Eneida de Virgílio

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

Eneida é um grande poema épico escrito no século I a.C. pelo poeta romano Virgílio e publicado após sua morte em 19 a.C. Ele escreveu a obra durante 12 anos.

Eneida é considerada um clássico da literatura mundial que inspirou diversos poetas posteriores como Dante Alighieri e Luís de Camões.

A narrativa da Eneida

Eneida narra a história de Roma, desde a origem, o poder e a expansão do Império Romano. A obra recebe esse nome uma vez que está relacionada com as façanhas e feitos realizados pelo herói troiano: Enéas.

Enéas (ou Enéias), o protagonista da obra, foi um troiano sobrevivente da Guerra de Troia. Portanto, é considerado um herói mítico que lutou no cerco de Troia contra os gregos. Ainda que ele seja humano, foi visto por muitos como um semideus.

Em Cartago, Enéas é recebido por Dido, rainha de Cartago, que acaba por se apaixonar por ele.

Enéas narra a Guerra de Troia para Dido e como conseguiu fugir com seu pai e filho por ordem da Deusa Vênus.

Durante uma caçada, houve uma grande tempestade. Nesse momento, Dido e Enéas se abrigaram numa caverna e se amaram ali.

Após o evento, Enéas recebe uma mensagem do Deus Júpiter que lhe revela seu destino. Ele precisava deixar Cartago e fundar uma cidade na região do Lácio. A ideia central era substituir a cidade arrasada de Troia.

Ele tenta fugir da cidade sem que a rainha perceba. Todavia, Dido vê os navios saindo da cidade e acaba por se suicidar.

Ao chegar na região do Lácio, o rei Latino lhe oferece aliança e a mão de sua filha. Entretanto, isso gera grande polêmica, sobretudo em Turno, que amava Lavínia, a filha do rei.

Turno tenta atingir os troianos cercando o acampamento e colocando fogo. Com a ajuda do deus Netuno, o fogo é apagado.

Após esse evento, há um combate entre Turno e Enéas, que acaba com a morte de Turno. Por fim, Enéas funda uma colônia troiana no Lácio e se casa com Lavínia. Durante seu governo ele conseguiu unir os romanos e os troianos.

Estrutura da obra Eneida

Eneida foi escrita em latim, em versos e com uma métrica singular. Ou seja, com seis grupos de três sílabas, sendo duas breves e uma longa. Esse tipo de métrica é chamado de hexâmetro datílico.

Virgílio a produziu dessa maneira, uma vez que a sonoridade da epopeia incluía um esquema rítmico para ser lido em voz alta. Ele se inspirou nas epopeias clássicas gregas do poeta Homero: as obras Ilíada e Odisseia.

Quando à estrutura, a obra é formada por 12 livros (ou capítulos), também chamados de cantos.

Personagens da obra Eneida

Eneida é constituída por diversos personagens, sendo tanto humanos como deuses.

Humanos

  • Enéas: troiano, protagonista da história.
  • Ascânio: filho de Éneas.
  • Anquises: pai de Éneas.
  • Dido: rainha de Cartago.
  • Turno: inimigo de Éneas.

Deuses

  • Apolo: filho de Zeus e irmão gêmeo de Ártemis. Ele é o deus do Sol e protetor das artes.
  • Vênus: deusa do amor e da beleza.
  • Éolo: filho de Hipotas. Ele é o deus dos ventos.
  • Júpiter: o “pai dos deuses”. Ele é o deus dos céus, da chuva, da luz e do raio.
  • Juno: mulher de Júpiter. Ela é deusa dos deuses e protetora do casamento e dos filhos.
  • Mercúrio: deus mensageiro do comércio, das estradas e da eloquência.
  • Netuno: filho do deus Saturno. Ele é o deus dos mares.

