Narração

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora de Língua Portuguesa e Literatura

Narração é o relato feito por alguém sobre uma sequência de acontecimentos. Essa sucessão de acontecimentos, chamada de enredo, considera um período de tempo e de espaço (quando e onde acontece).

Quem assume o papel de narrar, contar ou relatar os acontecimentos é chamado de narrador. O narrador relata os acontecimentos vividos pelos personagens.

Tipos de narrativa

Dentre os tipos de narrativa, citamos: conto, crônica, fábula, novela e romance.

  • Conto: narrativa curta que gira em torno de um acontecimento real ou fictício.
  • Crônica: narrativa informal que tem como tema o cotidiano.
  • Fábula: narrativa que transmite mensagem de cunho moral.
  • Novela: narrativa longa que se desenvolve em torno de um personagem principal.
  • Romance: narrativa longa que envolve várias tramas.

Exemplo de narração (conto)

Trecho do conto Felicidade clandestina, de Clarice Lispector:

"No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!"

Exemplo de narração (crônica)

Crônica Aprenda a chamar a polícia, de Luís Fernando Veríssimo:

Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa.

Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro.

Como minha casa era muito segura, com grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali, espiando tranquilamente.

Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço.

Perguntaram-me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa.

Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível.

Um minuto depois, liguei de novo e disse com a voz calma:

— Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro de escopeta calibre 12, que tenho guardada em casa para estas situações. O tiro fez um estrago danado no cara!

Passados menos de três minutos, estavam na minha rua cinco carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do resgate, uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos, que não perderiam isso por nada neste mundo.

Eles prenderam o ladrão em flagrante, que ficava olhando tudo com cara de assombrado. Talvez ele estivesse pensando que aquela era a casa do Comandante da Polícia.

No meio do tumulto, um tenente se aproximou de mim e disse:

— Pensei que tivesse dito que tinha matado o ladrão.

Eu respondi:

— Pensei que tivesse dito que não havia ninguém disponível.

Exemplo de narração (fábula)

Fábula O leão e o rato, de La Fontaine:

Certo dia, estava um Leão dormindo tranquilamente quando um ratinho começou a saltar em cima dele. O Leão acordou, pôs a pata em cima do rato, abriu a boca e preparou-se para o devorar.

- Perdoe-me, por favor! - gritou o ratinho - Se me perdoar desta vez, nunca o esquecerei. Quem sabe um dia você precise da minha ajuda?

O Leão ficou tão divertido com a ideia que levantou sua pata e o deixou o ratinho ir embora.

Dias depois, o Leão caiu em uma armadilha. Os caçadores queriam oferecer um leão vivo ao Rei, então, amarraram-no a uma árvore e partiram à procura de uma forma para o transportar.

Nesse momento, apareceu o ratinho. Vendo a situação em que o leão se encontrava, conseguiu soltá-lo roendo as cordas que o prendiam.

E assim, um ratinho salvou o Rei dos Animais.

Estrutura da narrativa

A narração segue a seguinte estrutura: apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho.

Apresentação: é parte introdutória, em que as principais características do contexto são apresentadas, tais como as personagens, o lugar e o período de tempo.

Desenvolvimento: é a parte que apresenta a sucessão de acontecimentos.

Clímax: é a parte mais emocionante em virtude de ser o momento em que algo é revelado.

Desfecho: é parte conclusiva, a partir de quando são tomados os rumos finais da narração.

Elementos da narrativa

Os elementos da narrativa são: enredo, narrador, personagens, tempo e espaço.

Enredo: é a sequência de acontecimentos, cuja principal característica é o conflito, que cria a tensão na narração.

Narrador: é quem narra a sequência de acontecimentos. Há três tipos de narrador: narrador personagem (narra 1ª pessoa), narrador observador (narra em 3ª pessoa) e narrador onisciente (narra em 3ª pessoa e sabe tudo sobre a história).

Personagens: são os que atuam na narração, sendo classificadas em: protagonistas (os principais), antagonistas (que se opõe aos protagonistas) e secundários.

Tempo: é o período em que os acontecimentos se passam.

Espaço: é o local onde os acontecimentos se passam.

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Referências Bibliográficas

GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. 7. ed. São Paulo: Ática, 2001.

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).