a mim mesmo e ao mundo. Mas o que pudesse dissimular ao mundo, não podia fazê-lo a mim, que vivia mais perto de mim que ninguém. Quando nem mãe nem filho estavam comigo o meu desespero era grande, e eu jurava matá-los a ambos, ora de golpe, ora devagar, para dividir pelo tempo da morte todos os minutos da vida embaçada e agoniada. Quando, porém, tornava a casa e via no alto da escada a criaturinha que me queria e esperava, ficava desarmado e diferia o castigo de um dia para outro.

O que se passava entre mim e Capitu naqueles dias sombrios, não se notará aqui, por ser tão miúdo e repetido, e já tão tarde que não se poderá dizê-lo sem falha nem canseira. Mas o principal irá. E o principal é que os nossos temporais eram agora contínuos e terríveis. Antes de descoberta aquela má terra da verdade, tivemos outros de pouca dura; não tardava que o céu se fizesse azul, o sol claro e o mar chão, por onde abríamos novamente as velas que nos levavam às ilhas e costas mais belas do universo, até que outro pé de vento desbaratava tudo, e nós, postos à capa, esperávamos outra bonança, que não era tardia nem dúbia, antes total, próxima e firme (…)”.

(Fragmento do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis)

A narração dos acontecimentos com que o leitor se defronta no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, se faz em primeira pessoa, portanto, do ponto de vista da personagem Bentinho. Seria, pois, correto dizer que ela apresenta-se:

a) fiel aos fatos e perfeitamente adequada à realidade;
b) viciada pela perspectiva unilateral assumida pelo narrador;
c) perturbada pela interferência de Capitu que acaba por guiar o narrador;
d) isenta de quaisquer formas de interferência, pois visa à verdade;
e) indecisa entre o relato dos fatos e a impossibilidade de ordená-los.

Alternativa b: viciada pela perspectiva unilateral assumida pelo narrador;

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Referências Bibliográficas

GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. 7. ed. São Paulo: Ática, 2001.

Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).
Daniela Diana
Edição por Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.