Trechos da obra Eneida

Para conhecer melhor a linguagem e a estrutura da Eneida, confira abaixo um trecho de cada livro:

Livro I

“Eu, que entoava na delgada avena
Rudes canções, e egresso das florestas,
Fiz que as vizinhas lavras contentassem
A avidez do colono, empresa grata
Aos aldeãos; de Marte ora as horríveis
Armas canto, e o varão que, lá de Tróia
Prófugo, à Itália e de Lavino às praias
Trouxe-o primeiro o fado.”

Livro II

“Prontos, à escuta, emudeceram todos,
Ao passo que exordia o padre Enéias
Do excelso toro: — Mandas-me, ó rainha,
Renove a dor infanda; o como os Danaos
D’Ílio a pujança e o reino lamentável
Derrocaram; misérias que eu vi mesmo
E em que fui grande parte.”

Livro III

“Depois que em mal os deuses derribaram
Ásia e a nação priaméia, altivos muros
E Ílio a neptúnia em fumo resolvendo,
A buscar nos suadiu celeste aviso
Vários desterros e desertos climas;
E no Ida frígio, ao pé da mesma Antandro
Fabricámos as naus, do fado incertos,
Do rumo e pousadia.”

Livro IV

“Já traspassada, em veias cria a chaga,
E se fina a rainha em cego fogo.
O alto valor do herói, sua alta origem
Revolve; estampou n’alma o gesto e as falas;
Do cuidado não dorme, não sossega.
A alva espanca do pólo a noite lenta,
Lustrando o mundo a lâmpada febéia;
Louca à irmã confidente então se explica:
“Suspensa que visões, Ana, me aterram?”

Livro V

“Firme o herói já dirige ao meio a frota,
Com o Aquilão talhando as negras vagas;
Olha atrás, e da pobre Elisa os muros
Em chamas vê luzindo. A causa os Teucros
De tanto incêndio estranham; mas conhecem
O amor poluto como dói, o que ousa
Femínea raiva, e triste agouro tiram.”

Livro VI

“Assim pranteia, e às naus demite as rédeas;
Vai-se a Cumas eubóica e manso aborda.
Tenaz dente as fundeia; ao largo aproam,
E as curvas popas a ribeira cobrem.
Moços na praia hespéria ardidos saltam:
Quem sementes de chama em siliciosas
Veias cata; quem, denso alvergue às feras,
Esmoita a selva, e os rios mostra achados.”

Livro VII

“Tu não menos, Caieta ama de Enéias,
Nossas praias morrendo eternizaste;
Guarda o lugar teu nome, e se isto é glória,
Na magna Hespéria os ossos te assinala.”

Livro VIII

“Mal Turno, os cornos rouco estrepitando,
Pendões arvora no laurente alcáçar,
E os brutos afogueia e incita as armas,
Revolto o Lácio em trépido tumulto
Se conjura, e esbraveja a mocidade.”

Livro IX

“Entretanto que ao longe isto sucede,
A Satúrnia do Olimpo Íris despacha
A Turno audaz: que em vale e sacro bosque
Do avô Pilumno acaso descansava.”

Livro X

“De par em par o onipotente Olimpo,
Concílio o pai divino e rei dos homens
Chama à sidérea corte; excelso as terras
Fita e o campo troiano e os lácios povos.”

Livro XI

“Já do oceano a aurora despontava.
Bem que urja o tempo de inumar seus mortos
E o turbe o funeral, no primo eôo
Piedoso o vencedor cumpria os votos.”

Livro XII

“Mal embebe, enfuriado o herói vozeia:
“Que! tu me escaparás dos meus com presa!...
Nesta ferida imola-te Palante,
Palante vinga-se em teu ímpio sangue.”
No peito aqui lhe esconde o iroso ferro:
Gelo os órgãos lhe solve, e num gemido
A alma indignada se afundou nas sombras.”

Você Sabia?

Esse clássico da língua latina teve grande importância na educação romana, posto que foi utilizado para instruir muitos jovens da época.

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Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.