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Navios Negreiros

Ligia Lemos de Castro
Revisão por Ligia Lemos de Castro
Professora de História

Os navios negreiros eram embarcações que transportavam os africanos capturados e destinados ao trabalho escravo no continente americano entre os séculos XVI e XIX.

O primeiro embarque registrado de africanos escravizados para o Brasil ocorreu em 1530, com a expedição de Martim Afonso de Souza. Acredita-se que os últimos embarques tenham acontecido entre as décadas de 1850 e 1860, quando o tráfico negreiro já era considerado ilegal.

Como era a vida nos navios negreiros

Enquanto perdurou o tráfico negreiro, antes das leis da primeira metade do século XIX que começaram a proibir este comércio, os africanos escravizados eram tratados como mercadoria.

Assim, os escravizados eram transportados nos porões dos navios, onde permaneciam confinados em viagens que poderiam durar dois meses, até a chegada ao destino.

Navio Negreiro
"Navio Negreiro", de Rugendas, em 1830

Eram embarcados à força e aprisionados em porões que mal davam para permanecerem sentados. Os africanos escravizados eram mantidos nus, separados por sexo e os homens permaneciam acorrentados a fim de evitar revoltas. Já as mulheres, constantemente sofriam violência sexual por parte da tripulação.

Calcula-se que, de 1514 a 1866, 12,5 milhões de indivíduos (estima-se que 26% eram ainda crianças) foram transportados como mercadoria para os portos americanos.

Destes, cerca de 12,5% (1,6 milhão) não sobreviveram à viagem. É importante ressaltar que este número se refere apenas a quem morreu ainda durante a viagem.

Esse foi o maior deslocamento forçado da história registrado até o momento.

Doenças

As principais causas de mortes estavam relacionadas a problemas gastrointestinais, escorbuto e doenças infectocontagiosas - que também atingiam a tripulação. Tais problemas eram causados pelas péssimas condições de higiene, superlotação dos porões e escassez de alimentos.

Revoltas

Outro fator que contribuía para o elevado número de mortes eram os castigos aplicados aos revoltosos.

Grande parte dos escravos era obrigada a presenciar a punição, a fim de que eles fossem persuadidos de não tentarem o mesmo.

A mais conhecida revolta foi a do navio "Amistad" (1839), que teve sua história levada ao cinema. Outras revoltas, como a do barco "Kentucky" *(1845) foram sufocadas e os revoltosos jogados ao mar.

Navio Negreiro
Aspecto de um navio negreiro inglês e a quantidade de pessoas escravizadas que poderia transportar

Fim do Tráfico Negreiro

As condições dos navios pioraram à medida que o mercado internacional mudou o rumo do comércio de escravizados.

A partir do início do século XIX, a Inglaterra passa a exercer uma forte pressão para a extinção do comércio de escravizados.

Os ingleses, que já haviam iniciado sua Revolução Industrial em meados do século XVIII, começaram por proibir o tráfico de escravizados em seu império e, mais tarde, a pressionar países com os quais mantinha relações comerciais por meio de leis que restringiam o tráfico.

Tal interesse dos ingleses justificava-se pela ambição em desenvolver um grande mercado consumidor internacional para seus produtos industriais, o que ficava limitado pela restrição que o trabalho escravo representava.

Com a mudança da concepção sobre a escravidão humana, esta atividade passou a ser considerada como tráfico negreiro.

Parte da frota britânica passou a fiscalizar as rotas e a capturar os navios negreiros. Para não serem pegos em flagrante, muitas vezes os capitães ordenavam que se jogasse a “carga” – vidas humanas – ao mar.

Para compensar a vigilância britânica, os traficantes aumentaram a quantidade de cativos por navio. Isto reduziu drasticamente as condições sanitárias e estruturais das viagens, aumentando o sofrimento e o número de óbitos.

Oficialmente, o tráfico negreiro foi definitivamente proibido no Brasil em 1850 pela Lei Eusébio de Queirós. Porém, o comércio ilegal ainda perdurou por alguns anos durante aquela década.

O Navio Negreiro de Castro Alves

O poeta Castro Alves (1847-1871) se engajou com o Abolicionismo e escreveu o poema "Navio Negreiro", em 1868.

Castro Alves costumava recitá-lo no teatro, tertúlias e saraus para conscientizar a sociedade brasileira dos horrores aos quais os negros eram submetidos nestes navios.

Os versos descreviam as terríveis condições de viagem e faziam uma crítica direta ao governo brasileiro por ainda permitir a entrada de escravos no seu território, apesar da promulgação da Lei Eusébio de Queirós.

Leia abaixo um trecho do poema:

Era um sonho dantesco… o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros… estalar de açoite…
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar…

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:

Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

Estude mais sobre o assunto:

Referências Bibliográficas

RODRIGUES, Jaime. Navio Negreiro. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos (Org). Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

Ligia Lemos de Castro
Revisão por Ligia Lemos de Castro
Professora de História formada pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Docência na Educação à Distância pela Universidade Federal de São Carlos. Leciona História para turmas do Ensino Fundamental II desde 2017.
Juliana Bezerra
Edição por Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.