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O que é a tese na redação: veja exemplos e aprenda a fazer

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora de Língua Portuguesa e Literatura

A tese é a opinião ou a ideia que o autor tem sobre o tema proposto na redação. Ela é muito importante, porque é com base nela que a redação é escrita.

A introdução apresenta a opinião sobre o tema, o desenvolvimento contém os argumentos para defender essa opinião e a conclusão finaliza o texto, mostrando as consequências desses argumentos. Além disso, a conclusão apresenta uma solução para o tema, porque o tema contém uma situação problematizada.

Assim, podemos dizer que a tese concentra a ideia principal de uma redação.

Exemplos de teses claras e eficazes

Apresentamos exemplos de redações que tiraram nota mil no Enem 2021, que teve como tema "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil".

Exemplo 1 - Redação de Alice Souza Moreira:

"A Constituição Federal, promulgada em 1988, foi esboçada com o objetivo de delinear direitos básicos para todos os cidadãos. Entretanto, tal teoria não tem sido vista em metodologias práticas, uma vez que ainda há a falta do registro civil de milhares de pessoas, impedindo-as de garantir o acesso à cidadania no Brasil, o que gera a invisibilidade social. Tal invisibilidade provoca inúmeras chagas, como a precarização do trabalho e a exclusão democrática.

Diante desse cenário, é válido retomar o aspecto supracitado quanto à precarização do trabalho laboral. Nesse contexto, é indiscutível que a ausência do registro civil primordial – a certidão de nascimento – impossibilita a pessoa de possuir outros documentos necessários para a vivência social, como, por exemplo, a carteira de trabalho. Dessa forma, é afirmativo que tal lacuna incorre na precarização do trabalho, uma vez que inviabiliza a efetivação dos direitos laborais, como férias remuneradas, ou, em casos mais extremos, torna o indivíduo vulnerável a trabalhos análogos à escravidão. Em consonância com tal tese, é possível citar a obra “Casa-grande e Senzala”, do autor Gilberto Freyre, na qual ele realiza uma comparação entre o Brasil hodierno e o Brasil Colônia, em que o trabalho escravo – ou seja, o ato laboral precarizado – é um instrumento de invisibilidade social. Sendo assim, torna-se evidente a essencialidade dos registros civis na garantia dos direitos trabalhistas para todos os brasileiros, o que, por sua vez, coopera em promover a visibilidade cidadã.

Ademais, é essencial citar a exclusão democrática como uma das principais consequências da falta de registros civis. Nessa perspectiva, é notável que a já citada ausência da certidão de nascimento impede, também, a realização do título de eleitor, documento necessário para o pleno exercício da democracia brasileira. Sob esse viés, é possível relacionar tal tese ao conceito de polifonia das cidades, desenvolvido pelo teórico Nick Couldry, no qual ele afirma que a democracia é constituída pela atuação das vozes de todos, e, por isso, onde não há a voz de alguém, não há democracia. Desse modo, fica evidente que a ausência do registro civil impossibilita a participação política, o que causa o silenciamento da voz daquele pseudocidadão brasileiro.

Nota-se, portanto, a necessidade de reverter esse cenário de invisibilidade social causado pela ausência do registro civil. Para tal é intrínseco que o Governo Federal, órgão de maior importância no âmbito nacional, implemente mais Varas da Infância e da Juventude em locais de alta procura por esses serviços. Tal ação deve ser realizada por meio da criação de secretarias e/ou departamentos responsáveis por pesquisa e controle, a fim de haver um mapeamento de cidades e regiões metropolitanas onde há maiores índices de invisibilidade social, para, assim, suprir a demanda requerida para o registro civil dos futuros cidadãos. Dessa forma, progressivamente haverá a garantia da cidadania para todos os brasileiros."

Qual é a tese?

No primeiro parágrafo, a autora do texto apresenta a sua ideia sobre o tema proposto. Na sua opinião, apesar de a constituição, promulgada em 1988, traçar direitos básicos para todos os cidadãos, a cidadania ainda não é garantida a milhares de pessoas. Isso as torna “invisíveis” e o resultado é a precarização do trabalho e exclusão democrática.

A partir dessa tese, a autora apresentou argumentos nos 2.º e 3.º parágrafos: a ausência de registro civil impede as pessoas de obterem carteira de trabalho e título de eleitor.

Por fim, a autora mostrou a consequência desses argumentos e também uma solução no 4.º parágrafo: necessidade de promover o registro civil, sugerindo o mapeamento dos locais com maiores índices de invisibilidade social para suprir a demanda de registro civil.

Exemplo 2 - Redação de Mariana Mariah Idalgo da Costa:

"Sob a perspectiva sociológica de Jessé Souza, o Brasil é majoritariamente formado por subcidadãos, visto que uma ampla parcela da população não usufrui plenamente de seus direitos. Essa subcidadania criticada pelo sociólogo é facilmente observada na invisibilidade de um vasto contingente de brasileiros que não possuem certidão de nascimento. Tal contexto excludente é motivado, sobretudo, pelo desconhecimento acerca das formas de obtenção do registro civil, resultando na restrição de um conjunto de garantias constitucionais. Assim, é fundamental a atuação governamental para o combate a esse atentado à cidadania.

Convém ressaltar, inicialmente, a influência da falta de informações na manutenção do grande número de brasileiros sem documentação pessoal. Nesse sentido, segundo o filósofo Immanuel Kant, a ausência de saberes configura um estado de “menoridade”, no qual os indivíduos não possuem autonomia para agir individualmente. Consoante esse pensamento, como uma significativa parcela da população desconhece as alternativas para a formulação de seu registro civil, ela se torna incapaz de buscar a posse dessa garantia fundamental. Tendo isso em vista, fica evidente que o enfrentamento da desinformação é crucial para a democratização das certidões de nascimento no Brasil e, consequentemente, para erradicar a subcidadania.

