Narrador Onisciente
O narrador onisciente, também chamado de onipresente, é um tipo de narrador que conhece toda a história e os detalhes da trama.
Além disso, ele tem conhecimento sobre seus personagens, desde sentimentos, emoções e pensamentos.
Nesse tipo de foco narrativo, a história é geralmente narrada em terceira pessoa e, portanto, o narrador não participa das ações.
No entanto, por vezes, a trama pode ser narrada em primeira pessoa. Já que esse narrador sabe de tudo, ele apresenta alguns pensamentos ou fluxos de consciência de seus personagens.
Lembre-se que o texto narrativo é normalmente escrito em prosa e engloba: enredo, narrador, personagens, tempo e espaço.
Classificação
Narrador Onisciente Intruso
O narrador onisciente intruso recebe esse nome, pois, ao mesmo tempo que narra a história, critica os personagens e insere juízos de valor sobre algumas ações.
Assim, ele é livre para julgar e se posicionar sobre os fatos da trama e, portanto, apresenta sua opinião.
Exemplo:
“Mas já são muitas idéias, — são idéias demais; em todo caso são idéias de cachorro, poeira de idéias, — menos ainda que poeira, explicará o leitor. Mas a verdade é que este olho que se abre de quando em quando para fixar o espaço, tão expressivamente, parece traduzir alguma coisa, que brilha lá dentro, lá muito ao fundo de outra coisa que não sei como diga, para exprimir uma parte canina, que não é a cauda nem as orelhas. Pobre língua humana!
Afinal adormece. Então as imagens da vida brincam nele, em sonho, vagas, recentes, farrapo daqui remendo dali. Quando acorda, esqueceu o mal; tem em si uma expressão, que não digo seja melancolia, para não agravar o leitor. Diz-se de uma paisagem que é melancólica, mas não se diz igual coisa de um cão. A razão não pode ser outra senão que a melancolia da paisagem está em nós mesmos, enquanto que atribuí-la ao cão é deixá-la fora de nós. Seja o que for, é alguma coisa que não a alegria de há pouco; mas venha um assobio do cozinheiro, ou um gesto do senhor, e lá vai tudo embora, os olhos brilham, o prazer arregaça-lhe o focinho, e as pernas voam que parecem asas.” (Quincas Borba, Machado de Assis)
Narrador Onisciente Neutro
O nome já indica que, diferente do intruso, esse narrador é neutro e, portanto, não insere observações sobre a trama.
Aqui, ele se ocupa somente das descrições dos personagens e da narração da história. Sendo assim, seu relato é imparcial e não influencia o leitor.
Exemplo:
“Depois de casado viveu dois ou três anos da fortuna da mulher, comendo bem, levantando-se tarde, fumando em grandes cachimbos de porcelana, só voltando para casa à noite, depois do espectáculo, e frequentando os cafés. O sogro morreu e deixou pouca coisa; ele indignou-se com isso, montou uma fábrica, perdeu nela algum dinheiro e retirou-se para o campo, onde pretendeu desforrar-se. Mas, como não entendia mais de agricultura do que de chitas, e porque montava os cavalos em vez de os pôr a trabalhar, bebia sidra às garrafas em vez de a vender em barris, comia as melhores aves da capoeira e engraxava as botas de caçar com o toucinho dos porcos, não tardou a aperceber-se de que mais valia abandonar toda a especulação.” (Madame Bovary, Gustave Flaubert)
Narrador Onisciente Múltiplo
Esse narrador possui opiniões e visões diversas sobre os fatos. Ele influencia o leitor para que este tome alguma posição. Trata-se de um narrador seletivo onde prevalece o discurso indireto livre.
Exemplo:
“Realmente para eles era bem pequeno, mas afirmavam que era grande - e marchavam, meio confiados, meio inquietos. Olharam os meninos, que olhavam os montes distantes, onde havia seres misteriosos. Em que estariam pensando? zumbiu Sinha Vitória.
Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa. Mas Sinha Vitória renovou a pergunta - e a certeza do marido abalou-se. Ela devia ter razão. Tinha sempre razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem.” (Vidas Secas, Graciliano Ramos)
Leia também:
DIANA, Daniela. Narrador Onisciente. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/narrador-onisciente/. Acesso em: