Milagre Econômico
Milagre Econômico ou "milagre econômico brasileiro" corresponde ao crescimento econômico ocorrido no Brasil entre os anos de 1968 a 1973.
Esse período foi caracterizado pela aceleração do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), industrialização e inflação baixa.
Contudo, por trás da prosperidade, houve o aumento da concentração de renda, corrupção e exploração da mão de obra.
Foi no governo do presidente Emílio Médici (1969-1974), que o milagre econômico chegou ao ápice.
Origem do Milagre Econômico
O início do milagre econômico está na criação do Programa de Ação Econômica do Governo (Paeg) na gestão do presidente Castelo Branco (1964-1967).
O Paeg previa incentivo às exportações, abertura ao capital exterior, bem como reforma nas áreas fiscal, tributária e financeira.
Durante o milagre econômico, o PIB alcançou 11,1% de crescimento anual.
Para centralizar as decisões econômicas foi criado o Banco Central. Da mesma forma, a fim de favorecer o crédito e resolver o déficit habitacional, o governo instituiu o SFH (Sistema Financeiro Habitacional), formado pelo BNH (Banco Nacional de Habitação) e pela CEF (Caixa Econômica Federal).
A principal fonte de recursos para o sistema habitacional viria do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Este imposto, criado em 1966, era descontado do trabalhador e foi usado para estimular a construção civil.
Também se favoreceu a criação de bancos para estimular o mercado de capitais e a abertura de crédito para o consumidor melhorando, entre outros, o desempenho da indústria de automóvel.
Além disso, nada mais que 274 estatais, como a Telebrás, Embratel e Infraero foram abertas neste período.
Na época, o ministro da Fazenda, Delfim Neto, justificou essas medidas como fundamentais para impulsionar o crescimento do País. Delfim Neto utilizava a metáfora que “o bolo precisava crescer para depois ser repartido”.
Obras durante o Milagre Econômico
Além das medidas de incentivo, o milagre econômico foi concretizado por meio de obras de grande porte como estradas e hidrelétricas.
Entre estas podemos citar a rodovia Transamazônica (que une o Pará até a Paraíba), a Perimetral Norte (Amazonas, Pará, Amapá e Roraima) e a ponte Rio-Niterói (ligando as cidades do Rio de Janeiro e Niterói).
Podemos mencionar também a Usina de Itaipu, as usinas de energia nuclear de Angra e a zona Franca de Manaus.
Os recursos para essas obras foram obtidos por meio de empréstimos internacionais, que elevaram a dívida externa. O financiamento internacional também foi empregado para alavancar projetos de mineração, como os das usinas de Carajás e Trombetas, ambas no Pará.
De igual maneira receberam recursos internacionais as indústrias de bens de consumo (máquinas e equipamentos), farmacêutica e agricultura. O setor agrícola voltou-se para a monocultura, visando o mercado internacional.
Estas obras de infraestrutura eram necessárias em um país em crescimento e com as dimensões do Brasil. No entanto, foram feitas de maneira pouco transparente e consumiram muito mais recursos do que o previsto inicialmente.
Para atrair o empresariado, o governo federal achatou os salários dos trabalhadores. Como os sindicatos estavam sob intervenção, as negociações quase sempre favoreciam o empresário. Nesta época, com fiscalização deficiente, os acidentes de trabalho se multiplicaram.
Fim do Milagre Econômico
No cenário externo, a situação mudou a partir de 1973, quando aconteceu o Primeiro Choque do Petróleo. Neste ano, os países produtores pararam de vender petróleo para países quem fossem aliados de Israel. Assim, o preço do barril quadruplicou em apenas um ano, encarecendo a produção industrial.
Para encarar esta subida de preços, os Estados Unidos elevaram os juros do mercado internacional na década de 70 e reduziram as remessas de dinheiro para os países em desenvolvimento.
O Brasil parou de receber empréstimos e passou a pagar juros exorbitantes da dívida externa. Em consequência, houve arrocho salarial, desvalorização cambial e redução do poder aquisitivo da população.
O salário mínimo ficou abaixo dos US$ 100 resultando em aumento da pobreza e da miséria.
A política econômica privilegiou as exportações e impôs pesados encargos às importações. A estratégia resultou no sucateamento das indústrias nacionais.
Por estes motivos, o setor industrial não podia importar máquinas e modernizar os fábricas que, obsoletas, perderam competitividade.
Resumo do Milagre Econômico
Até hoje a herança do "milagre econômico" é muito discutida entre historiadores e economistas. Isto se deve, em parte, pela própria propaganda que o governo do general Emílio Médici (1970-1974) fazia do crescimento econômico brasileiro.
A vitória da seleção masculina de futebol, por exemplo, auxiliou a passar esta imagem positiva no Brasil.
Apesar de ter sido realizado num ambiente autoritário e que prejudicou os trabalhadores, o “milagre econômico” deixou marcas que sobrevivem até hoje. Vejamos:
Pontos Positivos
- Construção de obras importantes, como a ponte Rio-Niterói e a usina de Itaipu
- Aceleração da industrialização
- Incentivo à indústria da construção civil com a criação do Sistema Financeiro Habitacional
Pontos Negativos
- Aumento da pobreza
- Aumento da inflação
- Redução do poder aquisitivo do trabalhador pobre
- Investimento mínimo em saúde, educação e previdência social
- Desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar
- Aumento da dívida externa
- Corrupção e favorecimento a empreiteiras ligadas ao governo
- Dependência de empréstimos do exterior, principalmente dos Estados Unidos
Consequências do Milagre Econômico
A política econômica do regime ditatorial foi centralizadora, privilegiou o aumento da máquina pública e favoreceu as camadas mais ricas com isenção de impostos.
Assim, houve elevado déficit do salário mínimo e a redução da renda das camadas mais pobres da população. Em contrapartida, os mais ricos acumularam proventos.
Os serviços de áreas como a saúde, educação e previdência social ficaram prejudicadas, pois não acompanharam o crescimento populacional e não receberam investimentos. Desta maneira, foram perdendo a qualidade e eficiência.
Década Perdida
Os anos 80 são considerados uma década perdida para o Brasil e para a América Latina. A denominação é utilizada para explicar os efeitos do fim do período do milagre econômico.
Durante este decênio, o governo deixou de ser o principal investidor e o empresariado não tinha como fazer frente às despesas. Houve, ainda, aumento da dívida externa, da pobreza e redução das exportações. O Brasil ficou mais dependente do capital estrangeiro e a indústria estagnou.
Também ocorreu intensa redução dos salários, com a consequente queda do poder aquisitivo da população. O PIB caiu e o desemprego aumentou, bem como a miséria.
Quer saber mais sobre o período da Ditadura Militar? Leia estes textos:
- Industrialização no Brasil
- O que é ditadura?
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- Ato Institucional nº 5 - AI-5
- Geografia Enem: assuntos que mais caem
BEZERRA, Juliana. Milagre Econômico. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/milagre-economico/. Acesso em: