Tipos de Intertextualidade

Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora de Língua Portuguesa e Literatura

Os tipos de intertextualidade são oito: alusão, citação, epígrafe, paródia, paráfrase, pastiche, bricolagem e tradução. Cada um dos tipos de intertextualidade mostra a forma como um texto se relaciona com outro texto.

A intertextualidade é a semelhança que um texto apresenta com relação a outro texto, que usa como modelo e, por esse motivo, é chamado de texto-fonte.

1. Alusão

O termo “alusão” é derivado do latim (alludere) e significa “para brincar”. É também chamado de “referência”, de forma que faz uma referência explícita ou implícita ao texto-fonte.

Exemplo de alusão:

Ele me deu um “presente de grego”. (a expressão faz alusão à Guerra de Troia, indicando um presente mal e que pode trazer prejuízo)

2. Citação

O termo “citação” deriva do latim (citare) e significa “convocar”. Nesse caso, utilizam-se as próprias palavras de um texto-fonte, referida através de aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor. Do contrário, se a citação não apresentar a fonte, ela é considerada “plágio”.

Exemplo de citação:

Em entrevista à revista Veja (1994) Milton Santos aponta: “A geografia brasileira seria outra se todos os brasileiros fossem verdadeiros cidadãos. O volume e a velocidade das migrações seriam menores. As pessoas valem pouco onde estão e saem correndo em busca do valor que não têm.”.

3. Epígrafe

O termo “epígrafe” vem do grego (epigraphé), que significa “escrita na posição superior”. Ela é muito utilizada em artigos, resenhas, monografias, e surge acima do texto, indicado por uma frase semelhante ao conteúdo que será desenvolvido.

Exemplo de epígrafe utilizada num artigo sobre educação:

“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” (Paulo Freire, “Pedagogia do Oprimido”)

4. Paródia

O termo “paródia” vem do grego (parodès) e significa “um canto (poesia) semelhante a outro”. Trata-se de uma imitação burlesca muito utilizada nos textos humorísticos, onde o sentido é levemente alterado, geralmente pelo tom crítico e o uso da ironia.

Exemplo de paródia:

TEXTO-FONTE (original)

"Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.” (Canção do Exílio, de Gonçalves Dias)

TEXTO PARODIADO

"Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza. (...)
Eu morro sufocado em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas são mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia." (Canção do Exílio, de Murilo Mendes)

5. Paráfrase

O termo “paráfrase” vem do grego (paraphrasis) e significa a “reprodução de uma sentença”. Ela faz referência um texto, reproduzindo outro sem que a ideia original seja alterada.

Exemplo de paráfrase:

TEXTO-FONTE (original)

"Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores." (Canção do Exílio, de Gonçalves Dias)

TEXTO PARAFRASEADO

"Do que a terra mais garrida,
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida no teu seio mais amores." (Hino Nacional)

6. Pastiche

Diferente da paródia, o pastiche artístico e literário trata-se da imitação de um estilo ou gênero e, normalmente, não apresenta um teor crítico ou satírico. O termo “pastiche” é derivado do latim (pasticium), que significa “feito de massa ou amálgama de elementos compostos”, uma vez que produz um texto novo, oriundo de vários outros.

Exemplo de Pastiche:

TEXTO-FONTE (original)

“Pois é. Tenho dito. Tudo aleivosia que abunda nesses cercados. Maisquenada. Foi assim mesmo, eu juro, Cumpadre Quemnheném não me deixa mentir e mesmo que deixasse, eu mentia. Lorotas! Porralouca no juízo dos povos além das Gerais! Menina Mágua Loura deu? Não deu.(...)” (Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa)

TEXTO COM PASTICHE

“Compadre Quemnheném é que sabia, sabença geral e nunca conferida, por quem? Desculpe o arroto, mas tou de arofagia, que o doutor não cuidou no devido. Mágua Loura era a virge mais pulcra das Gerais. Como a Santa Mãe de Deus, Senhora dos Rosários, rogai por nós! (...)” (Carlos Heitor Cony, Folha de S. Paulo, 11/09/1998)

7. Bricolagem

Ocorre por meio da “colagem” de diversos textos, ou seja, um texto é constituído a partir de fragmentos de outros. É um tipo de intertextualidade muito utilizado na música e na pintura.

Exemplo de bricolagem:

TEXTO-FONTE (original)

"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer." (Amor é Fogo que Arde sem se Ver, de Camões)

TEXTO COM BRICOLAGEM

"É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece

O amor é o fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer" (trecho da música Monte Castelo, da banda Legião Urbana)

8. Tradução

O termo “tradução” deriva do latim (traducere) e significa converter, mudar, transferir, guiar, de forma que transforma um texto de uma língua em outra, fazendo uma espécie de recriação do texto-fonte.

Exemplo de tradução:

TEXTO-FONTE (original)

“Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.” (Che Guevara)

TEXTO TRADUZIDO

“É preciso ser duro, mas nunca sem perder a ternura.”

Intertextualidade explícita e implícita

De acordo com a referência utilizada pela intertextualidade, ela é dividida em dois tipos.

  1. Intertextualidade explícita: nota-se logo o intertexto na superfície textual, ou seja, geralmente há citação da fonte original;
  2. Intertextualidade implícita: não se encontra de imediato o intertexto aplicado, ou seja, é necessária maior atenção do leitor, uma vez que não aparece a citação do texto-fonte.

Exemplo de intertextualidade explícita

Trecho do poema de Sete Faces, de Carlos Drummond de Andrade:

“Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.”

Trecho do poema Até o Fim, de Chico Buarque:

“Quando nasci veio um anjo safado
O chato do querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser errado assim”

Exemplos de intertextualidade implícita

Trecho da música Ai que Saudade da Amélia, de Ataulfo Alves e Mário Lago:

“Ai meu Deus que saudade da Amélia
Aquilo sim que era mulher
As vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado dizia
Meu filho o que se há de fazer
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia que era a mulher de verdade”

Trecho da Música Desconstruindo Amélia, de Pitty:

“E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa
Assume o jogo
Faz questão de se cuidar
Nem serva nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é o também”

Continue aprendendo com:

Pratique com: Exercícios sobre intertextualidade (com gabarito)

Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).
Daniela Diana
Edição por Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.