O Condoreirismo
O Condoreirismo é o nome de uma tendência da literatura romântica do século XVIII.
Está inserida na terceira fase do Romantismo no Brasil (1870 a 1880), a qual ficou conhecida como “Geração Condoreira”.
Recebe esse nome uma vez que está associada metaforicamente à liberdade da ave condor, símbolo da Cordilheira dos Andes.
Sendo assim, o Condoreirismo representou a busca dos escritores pelos princípios libertários, os quais foram inspirados sobretudo na poesia político-social do francês Victor Hugo (1802-1895) com destaque para a obra “Os Miseráveis”. Por isso, essa fase também é chamada de “Geração Hugoana”.
O Condoreirismo se afasta dos princípios da primeira e da segunda fase romântica, posto que não apresenta mais aquele estilo melancólico.
Suas principais características são os temas abordados, os quais dão lugar às preocupações de cunho social e político, em detrimento das temáticas exploradas anteriormente, tal qual o amor não correspondido, a morte, a idealização da mulher, o egocentrismo, dentre outros.
Características do Condoreirismo
As principais características do Condoreirismo são:
- Liberdade poética
- Busca da justiça e da identidade nacional
- Temas abolicionistas e republicanos
- Libertação do egocentrismo
- Erotismo e pecado
- Poesia social
Contexto Histórico
O Romantismo no Brasil teve início no início do século XIX no contexto da Independência do nosso país (1822).
Com o enfraquecimento do poder monárquico, o momento era de fortes agitações políticos-sociais, donde grande parte da população buscava um governo republicano, bem como denunciar as condições dos escravos.
Essa fase impulsionou os artistas a buscarem uma identidade nacional, cuja temática do abolicionismo adquire um local de centralidade na terceira fase denominada de condoreira.
Foi assim que a partir da década de 60 do século XIX, os poetas dessa geração se inspiraram nos temas de cunho político e social a fim de denunciar as mazelas da sociedade brasileira.
Principais Autores
Os autores que mais marcaram a geração condoreira no Brasil foram:
Castro Alves (1847-1871)
Sem dúvida, Castro Alves foi o poeta o principal representante da poesia social condoreira, com destaque para a temática do abolicionismo.
Por esse motivo, ficou conhecido como “Poeta dos Escravos” sendo suas obras mais destacadas: “O Navio Negreiro”, “Os Escravos” e “Vozes D’África”.
Sousândrade (1833-1902)
Joaquim de Sousa Andrade, conhecido como Sousândrade, foi defensor dos ideais republicanas e abolicionistas abordados na sua poesia social.
É considerado um precursor da modernidade, sendo um dos primeiros escritores modernos brasileiros. Suas obras que merecem destaque são: “Harpas Selvagens”, “Harpas de Oiro” e “O Guesa Errante”.
Tobias Barreto (1839-1889)
Tobias Barreto de Meneses foi poeta, filósofo e jurista. Considerado um dos fundadores do Condoreirismo no Brasil, explorou o lirismo e os temas sociais e políticos em sua obra, das quais se destacam “Amar”, “O Gênio da Humanidade” e “A Escravidão”.
Poesia Condoreira: Exemplos
Segue abaixo alguns exemplos da Poesia Condoreira:
Trecho da obra “O Navio Negreiro” de Castro Alves
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
Trecho da Poesia “O Guesa Errante” de Sousândrade
Folga, imaginação divina!
Os Andes
Vulcânicos elevam os cumes calvos,
Circundados de gelos, mudos, alvos,
Nuvens flutuando — que espetáculos grandes!
Lá, onde o ponto do condor negreja,
Cintilando no espaço como brilhos
D'olhos, e cai a prumo sobre os filhos
Do lhama descuidado; onde lampeja
Rugindo a tempestade; onde, deserto
O azul sertão, formoso e deslumbrante,
Arde do sol o incêndio, delirante
No seio a palpitar do céu aberto,
Coração vivo! — Nos jardins da América
Infante adoração dobrou sua crença
Ante o belo sinal, que a nuvem ibérica
Em sua noite envolveu ruidosa e densa.
Poema “A Escravidão” de Tobias Barreto
Se Deus é quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.
Se não lhe importa o escravo
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus
Em seu delírio inefável,
Praticando a caridade,
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!...
Leia também:
DIANA, Daniela. O Condoreirismo. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/o-condoreirismo/. Acesso em: