Como fazer uma boa redação (com passo a passo e exemplos)

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora de Língua Portuguesa e Literatura

Para fazer uma boa redação é importante fazer um planejamento, que requer reflexão sobre o tema e estruturação de ideias.

Os passos seguintes podem ajudar a produzir o seu texto:

  1. Reflita sobre o tema da redação
  2. Desenvolva as ideias iniciais
  3. Estruture a sua redação
  4. Utilize conectivos e seja coerente
  5. Revise o que escreveu

1. Reflita sobre o tema da redação

Reflita sobre o tema que está sendo proposto. Faça um esboço, mesmo mental, sobre o que você sabe e o que você pensa sobre o mesmo. Tome nota de todas as ideias que vierem à cabeça, escreva tudo o que se lembrar, sem se preocupar em colocar no papel de forma bem elaborada.

Se tiver tempo, fazer um rascunho e enumerar as principais ideias, é uma boa maneira de começar. Fazer perguntas e respondê-las é um exercício que pode ajudar você a montar um esquema.

Exemplo:

Vamos pensar no tema “O papel da sociedade no combate da violência nas escolas”:

  • O quê? Violência nas escolas.
  • Como ela acontece? Atritos entre alunos ou entre alunos, professores e funcionários.
  • Por que ela acontece? Falta de respeito, de limites etc.
  • Quando ou desde quando ela acontece? Cada vez há mais casos de violência nas escolas.
  • Onde ela acontece? Acontece dentro ou fora das escolas.
  • O que eu penso sobre isso? É um problema grave, porque afeta a vida escolar e a vida social dos estudantes também, por isso, é preciso refletir sobre medidas eficazes de prevenção.
  • O que pode ser feito? A escola deve envolver a comunidade escolar para momentos de conscientização que incentivem o respeito pelas pessoas.

Desta forma, você delimita a sua abordagem e, com isso, é capaz de apresentar argumentos convincentes sobre os pontos que pretende expor no seu texto.

Além disso, essa organização permite que você não corra o risco de fugir do tema e consiga controlar melhor o seu tempo.

Aproveite para pensar em exemplos, dados históricos ou uma citação que estejam relacionados com o tema da redação. Utilize-os ao longo do seu texto e enriqueça-o.

É importante entender a diferença entre tema e assunto. O tema é uma abordagem que pode ser feita de um assunto. No exemplo acima, temos

  • Assunto: violência das escolas
  • Tema: o papel da sociedade no combate da violência nas escolas
  • Outros possíveis temas: formação dos professores para enfrentar a violência nas escolas, os fatores que levam os alunos a serem violentos na escola.

2. Desenvolva as ideias iniciais

Depois de ter organizado as suas ideias no passo anterior, o momento de escrever o seu texto se torna muito mais fácil.

Neste passo, o seu esboço mental, ou rascunho, começa a se transformar em parágrafos com ideias desenvolvidas. Acrescente os exemplos, os dados históricos ou a citação que conseguiu reunir. Todos eles são recursos que valorizam muito um texto, além do que dão mostras de que você tem conhecimentos.

Exemplo:

A violência nas escolas acontece entre alunos ou entre alunos, professores e funcionários. Esse problema tem sido cada vez mais frequente e, por isso, requer um olhar atento para as suas causas. A falta de limites dos estudantes no ambiente familiar é uma delas.

As vítimas da violência escolar são atacadas muitas vezes na escola, mas também fora dela. Exemplo disso são as redes sociais, em que os agressores aproveitam-se para pressionar as vítimas e, com isso, deixá-las cada vez mais fragilizadas.

A violência nas escolas é um problema grave, porque afeta a vida escolar e a vida social dos estudantes também, por isso, é preciso refletir sobre medidas eficazes de prevenção.

