Fernando Pessoa
Fernando Pessoa é um dos mais importantes escritores portugueses do modernismo e um dos maiores poetas de língua portuguesa.
Pessoa destacou-se na poesia, com a criação de seus heterônimos, sendo considerado uma figura multifacetada. Trabalhou como crítico literário, crítico político, editor, jornalista, publicitário, empresário e astrólogo.
Nessa última tarefa, vale destacar que Fernando Pessoa explorou o campo da astrologia, sendo um exímio astrólogo e apreciador do ocultismo.
Biografia de Fernando Pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, dia 13 de junho de 1888. Era filho de Joaquim de Seabra Pessoa, natural de Lisboa, e D. Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, natural dos Açores.
Com apenas 5 anos, Fernando Pessoa ficou órfão de pai, que acometido pela tuberculose, deixou a família em estado de pobreza. Nessa fase, a família decide leiloar as mobílias e passam a viver numa casa mais simples.
No mesmo ano, nasce seu irmão Jorge, que veio a falecer com menos de um ano. Em 1894, com apenas 6 anos, Fernando Pessoa cria seu primeiro heterônimo denominado Chevalier de Pas.
Nesse período também escreve seu primeiro poema intitulado À Minha Querida Mamã:
Ó terras de Portugal
Ó terras onde eu nasci
Por muito que goste delas
Ainda gosto mais de ti.
Dessa forma, fica claro que desde pequeno Fernando possuía uma inclinação para as letras, línguas e literatura.
Em 1895, sua mãe casa-se novamente com o comandante João Miguel Rosa, que fora nomeado cônsul de Portugal em Durban, na África do Sul. Assim, a família passa a viver na África.
Esse fato refletiu substancialmente na sua formação. Isso porque, na África, recebeu uma educação inglesa, primeiramente num colégio de freiras da West Street e depois na Durban High School.
Outras perdas familiares vieram refletir no estilo de Pessoa. Destacam-se as mortes de suas irmãs Madalena Henriqueta, que faleceu em 1901, com apenas 3 anos, e Maria Clara, com apenas 2 anos, em 1904.
Em 1902, já com 14 anos, a família retorna à Lisboa. Três anos mais tarde, matricula-se na Faculdade de Letras no curso de Filosofia, porém não chega a concluir o curso.
Começa a dedicar-se à literatura e a partir de 1915 junta-se a um grupo de intelectuais. Destacam-se os escritores portugueses modernistas: Mario de Sá-Carneiro (1890-1916) e Almada Negreiros (1893-1970).
Fundou a Revista Orfeu e, em 1916, seu amigo Mário de Sá-Carneiro suicida-se. Em 1921, Pessoa funda a Editora Olisipo, onde publica poemas em inglês.
Em 1924 funda a Revista Atena, ao lado de Ruy Vaz e, em 1926, trabalha como codiretor da Revista de Comércio e Contabilidade. No ano seguinte, passa a colaborar com a Revista Presença.
Fernando Pessoa faleceu em sua cidade natal, dia 30 de novembro de 1935, vítima de cirrose hepática, com 47 anos.
No leito de morte sua última frase foi escrita, em inglês, com a data de 29 de novembro de 1935:
“I know not what tomorrow will bring.” (Não sei o que o amanhã trará.)
Obras de Fernando Pessoa e suas características
Fernando Pessoa é dono de uma vasta obra, ainda que tenha publicado somente 5 obras em vida, sendo apenas uma em português (Mensagem). Escreveu poesia e prosa em português, inglês e francês, além de ter trabalhado com traduções e críticas.
Sua poesia é repleta de lirismo e subjetividade, voltada para a metalinguagem. Os temas explorados pelo poeta são dos mais variados, embora tenha escrito muito sobre sua terra natal, Portugal.
Obras publicadas em vida:
- 35 Sonnets (1918)
- Antinous (1918)
- English Poems, I-II (1921)
- English Poems, III (1921)
- Mensagem (1934)
Obras publicadas postumamente:
- Poesias de Fernando Pessoa (1942)
- A Nova Poesia Portuguesa (1944)
- Poemas Dramáticos (1952)
- Novas Poesias Inéditas (1973)
- Poemas Ingleses Publicados por Fernando Pessoa (1974)
- Cartas de Amor de Fernando Pessoa (1978)
- Sobre Portugal (1979)
- Textos de Crítica e de Intervenção (1980)
- Obra Poética de Fernando Pessoa (1986)
- Primeiro Fausto (1986)
Poemas de Fernando Pessoa
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Anjos ou Deuses, de Fernando Pessoa (sob o heterônimo Ricardo Reis)
Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nos e compelindo-nos
Agem outras presenças.
Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,
Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem e nós não desejamos.
Tabacaria, de Fernando Pessoa (sob o heterônimo Álvaro de Campos)
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
O Guardador de Rebanhos, de Fernando Pessoa (sob o heterônimo Alberto Caeiro)
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Isto, de Fernando Pessoa (sob o semi-heterônimo Bernardo Soares)
Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério de que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
Heterônimos de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa foi um poeta excêntrico, de forma que criou inúmeros personagens, os famosos heterônimos.
Diferentes dos pseudônimos, eles possuíam vida, data de nascimento, morte, personalidade, mapa astral e estilo literário próprio.
Os heterônimos mais importantes de Pessoa são:
- Ricardo Reis
- Álvaro de Campos
- Alberto Caeiro
- Bernardo Soares (semi-heterônimo)
Ricardo Reis
Recebeu uma educação clássica e se formou em medicina. Era considerado um defensor da monarquia. Dono de uma linguagem culta e estilo neoclássico, alguns temas presentes em sua obra são mitologia, morte e vida.
Possuía grande interesse pela cultura latina e helenista. A obra “Odes de Ricardo Reis” foi publicada postumamente, em 1946.
Álvaro de Campos
Foi um engenheiro português que recebeu educação inglesa. Sua obra, repleta de pessimismo e intimismo, possui forte influência do simbolismo, decadentismo e futurismo. As “Poesias de Álvaro de Campos” foi publicada postumamente, em 1944.
Alberto Caeiro
Com uma linguagem simples, direta e temas que se aproximam da natureza, Alberto Caieiro cursou apenas a escola primária. Embora ele tenha sido um dos mais profícuos heterônimos de Fernando Pessoa.
Foi um anti-intelectualista, anti-metafísico, rejeitando, dessa forma, temas filosóficos, místicos e subjetivos. Foi publicada, postumamente, as “Poesias de Alberto Caeiro” (1946).
Bernardo Soares
Considerado um semi-heterônimo, visto que o poeta projetou nele algumas de suas características, como afirma o próprio Pessoa:
“Não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e afectividade”.
Bernardo é autor do “Livro dos Desassossegos”, considerada uma das obras fundadoras da ficção portuguesa no século XX.
Narrada em prosa, trata-se de uma espécie de autobiografia. Na trama, Bernardo Soares é um ajudante de guarda-livros em Lisboa, ao lado de Fernando Pessoa.
Para praticar: Exercícios sobre Fernando Pessoa e seus heterônimos (com comentários)
Leia também:
- Heterônimos de Fernando Pessoa
- Modernismo em Portugal
- José Saramago: quem foi (resumo da sua vida e obra)
DIANA, Daniela. Fernando Pessoa. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/fernando-pessoa/. Acesso em: