Narrador Onisciente

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

O narrador onisciente, também chamado de onipresente, é um tipo de narrador que conhece toda a história e os detalhes da trama.

Além disso, ele tem conhecimento sobre seus personagens, desde sentimentos, emoções e pensamentos.

Nesse tipo de foco narrativo, a história é geralmente narrada em terceira pessoa e, portanto, o narrador não participa das ações.

No entanto, por vezes, a trama pode ser narrada em primeira pessoa. Já que esse narrador sabe de tudo, ele apresenta alguns pensamentos ou fluxos de consciência de seus personagens.

Lembre-se que o texto narrativo é normalmente escrito em prosa e engloba: enredo, narrador, personagens, tempo e espaço.

Classificação

Narrador Onisciente Intruso

O narrador onisciente intruso recebe esse nome, pois, ao mesmo tempo que narra a história, critica os personagens e insere juízos de valor sobre algumas ações.

Assim, ele é livre para julgar e se posicionar sobre os fatos da trama e, portanto, apresenta sua opinião.

Exemplo:

Mas já são muitas idéias, — são idéias demais; em todo caso são idéias de cachorro, poeira de idéias, — menos ainda que poeira, explicará o leitor. Mas a verdade é que este olho que se abre de quando em quando para fixar o espaço, tão expressivamente, parece traduzir alguma coisa, que brilha lá dentro, lá muito ao fundo de outra coisa que não sei como diga, para exprimir uma parte canina, que não é a cauda nem as orelhas. Pobre língua humana!

Afinal adormece. Então as imagens da vida brincam nele, em sonho, vagas, recentes, farrapo daqui remendo dali. Quando acorda, esqueceu o mal; tem em si uma expressão, que não digo seja melancolia, para não agravar o leitor. Diz-se de uma paisagem que é melancólica, mas não se diz igual coisa de um cão. A razão não pode ser outra senão que a melancolia da paisagem está em nós mesmos, enquanto que atribuí-la ao cão é deixá-la fora de nós. Seja o que for, é alguma coisa que não a alegria de há pouco; mas venha um assobio do cozinheiro, ou um gesto do senhor, e lá vai tudo embora, os olhos brilham, o prazer arregaça-lhe o focinho, e as pernas voam que parecem asas.” (Quincas Borba, Machado de Assis)

Narrador Onisciente Neutro

O nome já indica que, diferente do intruso, esse narrador é neutro e, portanto, não insere observações sobre a trama.

Aqui, ele se ocupa somente das descrições dos personagens e da narração da história. Sendo assim, seu relato é imparcial e não influencia o leitor.

Exemplo:

Depois de casado viveu dois ou três anos da fortuna da mulher, comendo bem, levantando-se tarde, fumando em grandes cachimbos de porcelana, só voltando para casa à noite, depois do espectáculo, e frequentando os cafés. O sogro morreu e deixou pouca coisa; ele indignou-se com isso, montou uma fábrica, perdeu nela algum dinheiro e retirou-se para o campo, onde pretendeu desforrar-se. Mas, como não entendia mais de agricultura do que de chitas, e porque montava os cavalos em vez de os pôr a trabalhar, bebia sidra às garrafas em vez de a vender em barris, comia as melhores aves da capoeira e engraxava as botas de caçar com o toucinho dos porcos, não tardou a aperceber-se de que mais valia abandonar toda a especulação.” (Madame Bovary, Gustave Flaubert)

Narrador Onisciente Múltiplo

Esse narrador possui opiniões e visões diversas sobre os fatos. Ele influencia o leitor para que este tome alguma posição. Trata-se de um narrador seletivo onde prevalece o discurso indireto livre.

Exemplo:

Realmente para eles era bem pequeno, mas afirmavam que era grande - e marchavam, meio confiados, meio inquietos. Olharam os meninos, que olhavam os montes distantes, onde havia seres misteriosos. Em que estariam pensando? zumbiu Sinha Vitória.

Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa. Mas Sinha Vitória renovou a pergunta - e a certeza do marido abalou-se. Ela devia ter razão. Tinha sempre razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem.” (Vidas Secas, Graciliano Ramos)

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Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.