Exercícios sobre crônicas (com gabarito comentado)

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora de Língua Portuguesa e Literatura

Faça os exercícios sobre crônicas e aprenda mais sobre esse tipo de texto. Confirme as suas respostas no gabarito comentado.

Exercício 1

Selecione a alternativa em que todos os elementos sejam inerentes às crônicas.

I. texto literário breve

II. em geral, é narrativo e sua trama é extraída do cotidiano

III. narrativa longa em prosa de algo que representa uma coletividade

a) I e III

b) II e III

c) I e II

d) todas as alternativas

Gabarito explicado

O dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define crônica do seguinte modo: "texto literário breve, em geral narrativo, de trama quase sempre pouco definida e motivos, na maior parte, extraídos do cotidiano imediato".

Os elementos descritos em III (narrativa longa em prosa de algo que representa uma coletividade) é inerente à epopeia, que pode ser em prosa e em poema.

Exercício 2

Leia a crônica abaixo e faça os exercícios 2 e 3.

CRÔNICA Pá, Pá, Pá, de Luis Fernando Veríssimo

A americana estava há pouco tempo no Brasil. Queria aprender o português depressa, por isto prestava muita atenção em tudo que os outros diziam. Era daquelas americanas que prestam muita atenção.

Achava curioso, por exemplo, o "pois é". Volta e meia, quando falava com brasileiros, ouvia o "pois é". Era uma maneira tipicamente brasileira de não ficar quieto e ao mesmo tempo não dizer nada. Quando não sabia o que dizer, ou sabia mas tinha preguiça, o brasileiro dizia "pois é". Ela não agüentava mais o "pois é".

Também tinha dificuldade com o "pois sim" e o "pois não". Uma vez quis saber se podia me perguntar uma coisa.

— Pois não — disse eu, polidamente.
— É exatamente isso! O que quer dizer "pois não"?
— Bom. Você me perguntou se podia fazer uma pergunta. Eu disse "pois não". Quer dizer, "pode, esteja à vontade, estou ouvindo, estou às suas ordens..."
— Em outras palavras, quer dizer "sim".
— É.
— Então por que não se diz "pois sim"?
— Porque "pois sim" quer dizer "não".
— O quê?!
— Se você disser alguma coisa que não é verdade, com a qual eu não concordo, ou acho difícil de acreditar, eu digo "pois sim".
— Que significa "pois não"?
— Sim. Isto é, não. Porque "pois não" significa "sim".
— Por quê?
— Porque o "pois", no caso, dá o sentido contrário, entende? Quando se diz "pois não", está-se dizendo que seria impossível, no caso, dizer "não". Seria inconcebível dizer "não". Eu dizer não? Aqui, ó.
— Onde?
— Nada. Esquece. Já "pois sim" quer dizer "ora, sim!". "Ora se aceitar isso." "Ora, não me faça rir. Rã, rã, rã."
— "Pois" quer dizer "ora"?
— Ahn... Mais ou menos.
— Que língua!

Eu quase disse: "E vocês, que escrevem 'tough' e dizem 'tâf'?", mas me contive. Afinal, as intenções dela eram boas. Queria aprender. Ela insistiu:

— Seria mais fácil não dizer o "pois".

Eu já estava com preguiça.

— Pois é.
— Não me diz "pois é"!

Mas o que ela não entendia mesmo era o "pá, pá, pá".

— Qual o significado exato de "pá, pá, pá".
— Como é?
— "Pá, pá, pá".
— "Pá" é pá. "Shovel". Aquele negócio que a gente pega assim e...
— "Pá" eu sei o que é. Mas "pá" três vezes?
— Onde foi que você ouviu isso?
— É a coisa que eu mais ouço. Quando brasileiro começa a contar história, sempre entra o "pá, pá, pá".

Como que para ilustrar nossa conversa, chegou-se a nós, providencialmente, outro brasileiro. E um brasileiro com história:

— Eu estava ali agora mesmo, tomando um cafezinho, quando chega o Túlio. Conversa vai, conversa vem e coisa e tal e pá, pá, pá... Eu e a americana nos entreolhamos.
— Funciona como reticências — sugeri eu. — Significa, na verdade, três pontinhos. "Ponto, ponto, ponto."
— Mas por que "pá" e não "pó"? Ou "pi" ou "pu"? Ou "etcéterá'?

Me controlei para não dizer — "E o problema dos negros nos Estados Unidos?".

Ela continuou:

— E por que tem que ser três vezes?
— Por causa do ritmo. "Pá, pá, pá." Só "pá, pá" não dá.
— E por que "pá"?
— Porque sei lá — disse, didaticamente.

O outro continuava sua história. História de brasileiro não se interrompe facilmente.

— E aí o Túlio com uma lengalenga que vou te contar. Porque pá, pá, pá...
— É uma expressão utilitária — intervim. — Substitui várias palavras (no caso toda a estranha história do Túlio, que levaria muito tempo para contar) por apenas três. É um símbolo de garrulice vazia, que não merece ser reproduzida. São palavras que...
— Mas não são palavras. São só barulhos. "Pá, pá, pá."
— Pois é — disse eu.

Ela foi embora, com a cabeça alta. Obviamente desistira dos brasileiros. Eu fui para o outro lado. Deixamos o amigo do Túlio papeando sozinho.

QUESTÃO Quais os elementos caracterizam o texto acima como uma crônica?

a) cotidiano e poucos personagens

b) fantasia e moral

c) narração longa e acontecimentos heroicos

d) tensão permanente e final infeliz

Gabarito explicado

Como a crônica é um texto curto, contém poucos personagens. Na crônica "Pá, Pá, Pá", os personagens são: o narrador personagem (eu), a americana e o amigo do Túlio.

Além disso, o tema da crônica está relacionada com um acontecimento cotidiano, neste caso, a conversa de um brasileiro com uma americana, no Brasil, que queria aprender português.

Exercício 3

O autor nos leva a refletir sobre as peculiaridades da língua, ao mesmo tempo, em que nos transmite humor. Como ele consegue isso?

O autor nos leva a refletir sobre as peculiaridades da língua através do diálogo que mostra duas visões diferentes: uma, do brasileiro, para quem é normal usar certas expressões (pois é, pois não) e outra, da americana, para quem as expressões parecem estranhas, porque está tentando aprender português.

O texto transmite humor, porque essa reflexão sobre a língua é feita mediante uma conversa descontraída, em que o próprio brasileiro fica admirado com o fato de não perceber o uso dado pelos brasileiros para o "pá, pá, pá".

Exercício 4

(UNESP) Instrução: A questão toma por base uma crônica jornalística de Fernando Soléra.

Um gênio chamado Marílson

Diz o ditado que “chegar é fácil; passar é que são elas!”. Pois, lá, no final do Elevado, ele chegou junto ao líder daquele instante, ultrapassou e saiu iniciando um show de resistência, em passadas vigorosas e perfeitas no seu balé de viver para correr e correr para viver. Atuação linda de se ver a sua contínua busca da vantagem, a partir da metade do percurso, alargando a cada quilômetro, uma superioridade impressionante.

Marílson Gomes dos Santos voltou para encantar. Cinco anos depois de ter sido bi, retornou para ser, mais que um ganhador, um tricampeão único entre os brasileiros, numa deliciosa emoção esportiva que encerra com pompa o ano de 2010. Pisou de novo o asfalto paulistano no momento em que sentiu que estava pronto para deslumbrar.

Subiu de novo ao degrau mais alto daquele pódio que lhe é tão familiar, lugar exato que ocupou em 2005. Foi como se o topo reservado ao melhor entre os melhores estivesse esperando por ele durante esse tempo todo em que não disputou.

Campeão de tantas e tantas provas, recordista da série completa de corridas de fundo sul-americanas, o homem que deixou, por duas vezes, os norte-americanos fascinados ao voar baixo pelas ruas de New York chegou à Avenida Paulista com o plano pronto para maravilhar todo este país. Ele sabia (porque ele sempre sabe que vai levantar o troféu de vencedor) que nos daria um Feliz Ano Novo saído do fundo de seu coração.

O mundo testemunhou pelas imagens de televisão, ao vivo, um novo registro espetacular desse brasileiro brasiliense, um fenômeno que sabe vencer na hora que quer, na competição que escolhe para, como na maioria absoluta das vezes, passear isolado, lá na frente, deixando atrás de si uma esteira de coadjuvantes que o seguem com admiração e respeito.

Esse talento inigualável vai legar às gerações futuras muitas lições de sua arte. E como vai! De hoje em diante, garotos e meninas desta terra terão muitos motivos para se dedicar à prática esportiva. Quem viver verá quantos competidores surgirão com a mesma ânsia de chegar primeiro e experimentar como é delicioso viver para correr e correr para viver. Tomara que com a mesma simplicidade desse verdadeiro gênio.

(Fernando Soléra: www.gazetaesportiva.net)

Na crônica de Fernando Soléra, é informado ao leitor que

a) A genialidade de Marílson desestimula os jovens atletas a competir.

b) Vencer uma corrida é sempre obra do acaso.

c) Marílson é vencedor da Maratona de Londres.

d) O vencedor da São Silvestre usa a dança como uma das técnicas de treinamento.

e) Marílson é recordista da série completa de corridas de fundo sul-americanas.

Gabarito explicado

Essa informação pode ser confirmada no quarto parágrafo: "Campeão de tantas e tantas provas, recordista da série completa de corridas de fundo sul-americanas, o homem que deixou, por duas vezes, os norte-americanos fascinados ao voar baixo pelas ruas de New York chegou à Avenida Paulista com o plano pronto para maravilhar todo este país."

Exercício 5

(Enem/2000) O texto abaixo foi extraído de uma crônica de Machado de Assis e refere-se ao trabalho de um escravo.

“Um dia começou a guerra do Paraguai e durou cinco anos, João repicava e dobrava, dobrava e repicava pelos mortos e pelas vitórias. Quando se decretou o ventre livre dos escravos, João é que repicou. Quando se fez a abolição completa, quem repicou foi João. Um dia proclamou-se a República. João repicou por ela, repicaria pelo Império, se o Império retornasse.” (MACHADO, Assis de. Crônica sobre a morte do escravo João, 1897)

A leitura do texto permite afirmar que o sineiro João:

a) por ser escravo tocava os sinos, às escondidas, quando ocorriam fatos ligados à Abolição.

b) não poderia tocar os sinos pelo retorno do Império, visto que era escravo.

c) tocou os sinos pela República, proclamada pelos abolicionistas que vieram libertá-lo.

d) tocava os sinos quando ocorriam fatos marcantes porque era costume fazê-lo.

e) tocou os sinos pelo retorno do Império, comemorando a volta da Princesa Isabel.

Gabarito explicado

O texto mostra a rotina do sineiro João, que tocava o sino mediante o acontecimento de fatos marcantes: pelos mortos e pelas vitórias na guerra do Paraguai, na Proclamação da República e caso o Império retornasse.

Leia também:

Crônica: características, tipos e exemplos

Exercícios sobre gêneros textuais

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).