Por conseguinte, a inexistência da identificação pessoal limita a consolidação de outros direitos imprescindíveis, perpetuando a invisibilidade e a supressão da cidadania de muitos habitantes do país. Nessa perspectiva, é lícito citar que, de acordo com o sociólogo Thomas Marshall, um verdadeiro cidadão deve exercer efetivamente suas garantias civis, sociais e políticas previstas constitucionalmente. Contudo, indo de encontro à definição de Marshall, a ausência do registro civil priva o indivíduo de gozar dos dois últimos direitos descritos, uma vez que, sem esse documento, ele não pode se cadastrar em programas de cunho social nem obter o título de eleitor. Dessa forma, é imperiosa a expansão do acesso à certidão de nascimento para que a condição cidadão efetivamente vigore no Brasil.

Portanto, urge que medidas de esclarecimento sejam tomadas pelo governo federal a fim de combater esse panorama de “pessoas invisíveis” no país. Para isso, com o objetivo de informar a população carente sobre as formas de receber seu registro civil, cabe ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos – órgão responsável pela implementação de políticas referentes às minorias sociais – organizar comitivas de funcionários para visitar as casas dessa parcela populacional e abordar os caminhos de se obter essa documentação. Isso deve ser feito por meio de pesquisar que localizem as principais áreas onde há carência de certidões e os visitantes devem ser psicólogos que trabalhem com grupos sociais com poucos recursos financeiros, para que saibam usar uma linguagem adequada para informá-los. A partir disso, será possível alcançar a cidadania descrita por Marshall."

Qual é a tese?

No primeiro parágrafo, a autora do texto apresenta a sua ideia para o tema proposto. Na sua opinião, muitos brasileiros são subcidadãos, porque não podem usufruir dos seus direitos.

A partir dessa tese, a autora apresentou argumentos nos 2.º e 3.º parágrafos: como muitas pessoas são incapazes de garantir a plenitude dos seus direitos, porque não sabem como fazer o registro civil, a desinformação é um grande impedimento para acabar com a subcidadania.

As consequências para os seus argumentos foram apresentadas no fim do 3.º parágrafo: sem o registro civil, os cidadãos não podem ter acesso a programas sociais e nem podem obter o título de eleitor.

Por fim, a autora apresentou uma solução no 4.º parágrafo: delegar ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos a organização de comitivas que vão ao encontro das pessoas que não tenham certidão de nascimento para informá-las como obtê-la.

Como criar uma tese forte

Quando recebemos o tema de uma redação, primeiramente, precisamos pensar na tese, ou seja, nas ideias que temos sobre ele. Essas ideias devem basear-se em argumentos para tentamos convencer o leitor.

Foi o que fizeram as autoras das redações que vimos acima. Na redação da Alice Moreia, ela apresentou a sua tese de que a cidadania ainda não é garantida a milhares de pessoas, tornando-as “invisíveis”, e que tudo isso resulta na precarização do trabalho e exclusão democrática.

Para defender esse seu ponto de vista, Alice citou os seus conhecimentos acerca da Constituição Federal, da obra “Casa-grande e Senzala” e do conceito de polifonia das cidades, desenvolvido pelo teórico Nick Couldry.

Isso mostra que, antes de começarmos a escrever, precisamos organizar as nossas ideias e também os conhecimentos que temos que ajudem a reforçar as nossas opiniões.

A tese deve ser pensada de forma completa, ou seja, qual é a ideia, quais são os argumentos, qual é a solução. É assim que criamos uma tese. E é a partir daí que desenvolvemos uma redação dissertativa-argumentativa, tipo de redação cobrada no Enem e nos vestibulares.

Para que a tese seja forte, é essencial escrevermos um texto coeso, em que ideias, argumentos, consequências e soluções se combinem num texto e não em parágrafos soltos. É muito importante, também, que o nosso texto seja coerente, permitindo que o leitor consiga entender facilmente o conteúdo apresentado.

Na redação da Mariana da Costa, as ideias estão organizadas e as partes - apresentação de ideias, de defesa e argumentos, de consequências e solução - ligam-se entre elas.

ideia: muitos brasileiros são subcidadãos, porque não podem usufruir dos seus direitos.

defesa e argumentos: muitas pessoas são incapazes de garantir a plenitude dos seus direitos, porque não sabem como fazer o registro civil (“Convém ressaltar, inicialmente, a influência da falta de informações na manutenção do grande número de brasileiros sem documentação pessoal.” - trecho do 2.º parágrafo do texto da Mariana da Costa)

consequências: sem o registro civil, os cidadãos não podem ter acesso a programas sociais e nem podem obter o título de eleitor (“Contudo, indo de encontro à definição de Marshall, a ausência do registro civil priva o indivíduo de gozar dos dois últimos direitos descritos, uma vez que, sem esse documento, ele não pode se cadastrar em programas de cunho social nem obter o título de eleitor.” - trecho do 3.º parágrafo do texto da Mariana da Costa)

solução: organização de comitivas que vão ao encontro das pessoas que não tenham certidão de nascimento para informá-las como obtê-la. (“Para isso, com o objetivo de informar a população carente sobre as formas de receber seu registro civil, cabe ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos – órgão responsável pela implementação de políticas referentes às minorias sociais – organizar comitivas de funcionários para visitar as casas dessa parcela populacional e abordar os caminhos de se obter essa documentação.” - trecho do 4.º parágrafo do texto da Mariana da Costa)

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Referências Bibliográficas

BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A redação no Enem 2022: cartilha do participante. Brasília, 2022.

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).