A escola deve envolver a comunidade para momentos de conscientização que incentivem o respeito pelas pessoas. Com essa iniciativa, talvez seja possível sensibilizar a população para a necessidade de assumir o compromisso em acabar com esse tipo de violência, que é um problema de cada um de nós.

3. Estruture a sua redação

A maior parte das redações que você escreve é dissertativa-argumentativa. Esse é o tipo de redação exigido no Enem.

A redação dissertativa-argumentativa é aquela em que você defende uma ideia através de argumentos. Na sua estrutura ela deve conter introdução, desenvolvimento e conclusão.

1. A INTRODUÇÃO é usada para contextualizar o leitor sobre o tema da redação. Após ler a introdução, o leitor saberá as ideias que serão abordadas no seu texto, inclusive qual é a sua opinião sobre o tema.

A introdução não precisa ser longa, afinal, você apenas deve deixar claro para o leitor as ideias, sem expor os seus argumentos.

2. O DESENVOLVIMENTO é usado para argumentar sobre cada uma das suas ideias. O ideal é apresentar dados que mostrem o seu conhecimento, pois essa é uma forma de convencer o leitor.

O desenvolvimento é a parte mais longa da redação, pois é nele que você defenderá as suas ideias com argumentos.

3. A CONCLUSÃO é usada para apresentar ao leitor as consequências dos seus argumentos. Além disso, deve propor uma solução para o problema apresentado no tema.

A conclusão não deve ser longa. Em média, ela costuma ter o mesmo número de parágrafos que a introdução contém.

4. Utilize conectivos e seja coerente

Uma boa redação precisa apresentar uma sequência lógica. Para isso, utilizamos conectivos, a fim de garantir que as ideias não fiquem soltas e que o texto não seja um simples emaranhado de frases.

"Assim, entretanto, dessa forma, mas" são termos utilizados para oferecer ao texto uma maior ligação entre as frases e as ideias.

Além de apresentar uma sequência lógica, o seu texto tem que ser coerente, ou seja, não pode apresentar ideias que se contradigam. Se você for contraditório, não conseguirá defender suas ideias, e o seu texto será confuso e incoerente.

5. Revise o que escreveu

Para finalizar, revise o que escreveu fazendo uma leitura atenta.

Isso é muito importante, porque com a leitura final você pode identificar erros de concordância, falta de pontuação, ou um deslize qualquer cometido por falta de atenção.

A revisão final dá a você a oportunidade de corrigir certos erros e, assim, não perder pontos na redação por descuidos.

Exemplos de redações prontas

Amostras de redações nota 1000 do Enem 2018 com o tema "Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet":

Redação de Mattheus Martins Wengenroth Cardoso

"O advento da internet possibilitou um avanço das formas de comunicação e permitiu um maior acesso à informação. No entanto, a venda de dados particulares de usuários se mostra um grande problema. Apesar dos esforços para coibir essa prática, o combate à manipulação de usuários por meio de controle de dados representa um enorme desafio. Pode-se dizer, então, que a negligência por parte do governo e a forte mentalidade individualista dos empresários são os principais responsáveis pelo quadro.

Em primeiro lugar, deve-se ressaltar a ausência de medidas governamentais para combater a venda de dados pessoais e a manipulação do comportamento nas redes. Segundo o pensador Thomas Hobbes, o Estado é responsável por garantir o bem-estar da população, entretanto, isso não ocorre no Brasil. Devido à falta de atuação das autoridades, grandes empresas sentem-se livres para invadir a privacidade dos usuários e vender informações pessoais para empresários que desejam direcionar suas propagandas. Dessa forma, a opinião dos consumidores é influenciada, e o direito à liberdade de escolha é ameaçado.

Outrossim, a busca pelo ganho pessoal acima de tudo também pode ser apontado como responsável pelo problema. De acordo com o pensamento marxista, priorizar o bem pessoal em detrimento do coletivo gera inúmeras dificuldades para a sociedade. Ao vender dados particulares e manipular o comportamento de usuários, empresas invadem a privacidade dos indivíduos e ferem importantes direitos da população em nome de interesse individuais. Desse modo, a união da sociedade é essencial para garantir o bem-estar coletivo e combater o controle de dados e a manipulação do comportamento no meio digital.

Infere-se, portanto, que assegurar a privacidade e a liberdade de escolha na internet é um grande desafio no Brasil. Sendo assim, o Governo Federal, como instância máxima de administração executiva, deve atuar em favor da população, através da criação de leis que proíbam a venda de dados dos usuários, a fim de que empresas que utilizam essa prática sejam punidas e a privacidade dos usuários seja assegurada. Além disso, a sociedade, como conjunto de indivíduos que compartilham valores culturais e sociais, deve atuar em conjunto e combater a manipulação e o controle de informações, por meio de boicotes e campanhas de mobilização, para que os empresários sintam-se pressionados pela população e sejam obrigados a abandonar a prática.

Afinal, conforme afirmou Rousseau: “a vontade geral deve emanar de todos para ser aplicada a todos”."

Redação de Luisa Sousa Lima Leite

"A Revolução Técnico-científico-informacional, iniciada na segunda metade do século XX, inaugurou inúmeros avanços no setor de informática e telecomunicações. Embora esse movimento de modernização tecnológica tenha sido fundamental para democratizar o acesso a ferramentas digitais e a participação nas redes sociais, tal processo foi acompanhado pela invasão da privacidade de usuários, em virtude do controle de dados efetuado por empresas de tecnologia. Tendo em vista que o uso de informações privadas de internautas pode induzi-los a adotar comportamentos intolerantes ou a aderir a posições políticas, é imprescindível buscar alternativas que inibam essa manipulação comportamental no Brasil.

A princípio, é necessário avaliar como o uso de dados pessoais por servidores de tecnologia contribui para fomentar condutas intolerantes nas redes sociais. Em consonância com a filósofa Hannah Arendt, pode-se considerar a diversidade como inerente à condição humana, de modo que os indivíduos deveriam estar habituados à convivência com o diferente. Todavia, a filtragem de informações efetivada pelas redes digitais inibe o contato do usuário com conteúdos que divergem dos seus pontos de vista, uma vez que os algoritmos utilizados favorecem publicações compatíveis com o perfil do internauta. Observam-se, por consequência, restrições ao debate e à confrontação de opiniões, que, por sua vez, favorecem a segmentação da comunidade virtual. Esse cenário dificulta o exercício da convivência com a diferença, conforme defendido por Arendt, o que reforça condutas intransigentes como a discriminação.

Em seguida, é relevante examinar como o controle sobre o conteúdo que é veiculado em sites favorece a adesão dos internautas a certo viés ideológico. Tendo em vista que os servidores de redes sociais como “Facebook“ e “Twitter” traçam o perfil de usuários com base nas páginas por eles visitadas, torna-se possível a identificação das tendências de posicionamento político do indivíduo. Em posse dessa informação, as empresas de tecnologia podem privilegiar a veiculação de notícias, inclusive daquelas de procedência não confirmada, com o fito de reforçar as posições políticas do usuário, ou, ainda, de modificá-las para que se adequem aos interesses da companhia. Constata-se, assim, a possibilidade de manipulação ideológica na rede.

Portanto, fica evidente a necessidade de combater o uso de informações pessoais por empresas de tecnologia. Para tanto, é dever do Poder Legislativo aplicar medidas de caráter punitivo às companhias que utilizarem dados privados para a filtragem de conteúdos em suas redes. Isso seria efetivado por meio da criação de uma legislação específica e da formação de uma comissão parlamentar, que avaliará as situações do uso indevido de informações pessoais. Essa proposta tem por finalidade evitar a manipulação comportamental de usuários e, caso aprovada, certamente contribuirá para otimizar a experiência dos brasileiros na internet."

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Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).