Iracema
Iracema é uma obra do escritor romântico cearense José de Alencar.
Publicada em 1865, trata-se de um romance indianista, com presença de elementos indígenas, mitológicos e históricos.
Lebre-se que o indianismo foi um movimento que esteve associado à primeira fase do romantismo no Brasil.
Com o intuito de buscar um tema nacional, o índio foi eleito. Por isso, é chamada de geração “nacionalista-indianista”.
Resumo e Trechos da Obra
Composta de 33 capítulos, Iracema possui grande valor estético e histórico. Faz parte da trilogia escrita pelo escritor José de Alencar: O Guarani, Ubirajara e Iracema.
Essa obra relata a história de amor entre a índia Iracema e o europeu Martin Soares Moreno.
O romance começa porque Martin ficou encarregado de colonizar a região, atual Ceará. Foi ali que ele conheceu "Iracema, a virgem dos lábios de mel".
O primeiro capítulo retrata o final da história, quando Martim e seu filho Moacir deixam as terras do Ceará.
“Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem.
A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas:
— Iracema!...
O moço guerreiro, encostado ao mastro, leva os olhos presos na sombra fugitiva da terra; a espaços o olhar empanado por tênue lágrima cai sobre o jirau, onde folgam as duas inocentes criaturas, companheiras de seu infortúnio.”
No segundo capítulo da obra, o autor apresenta a protagonista:
“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.”
Nesse momento, ocorre o encontro com o colonizador. Iracema está se banhando nas águas do rio e se assusta com uma imagem que nunca vira antes. Sua reação foi atirar-lhe uma flecha:
“Diante dela e todo a contemplá-la está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.”
Após ferir o branco guerreiro, Iracema se arrepende e resolve ajudá-lo, levando Martim até sua tribo.
Quando chegou à tribo, ele contou que estava perdido após sair para uma caçada com os índios potiguaras (tribo inimiga dos tabajaras).
A partir desse momento, começa a ser revelado o interesse entre os dois. Diante de um amor idealizado e proibido, Iracema resolve se relacionar com o português. Ela leva Martim a um bosque e lhe oferece uma bebida alucinógena.
Ainda que guardasse o segredo de Jurema, Iracema se apaixona pelo português. Ou seja, ela é guerreira virgem e sua virgindade pertence ao Deus Tupã.
Uma das peripécias reveladas pelo romance é a presença de Irapuã, o chefe dos guerreiros Tabajaras, apaixonado por Iracema.
No decorrer da trama, Martim e Irapuã tornam-se inimigos. Ocorrem várias tentativas de Irapuã tentar eliminar Martim, entretanto, sem sucesso.
A obra aponta a rivalidade entre as tribos potiguaras e tabajaras. Para os tabajaras, a tribo inimiga estava permitindo a entrada dos colonizadores.
Embora Martim tentasse voltar a tribo que o acolheu primeiramente (potiguaras), a pedido de Iracema ele resolve ficar com os tabajaras.
Num dos embates entre as tribos inimigas, Iracema e Martim resolvem viver numa cabana. Assim, a índia abandona sua família, tribo e tradições.
Poti, amigo tabajara de Martim segue com eles. Foi aí que a gravidez de Iracema foi revelada, dando à luz a um filho que lhe chamaram de Moacir.
Moacir veio ao mundo no momento em que Poti e Martim saem para lutar. Quando retornam, Iracema está muito debilitada e acaba morrendo.
“O cristão moveu o passo vacilante. De repente, entre os ramos das árvores, seus olhos viram, sentada à porta da cabana, Iracema com o filho no regaço e o cão a brincar. Seu coração o arrastou de um ímpeto, e toda a alma lhe estalou nos lábios:
— Iracema!...
A triste esposa e mãe soabriu os olhos, ouvindo a voz amada. Com esforço grande, pôde erguer o filho nos braços e apresentá-lo ao pai, que o olhava extático em seu amor.
— Recebe o filho de teu sangue. Chegastes a tempo; meus seios ingratos já não tinham alimento para dar-lhe!”
Ao final, Martim, que sentia muitas saudades de sua terra, retorna ao velho continente com seu cão e seu filho, o primeiro luso-brasileiro.
Confira a obra na íntegra, fazendo o download do PDF aqui: Iracema.
Personagens
- Iracema: protagonista da história e índia da tribo dos tabajaras.
- Caubi: índio tabajara e irmão de Iracema.
- Araquém: pajé da tribo tabajara e pai de Iracema e Caubi.
- Andira: Irmão de Araquém e velho guerreiro da tribo tabajara.
- Moacir: filho de Iracema e Martim, o primeiro brasileiro miscigenado.
- Irapuã: apaixonado por Iracema, é o chefe dos guerreiros tabajaras.
- Martim: português encarregado de colonizar a região. Ficou amigo dos índios potiguaras e depois de batizado recebeu o nome indígena “Coatibo”.
- Japi: cão de Martim.
- Poti: amigo de Martim, herói dos índios potiguaras.
- Jacaúna: chefe dos guerreiros potiguaras, irmão de Poti.
- Batuirité: avô de Poti e Jacaúna. Teve a visão sobre a destruição de seu povo pelos portugueses.
Leia também:
Você Sabia?
O nome do romance Iracema é um anagrama da palavra América.
Filme
Com direção de Carlos Coimbra, em 1979 foi lançado um filme baseado na obra Iracema, a virgem dos lábios de mel.
Veja também:
DIANA, Daniela. Iracema. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/iracema/. Acesso em: